Um mês depois...
Andréia
Aquele vestido vinho que se encontrava no fundo do meu guarda-roupa me trazia um desanimo. Eu não queria ir para a festa de formatura, não havia motivos para eu estar lá.
Fechei meu guarda-roupa me deitando em minha cama e relembrando quando eu havia comprado aquele vestido. Ele me trazia lembranças boas e também ruins.
-Não consigo encontrar nada que me agrade, as coisas daqui são muito chamativas. – comentei enquanto procurava alguma roupa em meio aquelas araras.
-Todos ficariam bem em você – Nicolas disse se aproximando de mim – Alias não é a roupa que te deixa bonita é você que deixa a roupa mais bela. – ele me entregou um vestido vinho que eu olhei meio duvidosa. –O que está esperando? Experimente.
Levei o vestido até o vestiário e me troquei saindo em seguida depois de avaliar superficialmente o vestido.
-Não vale dizer que eu estou linda, se estiver feio me fala logo. – pedi mostrando o vestido para Nicolas.
-Ficou perfeito. – ele abriu um sorriso.
-Tem certeza? – perguntei meio insegura.
-Por que está duvidando? Você nunca se importou com o que veste ou deixa de vestir. – Nicolas se levantou vindo até mim.
-Dessa vez é diferente, não é uma festa qualquer.
-Você tem razão – concordou comigo. – Agora feche os olhos- ele pediu.
-Pra que?
-Apenas feche – ele pousou sua mão em minha cintura e eu fechei os olhos. – Imagine você usando esse vestido na noite de formatura, usando um belo colar, com a mais bem feita maquiagem e o mais belo penteado. Imagine você dançando com esse vestido comigo e os olhares voltados sobre nós imaginando: "Esse é o mais belo casal que eu já vi." "Eles são tão perfeito juntos..."
Abri os olhos sorrindo com as palavras de Nicolas.
-Acho que vou levar esse vestido. – abri um sorriso passando a mão pelo tecido. – Aonde aprendeu a dar confiança para as pessoas? – perguntei meio desconfiada.
-Meus pais são donos de uma empresa de consultoria de moda, eu tenho que aprender como persuadir as pessoas – ele disse brincalhão.
-Comigo funcionou, vamos ver daqui para frente. – fechei a cortina me trocando em seguida acompanhando Nicolas até o caixa.
Estava praticamente tudo pronto para a formatura, as roupas, os convidados, os planos, tudo.
Mas tudo se desfez com uma única frase: "Tudo termina aqui"
Respirei fundo tentando parar de chorar. Já fazia quase um mês que Nicolas e eu estávamos separados, eu precisava superar isso, sei que ele está tomando a vida dele assim como eu tenho que dar um rumo para a minha.
Eu não estava mais vendo o Nicolas em lugar nenhum, não precisávamos frequentar mais a escola, soube que ele não trabalha mais na confeitaria da minha mãe, eu não frequento mais a casa dele mesmo sendo amiga dos irmãos dele, estávamos aos poucos quebrando nosso vinculo, só faltava eu me mudar, mas por que me incomodava tanto a possibilidade de encarar ele na formatura hoje?
É por esse e outros motivos que eu iria ficar em casa curtindo minha bad.
Meu celular começou a vibrar no criado-mudo me tirando de meus devaneios. Era Cláudia que me ligava. Atendi no terceiro toque.
Ligação em andamento...
-Oi Cláudia! – falei tentando transparecer animo.
-Deixa de ser falsa e para de me atender como se estivesse animada. – me criticou. – Vou direto ao ponto, você vai a formatura hoje?
-Não Cláudia, eu não vou. – contei antes que ela me arrancasse a verdade de um jeito ou de outro.
-Ah, vai sim. Nem que eu esteja prestes a parir eu vou ai na sua casa e te trazer pelos cabelos. – ela me ameaçou.
-Isso não funciona comigo – falei voltando a me deitar em minha cama.
-Até a Lia vai menina, e adivinha com quem? Com o Natan. Só que ela não sabe. – a última frase ela deu uma sussurrada.
Eu dei uma leve risada.
-Seus pais não pagaram a formatura, o vestido nem o salão a toa. Se eu fosse sua mãe te dava umas porradas se você não fosse...
-Mas você não é.
-É por causa dele né? – nada respondi. – Andréia, eu sei exatamente pelo que você está passando, eu sinceramente fico triste por você, mas você também não precisa se privar de se divertir por causa dele. Uma hora ou outra vocês dois terão que se encarar, pode não ser hoje, nem amanhã, mas algum dia.
-Eu sei.
-Então pense se irá a formatura hoje ou não. Você ainda tem oito horas para pensar em ir, então pense bem – Cláudia disse em um tom divertido.
-Tá bom! Tchau!
-Tchau!
Fim da ligação
Joguei meu celular para o lado e me levantei. Cláudia tinha razão, eu teria que encarar Nicolas uma hora ou outra, querendo ou não.
Enterrei minhas mãos em meus cabelos vendo que ela tinha a absoluta razão. Será que eu teria forças para encarar Nicolas? Eu sinto tanto a falta dele. Sinto falta das briguinhas bobas que tínhamos, das conversas jogadas foras, do total apoio que ele me dava para me reconciliar com meu pai.
Será mesmo que eu não tinha me entregado por completo para ele? Eu tive medo confesso, de me entregar. Todo relacionamento que eu tive sempre tentei dar o melhor de mim e o que dava? Em nada.
Eu tentei me fechar para o amor, eu juro, mas fiz isso no momento errado, quando eu já estava apaixonada pelo Nicolas.
Por que só damos valor aquilo que perdemos?
-Andréia, o almoço está pronto. – mamãe me avisou, eu nem fiz questão de erguer meu olhar para ela.
-Mãe – a chamei e ela se aproximou de mim. – Quando você percebeu que amava o Heitor? – perguntei.
Ela posou sua mão em minhas costas me acariciando.
-Não sei em que exato momento. Não me lembro muito bem.
-É verdade que só conseguimos amar uma pessoa na vida? – perguntei parecendo uma criança curiosa para descobrir a vida.
-Acho que isso não seja verdade. Amor é uma coisa que se conquista com o tempo. Eu amei o seu pai e amo o Heitor, mas com o seu pai agora é um amor diferente, não é mais aquela coisa de casal, mas eu sinto respeito por ele agora, diferente de alguns anos atrás.
Respirei fundo abraçando minha mãe.
E me sentindo ressentida.
Nicolas havia dito que me amava, que eu era a primeira mulher que ele amou na vida.
E por que eu não disse que eu o amava no momento certo?
Eu tenho certeza que eu o amo.
"Porque você foi a primeira mulher que amei em toda minha vida."
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Gata Indomável
Ficção AdolescenteCom uma impulsividade incontrolável e o jeito irônico de ser Andréia Ferreira é uma jovem de 17 anos que não aceita levar desaforos para casa. Em mais uma de suas confusões na escola, ela acaba sendo expulsa da mesma. Mas nem por isso as confusões t...