Capítulo 17

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Juliette questionou o seu primo sobre o facto de seu pai de repente ter perdido uma fortuna.  A princípio Rogério não pretendia contar.  Rodeou o assunto mas Juliette era muito astuta e perspicaz.
Insistiu e acabou por convencer o primo a contar.

Rogério explicou todo o plano armado.
Eles não poderiam prever que o último negócio de Artur desse errado.   Desse eles não eram culpados.

Juliette estava abismada com tamanha canalhice.  Era certo que seu pai era arrogante e menosprezava os pobres e de classe inferior, mas, o que fizeram com ele, ela não gostou.

J - Rogério!  Rodolffo sabia disto?

Rg - Sabia mas sempre foi contra.

J - Não interessa.  Quem cala consente.  Por tudo isso meu pai vive agora deprimido e sem vontade alguma.
Condeno muito a conduta dele mas o que fizeram foi uma canalhice.

Rg - Juliette!  O teu pai terá a devolução total dos bens agora retirados.  Deixa ele entender que não é por ter um património enorme que se pode achar superior.

J - Eu entendi o propósito,  mas, é meu pai.  Por muito que eu esteja em desacordo com ele não gosto de o ver sofrer.
Diz ao Rodolffo que preciso de o ver.

Juliette jamais compactuaria com o plano.  Estava magoada com todos mas principalmente com Rodolffo.

Ele não concordou com o plano mas não lhe contou.  Ela pensava que não tinham segredos, mas, afinal há.

Entrou em casa e como nos últimos dias encontrou o pai sentado no jardim.  Era hora de almoço e ele ainda estava de robe.
Aquele ar imponente de pessoa poderosa tinha desaparecido.

Ela chegou perto dele e ele nem percebeu.

J - Pai!  Ainda de robe?  Onde está o homem de outrora elegantemente vestido?

A - Já não existe minha filha.  Desapareceu, só ficou este farrapo.

J - Não diga isso, meu pai.  Tem que reagir.  Os dias bons hão-de regressar.

A - Para mim está tudo acabado.  Agora só quero que tu fiques bem e arranjes um homem para casar que te dê o que eu já não tenho.
Não vou interferir mais nos teus sonhos.  Vive a tua vida e sê feliz.

J - Seremos todos felizes.  O dinheiro vai e vem.  Ainda o quero ver aqui neste jardim a brincar com os seus netos.  Seremos  uma família unida com muito ou pouco dinheiro.

Abracei o meu pai.  Há muito não tínhamos tanta intimidade devido à sua postura austera.  A falta de poder deu-lhe humanidade.  Nisso foi positivo mas ainda assim eu estava furiosa.

No dia seguinte Juliette foi ao encontro de Rodolffo nos jardins do Castelo.  Não queria que ninguém escutasse a conversa que iam ter.

Escolheram um local afastado onde ninguém os perturbaria.

R - Amor!  Fiquei preocupado quando Rogério me disse que querias ver-me urgente.
Há algum problema?
Eu estava a programar hoje ir conversar com o teu pai.  De homem para homem.

J - Primeiro responde só a isto.  Sabias da tramóia que o teu pai e Rogério estavam a armar contra o meu?

R - Sabia.  Mas desde o primeiro minuto fui contra.

J - E onde ficou a confiança um no outro para me contares.  Tens noção do que isso fez ao meu pai?  Ele é um homem acabado.  Nada o motiva.  Foi muita crueldade e sem necessidade.

R - Eles julgaram que assim o teu pai me aceitaria mais facilmente.

J - Fizeram tudo nas nossas costas.  Faltaram-nos ao respeito e tu concordaste.  Ao não me dizeres nem fazeres nada concordas com tudo.

R - Não concordei.  Tu é que estás a dizer.

J - Estou.  E estou muito mas muito magoada.  Não precisas de te incomodares a ir falar com o meu pai.
A nossa relação termina hoje.  Onde não existe confiança dificilmente existirá amor.

R - Não faças isso, Ju.  Eu Amo-te.   Vamos conversar.  Vamos resolver.

J - Eu também te amo, mas, de momento não consigo estar nesta relação.
Juliette deixou o Rodolffo sózinho e foi embora com o Rogério.

R - Juuuuu!!! Chamou Rodolffo mas ela seguiu sem olhar para trás.

Rg - Tens a certeza do que estás a fazer?

J - Certeza eu não tenho, mas, neste momento é o que quero.

Depois desse dia não mais se viram.  Rodolffo enviava recados por Rogério para conversar mas Juliette não respondia.

Terminaram as férias e cada um seguiu para a sua cidade.
Rodolffo proibiu o pai de fazer mais alguma coisa a favor do namoro dos dois.  Já interferira o bastante, era a sua opinião.

Mais um ano se passou.  Apesar de voltarem para a mesma cidade,  Rodolffo e Juliette não se falavam.  Encontravam-se ocasionalmente ora na igreja ora em qualquer saída mas só rolava uns olhares entre eles. 
Os dois sofriam mas eram demasiado orgulhosos para sentar e conversar.

O pai da Ju tornou-se menos dominador e permitia que ela saísse quando quisesse mesmo sózinha.  Estava muito mais confortável com a sua condição.
Ele nunca culpou o pai do Rodolffo por lhe tirar parte da fortuna.   Afinal ele é que fez péssimo negócio.   Nunca soube da tramóia.  Nem a Ju nem Rogério,  nunca contaram.

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