16 - Lyra... meu pai

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— Você é uma garota e sempre tá com algum livro.

— Ei, isso é mentira.

— O que tem agora na sua bolsa que você trouxe?

— Não vale, falei que ia ler aqui. — Então ele continua.

— Dia da praia?

— Aquele livro estava na minha bolsa fazia tempos...

— Quando fomos no cinema? — Ele agora me olha esperando uma resposta.

— Eu tinha acabado de comprar. —  Minha voz não sai por pouco como um gaguejo, eu estava arrumando explicações, tentando pelo menos.

Ele joga a cabeça para trás de um jeito confortável fazendo com que seus cabelos ficassem bagunçados e gargalha tanto que se engasga com a areia que estava presente no ar fazendo a risada virar uma grande tosse seca. Bem feito, sua tosse contínua me faz rir e não tento segurar a gargalhada. 

Mordo outro morango e tiro um livro da minha bolsa, tentando não ligar para os olhares do menino ao meu lado que dizia algo como "eu falei" e "disse que você sempre tinha um livro na bolsa" 

— Vai acabar com os morangos desse jeito. — Escuto Ian dizer, mas ignoro e falo:

— Quando você vai colocar música? — Ele não diz nada além de virar e pegar seu celular, segundos depois a música havia começado a tocar.

— Obrigada. — Digo e volto ao meu livro que estava em minhas mãos, mas começo a pensar em Amy e resolvo perguntar a Ian.

— Amy sempre participou dessas competições de surfe? — Então ele vira e concorda com a cabeça.

— Todo ano, e ela sempre passa para a última fase, mas de alguma forma não ganha.

— Acho melhor mandar mensagem para ela, ver como ela tá.  — Ele assente e me observa novamente.

Agarro meu celular e desbloqueio a tela, entro em meus contatos e ligo para a mesma. Ela atende.

— Lyra? — Sua voz é pura melancólica.

— Amy, o que foi você está bem? — Escuto um suspiro.

— Não. — Ouço soluços vindo dela.

— Calma Amy, o que aconteceu? Tem haver com o torneio?

— Não, não tem nada haver. — Sua voz fica mais grave como se estivesse segurando o choro.

— Você quer que eu vá aí?

— Quero, Ian também precisa vir. — Ela diz dando espaço entre as palavras.

— Ei Amy, calma não desliga... — atarde demais e eu escuto a chamada se encerrar.

— Precisamos ir ver Amy agora. — O olhar de Ian não se apavora, ele apenas assente e começa a juntar suas coisas.

— Oi mãe... Sim, sim, estamos indo aí. — Ian agora parece com um olhar de preocupação, compreensível.

— Acho que é mais sério do que eu pensava — Ian diz e controlo minhas perguntas para mais tarde.

Avançamos andando (correndo) o mais rápido, até que me toquei que não sabia onde Amy estava, ela não havia falado muito menos a mãe de Ian, mas não foi preciso desconfiar de onde vinha o problema quando chegamos à beira da casa de Amy e haviam carros de polícia em frente.

As sirenes gritavam e as luzes vermelha e azul irradiavam o lugar, eram pessoas curiosas de um lado e por outro meus pais e Amy, olhei para Ian e fomos em direção a minha amiga.

— Lyra. — Ela estava em prantos, lágrimas escorriam por suas bochechas e seu nariz havia ficado em um tom avermelhado.

Amy me abraçou e eu devolvi o abraço, a apertando mais e mais.

— Amy, calma respira — Lhe mostrei como respirar para ela se acalmar.

— Inspira e expira — Imitei o movimento e ela foi seguindo se acalmando.

— Está melhor? — Perguntei ainda de mãos dadas com a mesma.

— Um pouco.  — Então não demorou muito até às lágrimas voltarem a aparecer e eu a envolver em um abraço novamente.

— Lyra...meu pai. — Ela chorava entre as palavras, como se fosse impossível dizer o que quer que seja em voz alta.

— Ei calma, não precisa falar se não conseguir. — Ela assentiu ainda no abraço e continuou sua fala.

— Ele batia em minha mãe esse tempo todo. — Meus olhos se arregalaram e senti as mãos de Amy começarem a tremer.

Enquanto ainda á apertei em um abraço carinhoso vi Ian e Isabel mãe do mesmo, uma vez no jantar da primeira vez que foram em minha casa havia dito que Ian era um agente importante da polícia, a ideia se concretizou firme na minha mente após ele andar entre alguns policiais como se já se conhecessem.

Olhei para meus pais e para Emma que me olhava de não tão longe no colo de meu pai, eles pareciam espantados, eu também estava.

Amy se recompôs e ficou ao meu lado cruzando seus dedos nos meus, e vimos o pai de Amy sair algemado e depois Ian falar algo para o mesmo e ir em direção a sua mãe que estava ainda pior que Amy, ele a abraçou e ficaram assim até o pai de Amy ser levado pela viatura.

Amy havia parado de chorar enquanto subimos as escadas em direção ao meu quarto.

— Obrigada por me deixar ficar aqui, não quero ficar em casa tão cedo. — Eu entendia Amy apesar de nunca ter passado por algo semelhante.

— Porque comigo Lyra? Será que Deus quis, porque ele não impediu?

— Eii, não pensa assim. — Disse. Minutos atrás eu teria interpretado a situação de forma diferente, mas sabia o que falar para ela, espírito santo havia explodido dentro de mim.

— Amy as vezes acontecem coisas que não queremos na nossa vida, acontecem coisas que nós perguntamos o "porque", mas nunca vamos encontrar as respostas aqui, mas sim em Deus, ele não nos quer ver mal, ele não quer que soframos, ele nos ama, mas mesmo assim acontecem coisas ruins porque estamos no mundo. Quanto mais estamos afastados de Deus ficamos frios de espírito e a tendência é coisas ruins chegarem, você consegue entender? — Ela assente olhando para si mesma.

— Obrigada Lyra. Não posso culpar Deus por coisas que meu pai fez.

— Tem outra coisa te chateando?

— Não. — Ela se deitou ao meu lado na cama e eu a abracei.

— Não quero pensar no que aconteceu, quero ignorar tudo e não existir.

— Mas você sabe que uma hora você vai ter de encarar tudo isso, não é?  — Tenho um silêncio como resposta.

— Você pode por momento guardar tudo bem no fundo Amy, soterrar tudo dentro de você, mas uma hora você vai precisar encarar tudo isso, se não vai chegar uma hora que seus sentimentos vão explodir e te dominar.

— Eu sei. Mas não quero pensar em nada agora, eu quero sumir.

— Quer ficar sozinha? — Eu a olho.

— Sim, eu só preciso de um tempinho.

— Tudo bem. — Eu me levanto e saio fechando a porta de meu quarto.


Continua...




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