Capítulo 14

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Rogério foi convocado à presença de Artur de Magalhães.   Ficou sem entender nada e ainda por cima não teve oportunidade de conversar com Juliette.

A - Quero explicações para este noivado de vocês.   Juliette veio dizer que os dois gostam de outras pessoas e se sentem forçados a casar.

A - Sim.  Disse que gostava do Rodolffo e tu de outra pessoa.  Que estavam sendo forçados.

Rg - E não é meu tio?  Não foi o senhor e meu pai que combinaram o casamento sem ao menos nos consultarem?  Não foram os senhores que nos impuseram esta situação?  Que escolha teve a Ju?  Eu gosto da minha prima mas se tiver escolha não caso com ela e ela também não.

A - Mulheres têm obrigação de respeitar a vontade do pai e do marido.

Rg - Sendo infelizes toda a vida.  Os tempos estão a mudar meu tio.  Essas ideias senhoriais já não estão a resultar.  Mulheres também têm vontade.

A - Vais voltar com a  palavra dada ao teu pai e ao teu tio?

Rg - Vou cumpri-la se for da vontade da Ju mas informo o meu tio desde já que o nosso casamento a ser realizado nunca será consumado.  Viveremos como marido e mulher mas não seremos marido e mulher.
Não espere frutos deste casamento pois não os terá.

A - Não devia ter aceite a proposta do meu irmão.   Devia ter arranjado outro noivo para a minha filha.

Rg - E mandá-la para o cativeiro que são esses casamentos de conveniência!  Pois agora não se atreva.  Caso arranje outro noivo, que a Ju não queira, direi aos quatro ventos que o noivo sou eu.  Ainda bem que o noivado não foi anunciado.

Meu tio!  Deixe a minha prima ser feliz com quem ela escolher. 
Agora vou indo.  Tenha um bom dia.

Rogério abriu a porta e saiu encontrando a Ju a escutar.  Segurou-lhe na mão e correram para o jardim.

J - Primo!  Tiveste coragem de dizer aquilo tudo.  Meu pai está furioso.

Rg - A mesma coragem que tu tiveste.   Nunca pensei ver-te enfrentar o senhor Artur de Magalhães.

J - É.  E agora estou de castigo.  Não posso sair.  Vai falar com o Rodolffo.   Não sei o que o meu pai vai fazer a seguir.
Conta-lhe o que aconteceu.  Logo que eu possa vou encontrá-lo.

Rg - Eu vou assim que sair daqui.  Volto daqui a dois dias para ver se ele está mais calmo e já te deixa sair.

Rogério foi embora e Juliette permaneceu no jardim.  Sua mãe veio falar com ela mas pouco ajudava.  Ela estava resignada.  Entrou num casamento arranjado e aprendeu a ultrapassar tudo sem contestar.  Havia sido criada assim.  Juliette não.   Ela não aceitava não ser dona da sua vontade.  Era contestatária.
Contava que desta vez também fizesse prevalecer a sua palavra.  Agora que tinha exposto a sua vontade iria lutar pelo seu amor.

Foi chamada novamente por seu pai.

A - Juliette,  não gosto de ser contrariado e muito menos enganado.   O que tu e teu primo fizeram é afrontoso.  Estou tentado a arranjar-te outro noivo.

J - Pai.  Eu não me casarei com ninguém arranjado por si. Prefiro cair em desgraça.
E continuo a querer estudar para ser  professora.  Se meu pai não deixar eu tirarei o curso quando atingir a maioridade.

Se queres estudar vais para um colégio interno de freiras.  Lembra-te que ficarás lá até terminares os estudos.

J - Prefiro essa prisão  à do casamento arranjado.  Onde é esse colégio?

A - Em Miranda do Douro, fronteira com Espanha.

J - Quem sabe não fujo para Espanha.

A - Juliette,  pára de me afrontar!
Eu não quero ser duro contigo.

J - Ainda mais? 

A - Queres mesmo ir para o colégio?

J - As alternativas são péssimas. Eu vou até completar 21 anos.

A - Como assim, até completar 21 anos?

J - Sim meu pai. No mesmo dia eu abandono o colégio e vou viver a minha vida com Rodolffo.

Juliette deixou o pai no escritório e foi até ao seu quarto escrever uma carta a Rodolffo.   Iriam estar afastados mas pelo menos ela iria estudar.  Talvez o tempo passasse rápido.

Artur de Magalhães ficou no escritório assimilando tudo o que tinha ouvido.
Quando é que Juliette se tornou tão rebelde, incapaz de acatar uma ordem do pai.

É minha única filha.  Será que estou a agir correctamente, pensou. 
Como vou conviver com a mãe dela depois de as separar por anos.   São 6 até os 21.

Serviu-se de uma bebida e puxou de um charuto.   Ali ficou tentando perceber onde isto os levava.  A verdade é que também ele ia sentir muito a falta dela.  Não era um pai que demonstraste muito afecto mas amava a sua menina.

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