Capítulo Um

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Victor Jones:

Ouvi batidas violentas contra a porta do meu quarto, despertando-me assustado. Olhei ao redor, confuso.

— Victor, acorde! Levante-se! Agora! — Minha mãe bateu na porta novamente. — Você vai acabar se atrasando para a escola.

— Já acordei! — Gritei, enquanto ouvia seus passos se afastando e descendo as escadas em direção à cozinha. Ela continuava gritando para que meu irmão e eu nos levantássemos e fôssemos logo para a mesa comer.

Virei de costas, tentando me lembrar do sonho que estava tendo. Era um sonho estranho. Havia uma moça e várias pessoas atrás dela, olhando para mim com olhos brilhantes e expressões sérias, dizendo algo que eu não conseguia entender.

Por dentro, uma estranha sensação me invadiu: já tinha visto esse sonho antes, mas não conseguia me lembrar onde.

Outro grito da minha mãe veio do andar de baixo.

— Vocês já se levantaram? — Ela perguntou. — Se eu tiver que subir os degraus novamente e nenhum dos dois estiver de pé, vou usar um balde com água fria em cada um de vocês.

— Quase, preciso de mais alguns minutos — Max respondeu, passando pela minha porta.

— Bem, andem depressa! Quero que você ou seu irmão cuidem do bacon enquanto eu preparo o meu shake — Minha mãe disse. — Tive uma ótima ideia para que os dois experimentem.

Levantei-me lentamente e comecei a procurar meus óculos. Encontrei-os debaixo da cama e os coloquei. Ao abrir a cortina, vi que seria mais um dia ensolarado e, talvez, poderia ser positivo novamente.

— Esse dia vai ser melhor que o anterior — falei para mim mesmo.

Era o que eu esperava, para ser sincero. Desde sempre, as coisas para mim têm sido, digamos, estranhas.

Eu poderia escolher qualquer ponto da minha vida para provar isso. Coisas ruins sempre me acontecem em excursões ou quando menos espero. Por exemplo, na escola da quinta série, quando fomos para o campo de batalha de Saratoga. Tive um pequeno acidente com um canhão da Revolução Americana, destruindo uma parede. E, mesmo não estando apontando para o ônibus de turismo que sofreu um pequeno arranhão ou no caso perdeu o parachoque, acabei de castigo e minha família pagou uma enorme indenização.

E antes disso, na escola da quarta série, fizemos um passeio pelos bastidores do Mundo Marinho. De alguma forma, acionei a alavanca errada no passadiço, e minha família e amigos tomaram um banho inesperado. E antes disso... Bem, você já pode imaginar.

Segundo meus amigos, eu era uma lenda em nossa pequena cidade, mas não por bons motivos. Famoso por coisas estranhas que me aconteciam ou por causar grandes confusões que ninguém sabia ao certo como podiam ocorrer.

Os orientadores, que sempre começavam querendo ajudar, acabavam por esperar que eu nunca mais aparecesse em suas salas ou que minha mãe jamais ligasse novamente.

Essas situações sempre me faziam mudar de escola. No começo, eram muitas desculpas por parte dos meus pais, até que começaram a vir apenas da minha mãe. Afinal, meu pai já havia falecido.

Soltei um suspiro enquanto começava a me vestir. Saí em direção ao banheiro, escovei os dentes e arrumei o cabelo. Logo depois, fui para a cozinha.

Entrei na cozinha quando Max estava virando o bacon e minha mãe ligava o liquidificador para fazer mais uma de suas misturas.

Minha mãe se orgulhava de dizer que era uma mestre em suas misturas. Posso afirmar que elas são muito interessantes, mas nunca diria isso a ela, ou ela seria capaz de me colocar de castigo, me fazendo tomar essas misturas até eu me formar na faculdade. Ela era diretora de uma empresa chamada Grunnings, que fabricava equipamentos dos quais eu nunca soube a finalidade. Ela podia parecer gentil por fora, mas por dentro era quase assustadora. Além de mim, havia meu irmão Max, e, na minha opinião, não havia pessoa mais complicada do que ele. Às vezes, ele era o melhor do mundo; outras vezes, o pior, dependendo de seu humor e de seus interesses entre esportes e o clube de teatro.

O Guardião | livro 1 : Espírito De LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora