Capítulo 22

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Passavam dias,  passavam semanas e Juliette um dia estava bem e no outro insuportável.

Eu tinha começado a trabalhar no hospital.  Por vezes fazia 2 turnos seguidos já que havia falta de médicos.

Nem sempre tinha hipótese de estar com ela.  Por vezes passava quase uma semana sem vê-la. 

Hoje e amanhã estou de folga.  Vou tentar dar-lhe um pouco de atenção.

Dormi até à hora do almoço,  almocei e segui para casa dela.

Conversei um pouco com a mãe que encontrei na entrada.

V - Ela está no quarto.  Esta semana tem sido difícil sem ti.  Julga que a abandonaste, que já não gostas dela.

R - Mas eu tenho tido tanto trabalho.  Fica difícil vir aqui.

V - Eu sei meu filho.  Obrigada pelo esforço que tens feito.

Rodolffo deixou a dona Verónica na cozinha e subiu até ao quarto de Juliette.

Estava sentada à janela olhando para o horizonte.   Nem percebeu quando ele abriu a porta e entrou.

R - Boa tarde.  Vamos passear dona Juliette.   Está uma tarde linda demais para ficares aqui fechada.

J - Oh!  Não ouvi tu chegares.

R - Nem podias!  Estás aí a olhar não sei para onde e a pensar na morte da bezerra.  Vamos sair.

J - Pensei que não me querias ver.  Tantos dias sem noticias.  Eu estou a ficar chata né?

R - Não estás a ficar, sempre foste.  Brincadeiraaaaaa.  Eu agora trabalho.  Não tenho tanto tempo disponível, entendes?

J - Sim.  Mas estou tão sózinha.

R - Porque te refugias aqui.  Tens que sair, ver pessoas.  Faz qualquer coisa útil.  Distrai a mente.
Anda lá, vamos fazer qualquer coisa.  Nem se seja só caminhar à beira rio.

Os dois saíram para a beira rio.  Rodolffo agora médico no Hospital era reconhecido por muita gente.  Durante a caminhada cruzaram-se com vários pacientes dele que paravam para o cumprimentar.
Novos,  velhos,  crianças e jovens.

Ele era sempre atencioso com toda a gente e uma vez por outra o cumprimento estendia-se a uma conversa mais longa.

Nestes casos Juliette afastava-se um pouco deles.

Quem encontraram nesse passeio foi a Cátia.  A arquitecta que Rodolffo conheceu na igreja.  Já se tinham visto novamente no hospital pois Cátia desenvolveu uma bronquite e precisou fazer tratamento.

C - Boa tarde doutor!  Como vai?

R - Boa tarde Cátia.   Vou bem obrigado.   E essa bronquite?

C - Felizmente estou livre dela.

Juliette desta vez não se afastou. Rodolffo apresentou-a como amiga o que a deixou com o semblante fechado.

R - Já conseguiu emprego Cátia?

C - Ainda não.   Estou a considerar ir falar com o seu pai para me dar uma  indicação.   Está difícil e eu não queria voltar para Lisboa.   Acho que estou apaixonada por Bragança apesar do pouco tempo aqui.

Já vou indo.  Não quero atrapalhar.  Boa tarde.

R - Até à próxima Cátia.

Seguiram caminhos diferentes enquanto Juliette murmurava "apaixonada por Bragança.   Sei"

R - Disseste alguma coisa? 

J - Não.   Aqui a tua amiga não disse nada.

Rodolffo parou, ficou de frente para Juliette,  segurou-lhe nas mãos e disse:

R - Como é que te apresentava, senão como amiga?  Não és tu que dizes que já não há nós?

J - E porque é que ainda me visitas e sais comigo?

R - Porque gosto de ti, sou teu amigo, sei que não estás bem e quero ajudar.

J - Gostas da Cátia?  Ela não está apaixonada por Bragança mas por ti.

R - Deixa de bobagem.  A Cátia é uma conhecida que eu tratei no hospital.

J - E bonita.  Eu quero ir embora.

R - Ainda é  cedo.  Vamos andar mais um pouco e depois vamos tomar um chá com uma fatia de bolo lá naquela pastelaria que nós íamos quando andávamos no liceu.
Lembras-te?  Naquela altura a minha mãe  fazia um sacrifício enorme durante a semana para juntar dinheiro para eu acompanhar com vocês todos.  Ainda bem que era só uma vez por semana.

J - Lembro.  Aí eu era tão feliz.

R - E vais voltar a ser.  Só tens que querer ficar bem.

A tarde terminou bem.  Juliette ficou com ciúmes da Cátia mas eu consegui desviar-lhe os pensamentos para outros assuntos.

Voltámos para casa.  Combinámos sair no dia seguinte à mesma hora.
Juliette pediu à mãe para eu ir lá almoçar.   Ela consentiu e eu aceitei.

Antes de ir embora ela pediu para eu subir ao seu quarto.  Queria mostrar-me algo. 

Subimos e fomos para a varanda do quarto.  Sentámo-nos no sofá e ela segurou no meu rosto.

J - Eu quero ser outra vez tua namorada.

Abracei-a e beijei-a com paixão.  Senti-a frágil nos meus braços.   Ela tremia.

R - Eih!  O que foi?  Estás a tremer porquê?  Eu nunca deixei de ser o teu namorado.   Tu é que não me querias.  Mas estou muito feliz agora.

J - Eu vou melhorar rápido.   Eu prometo.

R - Vais concerteza.  Com calma.  Só não te podes fechar neste quarto.   O mundo acontece lá fora.

R - O teu pai está cá?  Achas que ele amanhã almoça connosco?  Eu preciso de pedir licença para te namorar.

J - Acho que está sim.  Vais fazer isso?

R - Vou.  Não é o normal?  Quero poder andar por aí contigo mas de mão dada sem medo nem julgamentos apesar de que o teu pai mudou da àgua pró vinho.  Aquele homem arrogante,  retrógrado e soberbo desapareceu.
Nunca em outros tempos ele permitiria que nós saíssemos juntos.

J - É verdade.  E só por isso eu já não tenho raiva do que fizeram com ele.

R - Então,  eu estou perdoado por ser conivente?

J - Tu não.   Só o teu pai e o Rogério.

Abracei-a e senti-me tão bem.  Há muito tempo não via a Ju falar deste assunto.  Tenho esperança de que em breve tudo voltará ao normal com ela.



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