Capítulo 15

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Juliette começou a escrever convicta de que seu pai não a deixaria sair mais de casa.  Ela tinha consciência de que ele nunca tinha sido afrontado daquela maneira por ninguém.

Amor

Escrevo porque não tenho certeza se nos veremos brevemente.

O meu pai já sabe que eu te amo e o noivado com Rogério é uma farsa.  Confrontou o Rogério e ele confirmou.

Disse-lhe que queria estudar e vai mandar-me para Miranda do Douro.  Um colégio interno onde só vou sair quando atingir a maioridade.

Tens noção da distância que vai existir entre nós?

Eu estou disposta a fazer o sacrifício desde que prometas esperar-me.  Sei que 6 anos é muito tempo mas tu precisas  formar-te e eu também quero ter uma profissão.   Não quero depender de marido.

Por favor diz que me esperas.  Não sei se o Rogério já falou contigo.  Falta poucos dias para iniciares o novo período escolar e logo vais para o Porto.
Queria ver-te antes de ires mas não sei se será possível.

Eu darei um jeito de te escrever do colégio mas não sei se conseguirei que me entreguem as tuas cartas.  Por certo o meu pai vai dar ordens nesse sentido.

Se não nos virmos mais recebe um beijo apaixonado.

Tua Ju

Rogério acabava de contar tudo o que acontecera na casa da Ju.  Rodolffo andava de um lado para o outro praguejando.

R - Eu vou lá falar com ele, Rogério!

Rg - Não.  Hoje não.  Espera a poeira baixar.  Hoje o meu tio está capaz de matar tudo e todos.   Nunca ninguém o afrontou assim.
Espera dois dias.  Vou ver se consigo sair com a Ju para vocês conversarem.

R - A minha vontade era pegar nela e fugir para longe.  Só não faço porque  não tenho meios de nos sustentar.

George ouvia tudo calado.

G - Agora tens todos os meios.  Mas eu não quero que faças isso.  Tem de haver outra solução.
Esse homem não quer dinheiro?  Não lhe interessam só os bens materiais?  Então damos o que ele quer, mas, à nossa maneira.

Rodolffo, tem um pouco de paciência.   Muito em breve prometo que poderás andar lado a lado com a Ju sem problema algum.  Rogério,  vamos ali discutir uns negócios que eu tenho em vista.

George pretendia aumentar o seu património e ia usar isso como isca para atrair o Magalhães.

G - Rogério vais apresentar ao teu tio a seguinte proposta.  E explicou de que se tratava.
Vais entrar como meu sócio também pois preciso de um arquitecto.

Como vamos precisar de muito capital disponível e eu sei que o Magalhães não tem liquidez fazemos ele assinar umas promissórias para garantir a dívida.

Como ele não vai conseguir honrar os compromissos vai ter que entregar património por conta das promissórias e vai ficar bem mais pobre.

É só para ele baixar a crista e não desmerecer quem tem menos.   Eu vou bancar o projecto todo.
No final tudo ficará como está.

Rg - Ganancioso como ele é, é capaz de aceitar.  Aproveito depois de amanhã quando for ver a Ju.
Rodolffo, vou da parte da manhã.   Se ele me deixar sair com ela encontramo-nos na casa paroquial.

Dois dias depois pedi licença e entrei no escritório de meu tio.

Rg - Bom dia meu tio.  Venho por 2 motivos.
O primeiro queria permissão para dar um passeio com Juliette.   Sei que está aborrecido connosco mas somos primos e eu tenho muita consideração por ela.

Segundo, tenho uma proposta de negócio que se for avante nos trará um retorno absolutamente gigantesco.

Por certo o meu tio já conhece o senhor George de Amorim.  Os pais tinham uma grande fortuna por aqui e durantes estes anos todos lá nas Américas a fortuna cresceu muito consideravelmente.
Hoje propos-me participação numa sociedade na minha qualidade de arquitecto.

Está em vista a construção de um bairro com capacidade para albergar 1000 famílias.  O bairro será constituído por vários andares.

A população da cidade está a aumentar e há falta de habitação.
São modelos que já existem nas grandes cidades como Lisboa e Porto.

Também é do conhecimento que Bragança em breve beneficiará de uma Universidade o que vai trazer muitos jovens à cidade.  Lógico que esses jovens estando longe dos pais precisam de alojamento.

Por isso o Sr. de Amorim precisa de um sócio com capital.  Não que ele não possa arcar com o projecto sózinho mas neste ele prefere assim.

A - E esse projecto orçaria em quantos contos?

Rg - O Sr de Amorim vai entrar com 2 milhões de escudos e precisa de um sócio para o outro milhão.   Eu entrarei só com o valor do projecto de arquitectura.

A - 1 milhão de escudos?  Mas isso é uma fortuna!  Eu não tenho nem um terço disponível.   Tudo o que tenho está aplicado.

Rg - Meu tio, pense no retorno de 33% do lucro da venda dos andares.
Concerteza o sr. de Amorim arranja solução.
Converse com ele pelo menos.

A - Pode ser um bom negócio.   Marca com ele e venham amanhã para conversarmos.

Rg - Concerteza meu tio.  E agora posso levar minha prima?

A - Não devia deixar, mas, vão lá e não demorem.

Fui encontrar a Ju e saímos.  Conforme havia combinado com Rodolffo levei a Ju até à casa paroquial para eles conversarem.

Deixei os dois e encontrei-me com o padre António no adro da igreja para uma troca de ideias.

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