Capítulo Oito

225 101 56
                                    

Victor Jones:

O ar da manhã estava particularmente agradável, e as torradas preparadas pela minha mãe, com sua mistura perfeita de manteiga, exalavam um cheiro irresistível. O sabor dourado e deslumbrante das torradas preenchia o ambiente com um aroma de dar água na boca, tornando cada mordida um prazer silencioso, mas profundo.

Enquanto saboreava o café da manhã em casa, minha mente não conseguia se desprender do encontro com Anna e das revelações sobre magia e dimensões alternativas. A ideia de que eu poderia viajar para aquele lugar se a mestra dela tentasse se comunicar comigo parecia tão surreal quanto um sonho. Eu desejava intensamente que tudo aquilo fosse real, apenas para ter a chance de vivenciá-lo.

Não era apenas uma questão de querer ir ou de desejar ser aceito, de não ser mais o garoto estranho da cidade. Sentia, no fundo do meu coração, que aquele era o meu lugar. A ansiedade tomava conta de mim, a ponto de eu ficar olhando ao redor, esperando que alguma magia aparecesse e me levasse para longe, mudando para sempre as memórias da minha família de para onde eu iria.

Eu não queria simplesmente fugir; queria encontrar um lugar onde realmente pertencesse.

Minha mãe, percebendo minha inquietação, olhou para mim com preocupação.

— Alguma coisa está te incomodando, querido? — ela perguntou com carinho.

Balancei a cabeça, tentando encontrar as palavras certas para explicar o que tinha acontecido comigo nos últimos dias. Afinal, não tinha contado nada para ela até então. Depois do meu desmaio de ontem, ela estava extremamente ansiosa. Assim que me viu, veio medir minha temperatura e insistiu para que eu tomasse mais remédios. Precisava contar tudo, mas de um jeito que não a fizesse pensar que eu tinha surtado de vez.

— É só que... estava pensando longe, mãe. Conheci alguém que me contou coisas incríveis. Ele parecia ser como eu — falei quase como um murmúrio.

— Em que sentido? — ela perguntou, ainda com um sorriso.

— Em ser... estranho — respondi, fazendo com que ela franzisse a testa.

— Querido, você não é estranho — minha mãe disse docemente. — Me diga, quem falou isso?

— Mãe, você sabe perfeitamente o que o pessoal diz de mim na cidade ou no colégio — falei, sentindo a familiar dor das palavras dos outros.

— Eles são os estranhos, você é maravilhoso — minha mãe disse, com uma convicção que fez meus olhos se encherem de lágrimas.

— Mãe... — comecei, mas ela acenou com a mão, interrompendo-me.

— Sabe que tenho razão, Victor. Nunca pense que você é o estranho em qualquer situação, você apenas é uma pessoa imperativa — minha mãe disse. — Sei que deve pensar isso por causa das coisas que já aconteceram... apenas esqueça isso e seja você mesmo, com suas histórias e imaginação.

Suas palavras, cheias de ternura e compreensão, tocaram meu coração. Apesar das minhas dúvidas e dos meus medos, senti um conforto imediato em sua aceitação incondicional.

Decidi deixar o assunto de lado e terminei meu café da manhã em silêncio, mas ainda esperava por algum tipo de sinal de magia ao redor da casa ou de mim mesmo.

Ouvi os passos de Max e, então, minha mãe soltou uma risada escandalosa.

— Max, entrou para o circo? — ela perguntou, parando de rir.

— Mãe, temos leite de soja? Gostaria de um pouco de leite de soja. Meu professor de teatro disse que seria bom começar a tomar para viver melhor o meu personagem — Max disse, enquanto eu levantava os olhos em sua direção e me assustava ao vê-lo.

O Guardião | livro 1 : Espírito De LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora