Capítulo 7

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SORAYA

Data: 19/8/2023
Local: Brasília/DF
De: Saulo Bittencourt Tavares
Para: Soraya Vieira Thronicke

O perdão é um catalisador que cria a ambiência necessária para uma nova partida, para um reinício.

Com amor, S̶a̶u̶l̶o̶
Simone.

Carlos: - Amor?

Escondo a carta em meu decote, vejo ele entrar dentro do quarto, um pouco abatido.

Soraya: - O que houve?

Carlos: - Não foi nada, está tudo bem - deitou-se na cama.

Soraya: - Você nunca chega em casa assim... Aconteceu alguma coisa, não foi? - demonstrei preocupação.

Carlos: - Eu perdi o caso.

Soraya: - Ah, amor... Isso acontece, infelizmente.

Carlos: - Realmente. Era um processo que eu estava confiante, mas são situações que acontecem, é normal - sentou na cama - o que estava fazendo sozinha no quarto?

Não podia dizer que estava lendo as cartas, também não poderia dizer que recebi uma nova...

Soraya: - Estava vendo algumas coisas do cartão.

Carlos: - Está querendo fazer mais contas, onça? - sorriu.

Soraya: - Estou organizando meus gastos, é diferente - me deitei na cama.

Carlos: - Apesar de ser meu trabalho... eu acho é pouco que ele tenha ido preso.

Soraya: - Quantos anos? - Olhei para ele.

Carlos: - Só 20, mas deveria ficar até morrer.

Soraya: - Não sei qual a graça de trabalhar para defender bandido.

Carlos: - A graça você sente quando pega o meu cartão - Me olhou aos risos.

Soraya: - Hahaha, engraçadinho...

Carlos: - Vem cá - Segurou minha cintura e me trouxe para perto dele.

Soraya: - Ui!

Carlos: - Posso te falar uma coisa? - Sussurrou em meu ouvido.

Soraya: - Pode - sorri.

Carlos: - Eu te amo.

Olhei nos olhos dele com o desejo de corresponder ao mesmo amor, mas infelizmente eu jamais amarei alguém como um dia amei ela. Meu amor a César tem reciprocidade, a admiração e o cuidado também, mas nunca será o mesmo que foi com ela.

Soraya: - Eu te quero muito bem, César - o Abracei.

Ele deu um sorriso de lábios ao sair do meu abraço, segurou os lados da minha face e observou meus detalhes.

Carlos: - Quero pedir que me permita sair hoje.

Soraya: - Para onde vai? - Segurei suas mãos, as mesmas ainda estão em minha face.

Carlos: - Eu preciso resolver um outro processo no interior de Goiás, mas amanhã estarei em casa.

Confirmei, dando a permissão que precisava.

Soraya: - Você não precisa pedir, meu amor.

Carlos: - Preciso, óbvio que preciso! Eu vou dormir fora de casa, amor.

Soraya: - Mas é a trabalho, não vejo necessidade.

Carlos: - De qualquer forma, estarei saindo de viagem agora à tarde. Assim que eu chegar, eu ligo para você, está bem? - Segurou minhas mãos e beijou o dorso de cada uma.

Soraya: - Avise-me. Não esqueça.

Carlos: - Vou tomar um banho e arrumar algumas coisas, tá?

Soraya: - Certo.

Ele levantou-se da cama, tirou sua camisa de botões e colocou o telefone na cama. Abriu o cinto e foi até o banheiro.

Eu peguei aquele telefone, desbloqueei com minha digital e fui até o whatsapp.

Simone: - Sinto muito pela derrota.
Simone: - Mas você foi impecável.

Observei a conversa dos dois, rolei um pouco mais para baixo.

Carlos: - Soraya está um pouco triste nesses dias, estou preocupado.

Simone: - O que aconteceu?

Carlos: - Eu também não sei, ela não falou nada.
Carlos: - Tenho medo de ter sido algo comigo.

Simone: - Você fez algo para ela?

Carlos: - Não, pelo menos desconheço se eu fiz algo que a tenha deixado chateada.

Observei outras conversas e não, não foi ele, o motivo da minha tristeza envolvia a pessoa com quem ele compartilhava a informação, o amor que eu não possuía mais em meus braços.

Escutei o chuveiro ligar e tive uma ideia.
Tirei print da foto de perfil dela, pegando seu número de telefone.
Enviei em meu privado, apaguei a mensagem e apaguei a foto do meu telefone.

Deixei o celular dele no mesmo lugar.
Salvei o número, apaguei o print e tive coragem para enfim voltar a falar com o grande amor da minha vida.

Soraya: - Me encontre no mesmo lugar de sempre, hoje, às 21:30.

Ela não visualizou de imediato.
Escutei o chuveiro desligar depois de 15 minutos, ela ainda não respondeu.
César sai do banho, estava com uma roupa comum de casa.
O auxílio para arrumar suas coisas.
18 horas, César me dá um beijo, entra em seu carro e se despede.
Meu telefone vibra.

Simone: - Perdão, com quem eu falo?

Minha foto de perfil é desativada para quem não tem meu número salvo e o nome de contato não está com o meu.

Soraya: - Soraya.
Soraya: - Me encontre onde costumávamos nos encontrar todas as noites no horário que falei.

Simone: - Desculpe-me, Soraya, mas eu não possuo interesse em encontrá-la. Eu não vou me aproximar de você estando casada com uma pessoa que considero irmão.

Soraya: - Simone, apenas apareça hoje às 21:30.
Soraya: - Me garanta que estará lá, por favor.

Simone: - Soraya, entenda por favor.

Soraya: - Me dê essa garantia, Simone. Me entregue essa garantia.

Entro em casa, tomo meu banho e visto uma roupa atraente, um vestido preto colado em meu corpo. Costas nuas, ombros e bíceps cobertos com a manga relativamente longa, ia até meus cotovelos.

Pego meu carro, ligo meu telefone.
Ela apenas visualizou a mensagem, não respondeu.
Nove e trinta e cinco, já estou aqui.
Nenhum sinal de Simone, mas a saudade e o amor continuam.

Desço do carro, observo o chalé escondido que costumávamos nos encontrar, mas ela ainda não está aqui.
Escuto o barulho de um carro, luzes distantes me atingem, vejo um veículo escuro se aproximando, era ela.

Ela desce do carro, estava vestida com um macacão azul escuro, ele estava colado em seu tronco, mas folgado em suas pernas. Estava linda apesar de não poder apreciar seu corpo pela escuridão.

Ela fechou a porta do carro e observou o chalé, me olhou e ficou séria.

Soraya: - Boa noite, Simone.

Simone: - Por que você pediu para eu vir?

Soraya: - Eu preciso conversar com você.

Simone: - Você sabe o que eu acho disso, né?

Soraya: - Me perdoe por todas as vezes que um dia demonstrei insatisfação, pela atitude infantil que tive com você naquele dia, na carta que escrevi para você, Simone.

Ela olhou os meus olhos com seriedade, deu dois passos em minha direção e pegou minha direita, colocou a mão em um dos bolsos e destrancou a porta.

Amor, ódio e o fio da morte (SIMORAYA)Onde histórias criam vida. Descubra agora