22 - Garota com pijama de gatinho

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— Vou ver meu pai amanhã. — Amy e eu estávamos sentadas na varanda de casa, tendo conversas aleatórias sobre a vida.

— Como assim ver seu pai? 

— Vou visitar ele na cadeia. — Me senti uma boba depois que a resposta dela surgiu no ar, imagino o quão difícil tinha sido para ela dizer aquilo.

— Desculpa Amy eu... E como você está em relação a isso?

 — Acho que dar tempo ao tempo, to melhor sabe... — Então se passa mile segundos e ela desaba e começa chorar, eu a abraço e sinto o balançar da rede que estávamos.

— Por que parece que é tudo tão difícil para mim? 

— Às vezes a vida te da coisas para te tornar mais forte.

— Mas parece tão fácil as coisas, principalmente para você.  — Eu congelo, as coisas também não eram fáceis para mim, talvez agora, mas nem sempre tudo correu bem. Resolvo ignorar, Amy estava triste falando o que vinha em sua cabeça.

— Talvez... — Paro, Amy não queria resposta para os seus problemas, tudo que ela queria era um conforto. 

— Fala tudo que ta passando na sua cabecinha. — Digo e ela começa a falar tudo o que sente em relação a tudo. Quando ela termina enxuga seu rosto e se levanta e diz:

— Obrigada Lyra de verdade, mas agora preciso ir dormir amanhã tenho um longo dia.

— Vai lá. — Digo e a vejo sair em direção a sua casa.

Me levanto da rede e respiro fundo, me pego pensando em Amy, o que ela disse foi realmente da boca para fora? Vou em direção a cozinha e pego suco de abacaxi, me encosto em um dos armários, de imediato meu celular vibra o desbloqueio e vejo uma mensagem de Ian, ainda não sabia como ele tinha pego meu número

Desde que ele fora viajar a trabalho havíamos conversado pelo celular durante o tempo, as vezes ele me mandava mensagem contando sobre o que estava lendo, eu fazia o mesmo.


*Ian*

Não acredito que ele morreu no livro, deveria ter me avisado antes.


Dou um espaço de tempo até responder, então recebo uma ligação, era o mesmo garoto.

— Te falar e perder a graça da surpresa? Jamais. — Digo.

— Bem típico do seu tipinho mesmo.  

— Copiando minhas falas agora

— Jamais garota dos livros.

— Que horas são aí em? — Pergunto.

— Por que, te acordei? — Rio. — Capaz, ainda são 23:00 horas. — Encerro minha fala.

— São 20:00 horas aqui. — Ele diz parecendo cansado.

— Investigação nova? 

— Sim, um assassinato, mas até agora não encontramos nada que vá ajudar a resolver isso.

— Espero que encontrem. 

— Eu também. — Começo a subir as escadas em direção ao meu quarto.

— Lyra! é o Ian? — Aceno que sim com a cabeça, e Emma diz empolgada dando pequenos pulinhos: 

— Deixa eu falar com ele, deixa eu falar com ele, deixa, deixa. — Escuto uma risada abafada vindo de Ian e entrego o celular para Emma.

— Você acreditada que a Lyra não quis brincar de pirata... — Rio e vou até o banheiro do meu quarto, por causa da distância não consigo mais escutar a conversa. Escovo os dentes e me olho no espelho, meu coque frouxo estava se desfazendo, e tirei alguns pelinhos do meu pijama. 

Quando terminei de escovar os dentes fiz duas tranças em meu cabelo e fiz meu skin care, por fim voltei ao corredor onde Emma ainda falava com Ian.

— A Ly voltou, você acredita que ela dorme de trancinha e com pijama de gatinho? Nem eu mais durmo assim.  

— Emma! — Digo e vou em direção a mesma, peço o celular emprestado e ouço risadas abafadas vindo de Ian. 

— Vai rindo vai. — Digo e ele tosse tentando disfarçar como se não esperasse minha fala.

— Eh amanhã tenho um longo dia Lyra... — Ele diz na esperança de escapar do assunto.

— Sei, vou desligar, estou indo dormir.

— Boa noite garota com pijama de gatinho.

— Vocês me pagam. — Digo por fim um boa noite e desligo.

— Boa noite Ly, te amo mesmo que você ainda durma de trancinhas. 

— É para o meu cabelo acordar bonito amanhã! — Escuto uma risada divertida vindo da mesma.

— Boa noite, também amo você mesmo que tenha falado para o Ian que durmo de trancinhas 

— E pijama de gatinho! — Ela termina minha fala e sai correndo em direção ao seu quarto. — Quando enfim fecho a porta de meu quarto e rio.


Apago as luzes e me deito na cama, mas algo me impede de dormir, não é a brisa fresca que entra pela sacada, ou a vontade de olhar a casa vizinha na esperança de Ian estar lá, ou... Amy, ela havia dito que as coisas eram fáceis para mim, eu fazia parecer fáceis, mas simplesmente não eram.

Me viro para o lado e percebo uma lagrima quente escorrendo pelo meu rosto, eu estava cansada, fingia as vezes estar tudo bem mesmo quando as coisas não estavam, era difícil ter que decidir o que fazer com minha vida com 18 anos, era difícil tentar viver agora sem sequer me sentir atrasada em relação a tudo, sera que Amy comparava a vida dela com a minha? A sensação de pensar nisso me espanta, como um gosto amargo na boca, eu me comparava com todos ao meu redor, quando Amy estava com Marcos eu pensava em como eu queria estar vivendo algo também.

Quando eu estava no ensino medio eu nunca era a primeira escolha eram sempre minhas amigas na frente, a mais bonita, a mais popular, a mais tudo, eu era a última opção de tudo, os garotos nem sequer me notavam e quando via minhas amigas saindo e conversando com garotos me sentia péssima por não estar vivendo aquilo também, eu era feia? chata? ou simplesmente desinteressante?

Mais lágrimas escorrem, naquela época eu estava casada de tentar agradar todo mundo e por fim decidi apenas viver no meu tempo, essa era minha vida então por que cismava com uma competição que so existia na minha cabeça? No ensino medio prometi a mim mesma parar de me comparar, era minha vida e demoraria o tempo que eu precisasse para vive-la sem pressa.

Mas as vezes esse pensamento sempre volta, eu não deveria me sentir assim, não devia me comparar, muito menos com minhas amigas, mas as vezes era mais fácil pensar do que agir.

continua...

O Meu VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora