Capítulo 18

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Rodolffo, fazia questão de escrever cartas de amor a Juliette como habitualmente.  Ele sabia que um dia haveriam de se entender.  Sem pressão deixava tudo no tempo dela.

Nas cartas jurava amor eterno, pedia desculpas pelas falhas, contava-lhe os sonhos.  Pedia uma carta de resposta, nem que fosse uma só mas nunca vinha.

Juliette, andava sempre ansiosa para a chegada da carta.  Lia-as sempre  desfeita em lágrimas, e respondia.
Respondia o quanto o amava, o quanto sonhava estar com ele, o quanto os beijos e abraços lhe faziam falta mas não enviava a carta.
Talvez por burrice, mas ainda não tinha perdoado o facto dele ter sido conivente com seu pai e Rogério.

Já se passara um ano e ela ainda não esqueceu.

Ambos estavam no último ano dos seus cursos.

Juliette desejava leccionar na sua cidade e Rodolffo também ia concorrer aos quadros do hospital local.  Posteriormente queria especializar-se em cirurgia.

Na cidade de Bragança,  George de Amorim chegou a casa de Artur de Magalhães e pediu para ser recebido.

G - Bom dia!  Como tem passado o meu amigo?

A - Assim, assim.  Confesso que estou curioso com a visita.  Não vem propor-me novo negócio?

G - Por acaso não, mas, venho terminar aquele que começámos lá atrás.

A - Como assim terminar.  Não foi já concluído?

G - Aparentemente sim.

A - Não tenho mais bem nenhum para lhe dar.

G - Nem eu quero, muito pelo contrário, venho devolver tudo.
Eu explico:

Lá atrás quando o meu filho me contou que não era aceite por si por ser pobre fiquei irritado.  Eu via o amor dele por Juliette e vice-versa.

Saber que por questões de dinheiro os dois não poderiam ser felizes magoou-me muito.  Ao ponto de eu engendrar uma lição para lhe dar.

Não fui responsável pelo fracasso do seu negócio.   Só respondo pelo que fiz. 
O caso das promissórias foi ideia minha mas se o seu negócio tivesse dado certo elas teriam sido quitadas.

Eu jamais duvidei da sua honestidade nesse quesito.  Mas estava revoltado pela sua rejeição ao meu filho.   Qualquer pai estaria.

O propósito foi bem sucedido pois vejo na minha frente um homem mais humilde e humano.

A - Foi um grande aprendizado durante este tempo.  Pude rever os meus valores e o quanto eles estão ultrapassados, mas, continuo sem entender como ainda temos negócio a terminar.

G - Já vai entender.  O homem à minha frente mudou, mas, agora por conta da minha decisão os nossos filhos sofrem cada um para seu lado.

A sua filha nunca perdoou o facto do Rodolffo saber e não lhe contar. Há mais de 1 ano que não se falam e eu sei que ambos sofrem mas são demasiado orgulhosos.

A - Eu disse a Juliette que não iria mais interferir nas escolhas dela.  Não sabia que eles não se falavam há tanto tempo.  Nunca conversámos sobre isso.

G - Bom.  Deixemos o tempo decidir.

Agora meu amigo, e espero de verdade que consigamos ser amigos,  aqui estão os documentos de todos os bens arrestados quando da execução da dívida respeitante às promissórias.   Eu nunca quis os seus bens.
Eu realmente entrei com o capital todo do negócio mas os 33% que seriam a sua parte da sociedade seria uma oferta para Juliette.   Ela terá um terço da sociedade.  Sei que ela só poderá assumir quando for maior, por isso meu amigo, continuamos sócios.  
A parte burocrata o Artur vê depois com a Ju.

A - Não sei o que dizer.  Preciso de tempo para assimilar tudo.

G - Por enquanto não diga nada.  Tem mais.
Aqui estão as contas referentes aos andares já vendidos e o valor a que a Juliette tem direito.  Analise tudo e se estiver de acordo iremos depois ao banco fazer as devidas transferências para a sua ou abrir um conta dela.

A - Ela já tem conta aberta mas só eu posso movimentar por ela ser menor.

G - Óptimo.  Então analise tudo com cuidado e depois faremos isso.

A - O George aceita almoçar comigo?  Está na hora e podemos conversar mais um pouco.

G - Com todo o gosto.  Aceito para já um favaios.  Falei tanto que tenho a garganta seca.

A - Vamos a ele.

O almoço foi servido e os dois conversavam como dois bons amigos.

A - Será que não podemos fazer nada pelos nossos filhos?

G - Deixemos tudo na mão de Deus.   Já interferimos e não deu bom resultado.   Eles hão-de entender-se.
O que tiver que ser será.

LágrimaOnde histórias criam vida. Descubra agora