O dia não poderia terminar melhor. Foi um dos melhores dias da minha vida de fato, foi incrível.
Eu olhava para o lago do parque sentindo um aperto no coração em saber que eu nunca mais sentaria na cadeira daquela escola, que eu reclamaria das aulas chatas, que eu passasse a maior parte do tempo dizendo "tô com fome" do que qualquer outra coisa. Eu sentiria muito a falta do colégio Hugo Gonçalves, dos momentos que eu viveria lá.
Nunca me imaginei tão apegada a uma escola dessa maneira. Mas lá eu tive as melhores amizades, as melhores aventuras e conheci alguém que eu amasse de verdade.
É, eu estava fechando mais um clico da minha vida.
-Aqui está o seu sorvete. – Nicolas esticou a casquinha para mim e eu a peguei dando a primeira lambida. – Está pensando em que? – ele perguntou vendo que eu estava bastante pensativa.
-Tendo um flashback de tudo que eu vivi esse ano. – comentei vagamente.
-E que conclusão você tira disso? – Nicolas perguntou se sentando ao meu lado.
-Que foi o melhor ano da minha vida, que passei os meus melhores momentos e conheci as melhores pessoas. – dei um selinho no meu namorado.
-E agora iremos começar uma nova fase –Nicolas disse – Quando você acha que podemos viajar? Depois da formatura, depois que nós dois completarmos dezoito anos? Acho que ficaria muito longe já que eu faço aniversário em julho...
Nicolas começou a falar dos planos e eu simplesmente fui me desligando. Pensando em como eu diria a ele que eu não iria viajar mais com ele, que eu não poderia fazer mais parte desse plano.
-O que acha? Nicolas perguntou sem perceber que eu havia me distraído.
Eu fiquei meio perdida naquela conversa.
-Nicolas eu preciso te falar uma coisa – pedi.
-O que foi meu amor? – ele se virou de frente para mim atento ao que eu iria dizer.
-Sabe o meu pai? O Frederico?
-Sim, o que tem ele?
-Ele...ele...-eu comecei a travar – Ele conversou comigo sobre um assunto meio... complicado...
-Você está me assustando, diga logo – ele pediu.
-Meu pai me sugeriu de ir morar com ele para recuperar o tempo perdido, para a gente se conhecer melhor e ter a oportunidade de ser um pai melhor para mim.
-E o que você respondeu? – ele perguntou meio aflito.
-Eu disse que sim.
Nicolas ficou calado por algum tempo, ele até tentou dizer alguma coisa, mas nada saiu de sua boca.
-Meu pai está doente e eu queria passar esse tempo com ele. – tentei procurar argumentos para a minha decisão.
-Durante quanto tempo você vai ficar com ele? – Nicolas perguntou olhando para o lado oposto que eu.
-Um ano – respondi sentindo um forte aperto em meu coração. – Iremos morar no Espirito Santo.
-Muito tempo, e muito longe.
-Eu sei.
-Poderíamos tentar um namoro a distancia – ele sugeriu – eu poderia te visitar de vez em quando.
Eu olhei para Nicolas, seu olhar estava distante do meu, ele estava triste. Chateado, talvez frustrado. Eu não queria ver ele sempre assim, eu não queria impedir ele de viver a viagem da sua vida e muito menos em impedi-lo de ser feliz.
-E enquanto aos seus planos? – perguntei.
-Eu posso adiar. É só um ano né? – eu conseguia perceber, ele estava incomodado com aquilo, ele não queria que eu fosse. Mas eu precisava ir, dá mesma maneira que ele não queria me impedir de ser feliz eu também não poderia impedi-lo de ser feliz.
-Acho que não. – respondi. – Você não vai adiar nada, você vai viajar e vai curtir...
-Mas eu quero fazer isso ao seu lado. – ele segurou em minhas mãos dessa vez olhando para mim.
-Com eu morando com meu pai? Como?
-Não julgo por você ter escolhido morar com ele, eu te amo e quero que você seja feliz e faça o que você ache melhor para você.
-Eu acho melhor a gente terminar – falei em voz alta sentindo um sufoco em meu peito.
-Que? – Nicolas ficou incrédulo diante das minhas palavras.
-Terminar, dar fim ao nosso namoro, dar um tempo.
-Mas por que? – ele perguntou ainda não acreditando.
-Porque a gente continuar junto, manter um namoro a distancia só vai nos atrasar, eu quero que você seja feliz também Nicolas e acho que ficando juntos nenhum de nós dois seremos felizes – tentei me explicar.
-Você nunca bota fé em nada né Andréia? Nem na relação com seu pai, nem nas suas amizades nem no nosso namoro. – ele disse.
-Como assim? O que você quer dizer com isso?
-Você tem medo de se entregar, tem medo de arriscar tudo que você tem e tentar ser feliz, você tem medo Andréia.
-Não é isso...
-É sim. Eu sei que é, eu te conheço Andréia...
-Não você não me conhece – me levantei já ficando na defensiva. – Você acha que namorando comigo por quatro meses já conhece minha vida inteira? Você acha que sabe tudo que eu vivi, mas não sabe, você mal me conhece. – tentei me controlar para não gritar. Eu detestava quando as pessoas diziam que me conheciam.
-Você pode até pensar assim, mas eu sei muito bem quando você está intrigada com alguma coisa, toda vez que você mente você pisca descontroladamente, quando você está com medo você sempre me abraça, quando você não gosta de algum assunto você desvia o olhar diversas vezes. Quer que eu continue? Você dá risada toda vez que tenta se controlar para não tentar bater em alguém, e quando você bate em alguém é como um modo de defesa seu, com medo de que ela entre em sua vida.
-Para – pedi suplicando.
-Sabe como eu sei tudo isso? Por que eu sim me entreguei, porque eu resolvi levar o nosso namoro a sério, porque eu te amei de verdade, porque você foi a primeira mulher que amei em toda minha vida.
-Agora vai jogar tudo em minhas costas? – perguntei sentindo as lágrimas escorrerem em minhas bochechas.
-Eu não preciso, você mesma fez isso por você. E quer saber, se for para continuar um relacionamento onde um resolve mergulhar fundo e o outro permanecer na superfície, acho melhor mesmo a gente acabar por aqui antes que um de nós dois acabe se afogando, e eu não quero ser esse alguém. – Nicolas se levantou me agarrando pela cintura e aproximando nossos rosto um do outro.
Por um momento achei que ele fosse me beijar.
Mas ele simplesmente sussurrou em meu ouvido.
-Tudo termina aqui.
E se foi me deixando desabar por completo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Gata Indomável
Novela JuvenilCom uma impulsividade incontrolável e o jeito irônico de ser Andréia Ferreira é uma jovem de 17 anos que não aceita levar desaforos para casa. Em mais uma de suas confusões na escola, ela acaba sendo expulsa da mesma. Mas nem por isso as confusões t...