1-Novo Ambiente

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Andréia

     Tentei demorar o máximo de tempo possível para chegar atrasada à escola, inventei mil desculpas ao longo da semana para faltar às aulas.

Me mudei faz pouco tempo, tem quase uma semana. Eu queria que a nova escola demorasse em me receber, mas isso não aconteceu e agora estou saindo de meu quarto preparada para enfrentar o primeiro dia de aulas chatas na nova escola.

Desci as escadas, incomodada pelo tamanho da saia do uniforme da escola. Minha mãe comprou um número a menos do que eu uso e agora tenho que ficar parecendo uma piranha adolescente.

Cheguei na cozinha onde estava meu pai e minha mãe, me aproximei de mamãe a cumprimentando com um "bom dia", a mesma me deu um beijo bem melecado em minha bochecha.

— Esse carinho todo de manhã cedo não dá né mãe?  — reclamei com a mesma limpando a baba que ela depositou em minha bochecha.

— De quem você puxou essa delicadeza toda? — mamãe despejou o café na xícara e entregou ao meu pai.

— Sua que não foi. — sentei-me à mesa e peguei uma torrada e dei uma mordida na mesma.

Mamãe era uma mulher na faixa dos trinta anos, não muito alta, com um corpo proporcional para a sua estatura. Cabelos castanhos escuros e curtos e olhos pretos. Boa parte da minha aparência eu herdei dela.

— Espero que você não seja expulsa dessa escola também. —papai falou não tirando os olhos do jornal onde sempre lia as notícias do dia a dia.

Diferente de minha mãe, meu pai tinha cabelo castanho claro e os olhos azuis — nem para eu ter olhos azuis iguais aos dele — para a idade de meu pai ele estava muito bem fisicamente. Um dos motivos é por ele ser policial, quer dizer, agora ele foi promovido e é delegado.

Após o café da manhã eu me despedi de meu pai com um abraço como de costume.

—Filha tenha uma boa aula e se comporte. — ordenou.

—Não prometo nada! — falei enquanto eu ia me despedir do meu irmão mais novo. — Até mais Bruno! — dei uma bagunçada em seus cabelos antes de sair.

—Tchau Deia! — ele me deu um abraço de despedida.

Depois de me despedir de todos entrei no carro de minha mãe para ir até a nova escola. Eu queria ir a pé já que a mesma não é tão longe de casa, mas mamãe ficou insistindo para me levar então eu cedi.

—Andréia espero que você permaneça nessa escola até a sua formatura. Você sabe o que seu pai irá fazer se você for expulsa mais uma vez. — relembrou.

—Ele já repetiu isso tantas vezes e eu já fui expulsa várias vezes também, duvido que ele vá fazer algo.

—Seu pai é uma pessoa imprevisível, é melhor nem brincar dessa vez. — me alertou.

Meu pai havia me dito que se eu fosse expulsa mais uma vez de qualquer escola que fosse ele iria me colocar em um colégio militar. Aí ele já pegou pesado demais.

Desci do carro e minha mãe insistiu em me levar até a porta como se eu fosse uma criancinha, ela acha que eu não tenho responsabilidade o suficiente para me virar sozinha. E só para eu ficar com um título gigantesco de esquisita, a dona Daniela me levou até a porta da minha sala. Que constrangedor!

— Eu venho te buscar na hora da saída tá?  — essa minha mãe parece até um chiclete de tão grudenta que é.

— Não se preocupe mãe,  eu vou ficar bem. — garanti.

— Vou sentir saudades de você! — ela me deu um abraço.

— Eu também.  Agora já pode ir. — eu não queria que alguém atendesse a porta e ela estivesse lá.

—Tá bom sua chatinha.  — ela me deu outro abraço e se foi.

Seria uma boa se os diretores me dessem um desconto já que sou aluna nova me deixando ficar sem aula durante uma semana. Pensei.

Dei algumas leves batidas na porta da minha futura sala e parecia que ninguém tinha ouvido. Bati mais uma vez e me virei de costas para procurar se tinha alguém no corredor que pudesse me ajudar.

— Pois não? — uma voz grave e rouca preencheu meus ouvidos tomando minha atenção.

Virei- me para frente encontrando a figura de um rapaz alto, seus olhos castanhos fitaram os meus e logo ele abriu um sorriso, posso confessar que seu sorriso era maravilhoso. Se ele quisesse qualquer coisa de mim apenas bastava aquele sorriso e pronto, eu faria qualquer coisa. Isso sem contar com seus cabelos castanhos que eram um pouco longos e davam um charme a mais a ele.

Eu apenas sai do meu transe quando ele me perguntou se eu queria ajuda.

—Olá? — ele passou a mão na frente de meus olhos me tirando daqueles pensamentos malucos. — Você quer alguma coisa? — perguntou mais uma vez.

—Sou aluna nova,  acho que essa é minha sala. — apontei para dentro da sala agradecendo por eu não ter gaguejado.

—Ah tá.  Pode entrar. — ele abriu espaço para que eu passasse, mas o meu corpo me desobedeceu indo para a mesma direção que o rapaz foi.

E assim começou a nossa "valsinha". Ele ia para um lado e eu ia para o mesmo lado, ele ia para o outro e a mesma coisa. Até ele agarrar os meus braços me fazendo parar. Será que se eu fingisse um desmaio ele me seguraria com esses braços fortes? Pensei.

— É melhor a gente parar com isso,  já já estaremos dançando valsa pela escola. — deu uma leve risada.

— Pois é. — dei um leve sorriso e coloquei meu cabelo atrás da orelha.

Entramos nós dois na sala. Havia uma mulher loira virada para a lousa escrevendo algo nela. Ela olhou em minha direção, largou o giz, bateu a uma mão na outra para tirar o pó e esticou a mesma para mim.

— Olá! Meu nome é Mariana, sou a professora de inglês. Como você se chama? — apenas com essa frase eu já pude perceber que aquela mulher era uma tagarela.

— Andréia Ferreira. — apertei sua mão e ela sorriu.

—Classe, essa é a sua nova colega de classe. O nome dela é Andréia.  — ela falou em alto tom para que a sala toda ouvisse. — Pode se sentar atrás da Cláudia. — ela apontou para uma garota ruiva que estava me encarando assim como toda a sala.

Eu andei até lá e me sentei no lugar proposto pela professora. Quando eu passei pela Cláudia ela abriu um sorriso e eu retribui. Comecei a assistir a aula, ou pelo menos tentei, pois eu não estava entendendo nada além do sono não estar colaborando em nada.

[...]

O final da terceira aula enfim havia chegado. A bagunça rolou solta na sala até a maioria dos alunos saírem.

—Se você quiser pode ficar comigo no intervalo. — Cláudia sugeriu para mim.

Eu desci com a Cláudia e peguei meu lanche e me sentei na mesma mesa onde estava Cláudia e mais uma amiga sua.

—Oi meu nome é Liane, mas pode me chamar de Lia. — ela se apresentou quando me sentei a sua frente.

—Prazer, me chamo Andréia. — também sorri.

Era um pouco estranho a situação que nos encontrávamos, ninguém comentava nada nem dizia nada. Tudo bem que a gente não se conhecia, mas ninguém aqui vai tentar puxar assunto comigo?

No final das contas acabei me entediado em ficar com elas, não só das duas, mas como da escola inteira também.

Não me interessava se eu iria ficar na rua ou não,  saindo daquele presídio já estaria ótimo.

Subi até a sala de aula e peguei minha mochila e desci novamente e fui ao pátio. Eu estava pensando em como eu iria sair dali pulando o muro sem ajuda de ninguém. Foi aí que eu fui até uma lixeira que tinha nos fundos da escola. Como era de metal ela aguentaria o meu peso.

Subi nela tentando alcançar alguns doa buracos já feitos na parede.

—Para onde você vai? — alguém me perguntou fazendo meu corpo se estremecer por inteiro.

Gata IndomávelOnde histórias criam vida. Descubra agora