Capitulo 6

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Já faz um mês que Rodolffo está no Porto. Hoje no intervalo entre duas aulas resolveu escrever mais uma de algumas cartas que já enviou.

Amo-te

Hoje conto mais um dia e eu amo-te.
Amo sonhar contigo, amo quando passeio à beira rio,  quando subo a calçada, quando me sinto sózinho e quando estou no meu quarto a pensar na vida também te amo.

Tenho um calendário onde todos os dias risco menos um dia que falta para te rever e encher de beijos.
Sonho com o dia em que pudermos dizer a todos em alto e bom som NÓS AMAMO-NOS.

Eu sei que ainda falta muito. Há tão pouco tempo vim e já parece que passaram anos.

A cidade é muito bonita e eu queria conhecê-la contigo.   Por ora dedico todo o meu tempo aos estudos.  Quem sabe um dia possamos fazer uma passeio juntos.

Trouxe a nossa foto comigo.   Olho para ti e qualquer dúvida desaparece rápido.  Estás tão linda nesta foto.

Na última carta disseste que andavas triste, mas eu não te quero triste.  Pensa nisto como uma prova de resistência.
Havemos de resistir.   O nosso amor vai resistir e sair fortalecido.

A saudade é tanta que chega a doer o peito.  Tenho saudades da minha mãe também.
Nunca me separei de vocês e agora foram as duas ao mesmo tempo.

Em menos de três meses eu estarei aí para passar o Natal. 

Até lá pensa em mim.

Um  beijo meu amor  e não esqueças,

Eu Amo-te

Rodolffo dobrou a carta,  colocou no envelope e seguiu para a próxima aula.  No final das aulas passaria nos correios para a enviar.

~~~

Juliette pediu à mãe para ir até à igreja.  Ia confessar-se.

V - Vais sózinha, filha? Queres companhia?

J - Não mãe.  É perto.  Volto logo.

Juliette entrou na igreja, fez as suas orações e sentou-se num banco bem perto do altar de Nossa Senhora da Conceição.   Havia levado uma rosa de seu jardim e colocou-a na jarra.

Contemplava a imagem quando o padre António se sentou à sua beira.

O padre António era ainda jovem.  Teria no máximo 35/36 anos.  Estava nesta paróquia hà cerca de 3 anos.  Era muito querido pelos mais jovens.

Os mais velhos olhavam-no com desconfiança muito por conta das suas ideias progressivas.
Ele era muito competente na sua doutrina, dava aulas de religião e moral nas escolas mas nas horas vagas era frequente encontrá-lo em grupos de jovens ou mesmo nas festas e arraiais.
Promovia encontros de jovens onde se falava de assuntos aleatórios.

A - Vejo que estás triste, Juliette!

J - Um pouco, senhor padre.  Tenho uns assuntos me atormentando.

A - Se quiseres conversar sou todo ouvidos, mas, é melhor que seja em confissão.

J - Eu quero sim.

Juliette contou ao padre António sobre o namoro com Rodolffo,  as pretenções do pai em relação ao casamento e até o combinado com Rogério.  Ela sabia que o segredo da confissão seria respeitado.

O padre ouviu tudo em silêncio e perguntou se ela estava consciente de que o que fazia era o correcto.  Ela disse que sim.

A - Então vai em paz e aquieta o coração.   Deus traça um caminho para nós.   Só nós resta segui-lo correctamente.

Terminada a confissão,  Juliette despediu-se e o padre António falou:

A - Confia no Rogério.  Todos o acham tolinho mas ele é muito inteligente.

Juliette riu e confirmou.

Por falar em Rogério.  Trabalhava agora numa sociedade de arquitectos da cidade.

Como era muito conhecido pela sua origem e pelo seu talento, pelo menos no meio dos arquitectos, não foi difícil conseguir trabalho.

A primeira parte do plano com a Ju estava resolvida.

Eles encontravam-se várias vezes e as conversas resultavam sempre em grandes risadas.  O pai da Ju estava radiante com a aceitação da filha.

A mãe do Rodolffo soube do pedido de casamento e ficou triste pela Ju não ter falado com ele.

A Ju teve que pedir para ela não contar nada.  Pediu para confiar nela.
Ela contaria quando ele viesse no Natal.
Conformada e sem entender ela aceitou.  Só pediu para não magoar o filho dela.

A Ju deu-lhe um beijo.

J - Magoar como? Eu amo-o tanto.

LágrimaOnde histórias criam vida. Descubra agora