capítulo 16

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Rodolffo e Juliette abraçaram-se com tanta saudade como se há muito tempo não se vissem.

J - Amor!  Escrevi-te uma carta.  Não sabia se te veria mais.  Depois lê.
Não sei o que vai ser daqui pra frente.  Quando vais embora?

R - Vou dia 2 de Janeiro.  Daqui a dois dias. Vem cá.   Deu-lhe um beijo e ela encostou o rosto no seu peito.

J - Cada dia nos afastam mais.  Devo ir para Miranda e só volto depois de fazer todos os estudos.
Vais esperar por mim?

R - Não tenhas a menor dúvida.   Mas eu tenho fé que não estaremos afastados tanto tempo.

J - O meu pai não gostou de saber de ti.  Ele conhece-te desde menino, sabe que és boa pessoa.  Porquê dificulta tudo?

R - Sou pobre.  É só por isso.

J - Agora já não és.

R - Sou a mesma pessoa.   O dinheiro é do meu pai.
Vais escrever-me como sempre?

J - Sem dúvida,  mas, se for para o colégio não sei se me entregam as tuas cartas.

R - Parece a história dos meus pais.  Separados por dinheiro.

Os dois ficaram quase 2 horas trocando juras de amor.  Seria a última vez que se viam este ano.

A reunião entre Artur, George e Rogério aconteceu.  Posto na mesa todos os prós e contra chegámos à parte financeira.

A - George, o negócio parece-me óptimo, mas, temos um sério problema.  Temo não ter condições para entrar na sociedade.
O valor a investir é elevado e de momento todo o meu capital está investido.  Fiz há pouco tempo uns investimentos e de momento resta-me dinheiro para as despesas normais.
Só terei capital disponível daqui a cerca de 8 meses que é quando estes últimos investimentos darão retorno.

G - Havemos de solucionar.   Eu poderia fazer o negócio sózinho, mas, não achei necessário.  Fazemos o seguinte:
Fazemos a sociedade,  eu entro com o capital todo e o Artur assina umas promissórias que serão liquidadas no prazo de 1 ano.
Nessa altura já devemos ter uma parte dos prédios em bom andamento e podemos começar as vendas.
Podemos vender uma parte ainda em construção e o restante pronto.

Artur ficou interessado no negócio.

G - Muito bem.  Vou preparar a papelada e depois aviso a data para ir ao Cartório assiná-la.

A - Agora vamos a uma bebida.  Isto merece uma comemoração.

A vida seguia o seu rumo.

O Rodolffo no Porto, a Ju em Miranda e os andares da sociedade já se elevavam do chão.

Já se passára quase um ano.
O Rodolffo vinha a Bragança de férias mas a Ju ficava no colégio.
Trocavam cartas porque apesar de Artur de Magalhães ter doado ao colégio uma quantia para não as entregar, George de Amorim pagou o dobro para serem entregues.

As freiras oportunistas receberam dos dois e assim a Ju tinha notícias do amado.

Artur de Magalhães andava angustiado.   Ainda não conseguira quitar as promissórias.   Os últimos investimentos não resultaram e ele perdeu todo o dinheiro.

Os prazos para quitar as promissórias estava  a terminar.  No contrato de sociedade havia uma cláusula em que caso ele não as liquidasse estaria fora da sociedade imediatamente sem compensação alguma.

Hoje foi ter com George a contar o seu infortúnio.

G - Lamento amigo mas eu costumo separar negócios de amizades.  Dou-te mais 2 meses.
É necessário investir mais dinheiro na obra pois surgiram algumas complicações e eu estava a contar com esse teu dinheiro.

Não tens nada que possas vender para liquidar as promissórias?

A - Vender o meu património?  Nunca.  Foi herança dos meus pais.

G - Pois,  mas se não pagares em 2 meses eu mando executar a dívida e lá se vai o património.

A - Não fazias isso George!

G - Fazia e faço.  Já disse que te dou mais 2 meses.

George saiu dali com um sorriso de orelha a orelha.  O plano tinha dado certo.  Agora era esperar.

O prazo terminou, a execução da dívida aconteceu e Artur de Magalhães perdeu praticamente tudo para George que permitiu excluir da dívida  a mansão,  actual residência da família.

O irmão de Artur ao saber do acontecido afastou-se dele.  Todos na cidade sabiam.  Os Magalhães já não eram tão poderosos.

O colégio onde Juliette estudava era caríssimo.   O pai agora tinha dificuldades em pagar as mensalidades.

George ofereceu-se para custear os estudos dela, desde que o pai a trouxesse para mais perto.  Havia um colégio idêntico em Vila Real.

A princípio ele não queria aceitar.  Afinal estava sentido por a sociedade não ter dado certo.
Depois de muitos dias alguém lhe disse para se aconselhar com o padre.  Ele lá foi e saiu de lá mais que doutrinado.

Naquela época  a palavra do padre tinha muita força.

Tratou da transferência da filha e foi buscá-la.  Ela estava radiante.  Nas férias estaria com o seu amor.

Rodolffo a princípio não concordou com o pai mas ele sabia que o pai da Ju precisava de uma lição.   Não se deve catalogar as pessoas pelo dinheiro que têm.

3 anos se passaram.  O ano lectivo tinha terminado.   Rodolffo e Juliette estavam de férias na cidade.
Continuavam a encontrar-se às escondidas normalmente na casa paroquial.
O pai permitia que ela continuasse a sair com o primo embora soubesse que já não havia noivado.

Rodolffo estava agora com 21 anos e Juliette com 19.
Rodolffo estava num dos seus encontros escondidos mas estava mais calado do que habitualmente.

J - Que foi, amor!  Estás tão calado.
O que se passa?

R - Estou farto destes encontros às escondidas.   Eu quero andar por aí contigo, de mão dada, sem medo que nos vejam.  Quero ver-te sempre que quiser e não com dias combinados.

J - Tem paciência,  amor!  Já  passámos por tanto.

Um beijo selou o nosso encontro.  Ficámos abraçados até Rogério aparecer.

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