Capítulo 19

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Finalizado o almoço o pai de Rodolffo despediu-se e deixou Artur de Magalhães mergulhado na papelada em cima da secretária.

Analisava documento por documento e estava radiante por ter recuperado todo o seu património.
Olhava para os números da venda dos andares e realmente George de Amorim não mentiu quando disse que seria um negócio com retorno milionário.

Ainda não tinham vendido nem metade dos prédios e já tinha realizado o valor investido.  Juliette era agora possuidora de uma verba considerável.

Ao pensar em como tudo isto aconteceu não consegui ter raiva de George.  Bem, só um pouco.  Mas foi para felicidade da minha filha e agora só quero que ela se resolva com Rodolffo.
Confesso que me arrependo de muitos julgamentos que fiz.  Eu estava errado e reconheço.

Rogério estava em casa de George.
A sua casa estava terminada mas agora não tinha mais noiva.

Juliette por conta do sucedido também se afastou dele.  Sentiu-se traída também pelo amigo.

Rogério contava a George sobre a sua ida para o Brasil.

G - E quando estás a pensar ir? 

Rg - O navio parte de Lisboa dentro de uma semana.  Eu só quero despedir-me de Juliette e Rodolffo e tentar por algum juízo naquelas cabecinhas.

G - Eles voltam amanhã.   Terminaram os estudos e vêm para ficar de vez.

Rg - Então,  aqui está a escritura da casa para eles.  Se for para não ficarem juntos eles que decidam o que fazer mas eu não gostaria de ver outras pessoas habitar a casa.

G - Rogério,  em troca toma as chaves da minha casa no Rio do Janeiro.  Logo que possa será registada em teu nome.  Quero que sejas feliz lá com a pessoa que amas.
Já agora, porque é que ainda não tive o prazer de ser apresentado a essa pessoa.

Rg - Mas já  foi.  Não na qualidade de...  é ..... .......

G - O quê?  Mas isso vai ser lindo de ver.

Rg - Mas ninguém vai ver.  Por respeito aos meus pais que não entenderiam.  Por isso partimos para o Brasil onde ninguém nos conhece.

G - Tenho pena que tenhas que partir.  Sinto que poderíamos ser óptimos parceiros nos negócios.   Mas vai lá ser feliz.

Dois dias depois de terem chegado Rodolffo e Juliette foram encontrar-se com Rogério na casa nova.  Ainda não se tinham visto mas comprimentaram-se com um simples "olá como estás".

Rg - Bom, meu amigo e minha prima!  Espero de coração que vocês acabem com esse orgulho tolo e resolvam dar uma chance um ao outro.
Lembrem-se de que vocês podem ser felizes aqui, na vossa cidade,  junto da vossa família enquanto eu vou à procura da minha felicidade lá longe e por certo nunca mais poderei voltar.
Jamais poderei ser feliz aqui.  A sociedade não o permitirá.

Minha prima,  construí esta casa para poder enrolar os nossos pais na questão do nosso noivado.  Se tivéssemos que casar, era aqui que viveríamos como marido e mulher à vista de toda a sociedade mas na intimidade nunca seríamos.

Então,  esta casa eu deixo para vocês.   Já entreguei a escritura ao pai do Rodolffo e agora entrego uma chave a cada um de vós.  Gostaria de  vos ver aqui aos dois, mas, se não for possível deem-lhe o melhor destino.

Juliette abraçou o primo com os olhos rasos de àgua.

J - Porque vais embora? Para onde?

Rg - Vou para o Brasil na próxima semana.  Não tenho outra solução se quero ser feliz.  Quando se ama todo o sacrifício vale a pena.

J - Conta com quem vais.  Quem é que tu amas?

Rg - O padre  António.  Já enviou uma carta ao Papa e ao Bispo a pedir  renuncia ao sacerdócio.  Este Domingo já será outro o padre desta cidade.  Ele vai dizer que vai para outra paróquia, por conselho superior.

Juliette e Rodolffo olharam um para o outro e agora entendiam os conselhos que sempre recebiam.

Rg - Percebem agora porque eu não entendo a vossa situação?  Não desperdicem a vida por uma situação que não criaram.  Os vossos pais já se resolveram.

Nem Rodolffo nem Juliette tinham ainda conversado nada com os pais a não ser sobre os cursos.

Rg - Vou-me embora.  Ainda me despeço de vocês depois.  Vocês vêm?

J - Não  Rogério.   Ficamos mais um pouco.   Pode ser Rodolffo?

Rodolffo respondeu que sim e Rogério saiu.

A casa além de pronta estava completamente mobilada.

Juliette sentou-se no sofá e pediu a Rodolffo para se juntar a ela.
Os dois lado a lado não sabiam o que falar.  Passou muito tempo desde a última vez.

Juliette chorava e Rodolffo segurou as mãos dela.

R - Tens noção do tempo que passou?
Tinha que ser assim?

Juliette soluçava.  As palavras não saíam.   Rodolffo aconchegou-a no seu peito e afagou os cabelos dela.

Ficaram assim durante muito tempo sem dizer mais nada.
Juliette estava travada e Rodolffo não queria forçar.

R - Recebeste as minhas cartas?
Ela fez sinal que sim com a cabeça mas não disse nada.

Ele resolveu não a pressionar mais.  Teriam muito mais dias para esclarecer tudo.

R - Quando quiseres podemos ir.

Ela não respondeu mas apertou-se mais no abraço.  Ele colocou a mão no queixo dela e deu-lhe um selinho.

R - Vamos.

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