Capítulo 5

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O ano lectivo havia iniciado.  Rodolffo precisava de viajar para o Porto onde frequentaria as aulas na faculdade de medicina.

Marcou encontro com Juliette  no local habitual.

R - Amanhã estou de partida meu amor.   Vai ser muito difícil estar longe de ti mas preciso concluir os meus estudos.  Talvez assim o teu pai me aceite.

J - E se não aceitar? E se entretanto me obrigar a casar com outro?  Juliette não contou que já estava prometida ao primo.  Confiava nele para arranjar uma solução.

R - Isso nunca vai acontecer ou eu fujo contigo.  Promete que vais esperar por mim.

J - Eu prometo. Escreve-me todas as semanas.  Manda as cartas para a tua mãe.   Eu prometo escrever também.

R - Escrevo sim.  Volto nas férias de Natal. São 3 meses que se Deus quiser hão-de passar rápido.

Ficaram o resto do dia no cantinho deles tentando reter o máximo de carinho um do outro.  Ainda não se tinham separado e já morriam de saudades.

Rogério pensava e pensava em como ajudar Juliette e se livrar de um casamento indesejado.
Para seu pai ele era um tolinho mas de tolinho não tinha nada.

Rogério era formado em arquitectura mas preferia a vida boa.  O dinheiro de seu pai sustentava os vícios.

À parte da fortuna do pai ele possuía a sua.  Vivia à custa do pai sem necessidade mas tudo tinha  propósito.
Ele tinha um segredo e sabia que quando fosse revelado corria o risco de ser deserdado, então a sua fortuna o salvaria.

Naquela manhã tomou a decisão de conversar com o pai.

R - Meu pai!  Eu aceito o destino de me casar com a minha prima Juliette,  porém, tenho duas exigências a fazer.

P - Que exigências?  Não venha com desculpas.

R - Não são desculpas.
A primeira delas é que eu quero sustentar a minha esposa,  então preciso de arranjar emprego e ter minha casa.

A segunda é que isso pode demorar tempo, então eu dou um prazo a mim próprio de 5 ou 6 anos.  No final desse tempo eu me  casarei.

P - 6 anos? O meu irmão não vai aceitar, mas, eu acho muito nobre quereres sustentar a tua casa.  Acho que estou disposto a aceitar.

R - Vou amanhã mesmo falar com o meu tio e minha noiva.

A conversa com o tio Artur não correu tão bem como eu esperava.   Ele não estava disposto a esperar 6 anos.  Juliette deveria casar já, mas os meus argumentos foram mais fortes.   Um pouco contrariado cedeu.

Chamámos Juliette para lhe comunicar e eu já fui piscando olho escondido do tio.

Ao ouvir a proposta,  Juliette sorriu para mim e eu logo soube que ela tinha gostado.

J - O que for decidido eu aceito.  Não tenho outra hipótese mesmo.  A minha palavra não ia alterar nada.

Pedi permissão ao meu tio para passear com a Ju no jardim.

R - Gostaste?

J - Adorei.  Como conseguiste convencê-los?

R - Com a minha lábia.  Para eles sou um tolo, mas,  tolos são eles.
Daqui a 6 anos atinges a maioridade e já podes casar com quem quiseres.   Não precisas de autorização de ninguém e eu nessa altura vou embora viver a minha vida com o meu amor.

J - Não sabia que namoravas! Temos que falar disso para não haver mal entendidos.

R - Não te preocupes.  Já lhe contei tudo.  Venho aqui conversar contigo de vez em quando para manter a farsa,  está bem?

J - Sim.  Eu gosto de conversar contigo e temos muito que falar.

R - Mas, afinal quem é o teu namorado?  Eu conheço?

J - O filho da nossa empregada Mafalda.  Conheço-o desde sempre.  Estudou comigo e agora foi para o Porto cursar medicina.

R - E o teu pai não o aceita por ser pobre.

J - Ele não sabe de nós mas eu conheço o meu pai.  Para ele só um nobre me serve.

Então estamos combinados.  Juntos havemos de contornar a situação e fazer os nossos pais saberem que nós também queremos ter opinião.

É necessário mudar mentalidades e já vai longe o tempo de reis e plebe.
As pessoas deveriam ser classificadas por carácter e não por bens materiais e títulos.

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