Capítulo Três

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Victor Jones:

Cheguei ao pátio e vi meus colegas se reunindo, aproveitando o intervalo. Tentei agir normalmente, mas minha mente ainda estava presa nas últimas horas. Sentei-me em um banco, tentando recuperar o fôlego e organizar meus pensamentos.

Enquanto observava o movimento ao meu redor, percebi Carla se aproximando.

— Victor, onde você esteve? Parecia que tinha sumido — ela disse, sentando-se ao meu lado.

— Ah, tive que resolver umas coisas... — respondi, tentando não parecer muito agitado. — E você, como está indo o dia?

Carla me olhou com desconfiança, mas decidiu não insistir.

— Está tudo bem, acho. As aulas estão meio chatas, mas é sempre assim no começo, né? — ela disse, dando de ombros.

Assenti, tentando me concentrar na conversa. Mas minha mente continuava voltando para aquelas estranhas criaturas e as pessoas que pareciam saber tanto sobre elas.

— Sabe de uma coisa? — Carla disse, quebrando meu devaneio. — Você parece um pouco diferente hoje. Está tudo bem mesmo?

— Sim, está tudo bem. Só um pouco cansado, talvez — respondi, tentando forçar um sorriso.

— Você vive desse jeito, apenas quando não está sendo você — disse Carla. — Mas acho que deveria se acalmar um pouco. Está tão tenso que até está atraindo mais olhares do que o normal.

Olhei ao redor e realmente era verdade. Muitos alunos olhavam em nossa direção como se esperassem que eu fosse ter um surto a qualquer momento. Até a moça da cantina, que parecia estar esperando por isso há um bom tempo, me observava com expectativa.

Essa parte me magoou um pouco mais do que eu queria admitir.

— Talvez você tenha razão — disse, tentando relaxar os ombros e respirar fundo. — É só o primeiro dia, né? Tudo vai se ajeitar.

Carla assentiu, mas seu olhar permaneceu preocupado.

— Só quero que você fique bem. Se precisar de alguma coisa, pode contar comigo, tá?

— Obrigado, Carla. Vou tentar me acalmar e focar nas aulas — respondi, forçando um sorriso.

Enquanto caminhamos para a sala de aula, fiz um esforço consciente para me acalmar. Precisava encontrar uma maneira de lidar com todas essas novas informações e sensações estranhas sem chamar tanta atenção. Já era difícil o suficiente ser "o garoto esquisito" sem esses novos elementos complicando ainda mais a minha vida.

Ao entrar na sala, sentei-me e tentei concentrar minha mente na aula. O professor começou a falar, e eu me forcei a prestar atenção, anotando o que ele dizia. As palavras começaram a fazer sentido, e aos poucos, minha mente se acalmou.

Ainda assim, uma parte de mim não conseguia deixar de pensar nos acontecimentos do dia e nas figuras misteriosas que agora faziam parte da minha vida. Precisava descobrir mais sobre o que estava acontecendo e, principalmente, por que eu estava envolvido nisso tudo. Mas, por enquanto, focar na rotina escolar seria meu primeiro passo para encontrar um pouco de normalidade em meio ao caos.

Mas parte de mim queria ter ido atrás de Merlim, Anna e Duncan, para saber mais sobre o Necros ou observar como eles lutavam. Eram tão destemidos e determinados que me deixaram com vontade de que aquilo fosse real para mim também.

Senti uma mistura de inveja e admiração ao pensar neles. A ideia de enfrentar criaturas sobrenaturais e ser parte de algo maior parecia muito mais empolgante do que a rotina escolar. Mas, ao mesmo tempo, a realidade dessa nova dimensão me assustava. Afinal, eu mal conseguia lidar com a vida normal; como poderia lidar com demônios e missões secretas?

O Guardião | livro 1 : Espírito De LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora