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ARIZONA

- Arizona! - Escutei de longe Simone me chamando. Sua voz e o lugar todo parecia diminuir o volume. - Arizona, me escuta. - Senti ela me segurar pelos ombros tentando ver meu rosto. - Respira, por favor. Não pode ter um piripaque aqui.

- Eu... eu vi... - Tentei falar, mas o ar começou a faltar.

- Viu o quê? - Disse me tirando dali aos poucos. - Vamos, me diga.

- Vi ele... no... no Gabriel. - Podia jurar que eu tinha voltado ao passado por segundos. E finalmente a encaro.

- Nossa, Ari, sinto muito mesmo. - Ela lamentou me abraçando.

- Me leva para casa. - Peço com a voz embargada. Só então notei que já estávamos ao lado do meu carro. Entramos e ela deu partida. - Acho que não posso mais fazer isso.

- Isso, o quê? - Perguntou confusa.

- Viver assim. - Suspirei segurando lágrimas. - Tentando ignorar e achar que vou seguir em frente normalmente.

- Você não vai se fechar de novo, Arizona. - Disse puta.

- Vou sim. - Vou mesmo.

- Não pode viver assim por causa dos outros. - Finalizou. Ao chegar em casa só consegui tomar um banho e cair na cama e desabar no choro. Não aguento mais lembrar. Depois de tempos caio no sono.

- Você vai sair e nos deixar sozinhos em casa. - Escutei ele mandar rispidamente.

- Paulo, olha lá o que vai fazer. - Avisou ela. - Vê se não traz mais despesas para casa. - Não entendia o que ela quis dizer, mas certeza podia sair caro e não era no dinheiro que pensei.

- Eu sei o que faço. - Disse por fim e começou a subir a escada.

Me sento rápido na cama ao sentir um peso sobre ela. Sem fôlego, vejo que são meus filhotes.

- Crianças, não podem pular na cama. - Briguei agarrando eles um em cada braço. Só eles para me fazer esquecer por alguns minutos do passado.

- Mamãe, só assim para te acordar. - Bernardo explica desistindo de sair do meu aperto.

- O titio Gol, 'tá lá baixo. - Ravi falou mesmo uma frase inteira? Mas, espera aí.

- O Gabigol está lá em baixo? - Perguntei surpresa. Que porra ele está fazendo aqui?

- Xim, ele que te vê. - Bernardo confirmou.

- Vou trocar de roupa, então, podem me esperar lá embaixo? - Digo me levantando e os colocando no chão.

- Tá bom, mamãe. - Disseram e saíram. Foi ao banheiro me arrumar, na verdade, apenas lavar o rosto e vestir meu roupão. Desci as escadas a procura dele pela casa e o vejo sentado no sofá vendo as crianças jogando bola no quintal.

- Gabriel. - Respirei fundo antes de dizer seu nome. Ele olhou por cima do ombro e levantou vindo até mim.

- Arizo... - O interrompi.

- O que veio fazer aqui? - Perguntei ríspida.

- Por que 'tá assim? O que houve ontem? - Perguntou franzindo a testa calmamente.

- Não te devo explicações da minha vida. - Puxei seu o braço o arrastando até a porta.

- Como assim não me deve? - Parei e olhei com a sobrancelha arqueada.

- Devo? Por qual motivo? - Abri a porta e o empurrei para fora.

- A gente teve um lance que..... - Quase ri. Um lance...

- Tivemos lance nenhum e muito menos te devo explicações. - Cruzei os braços. - E não quero você dentro da minha casa, não quero que venha e muito menos fale com meus filhos.

- Para que tudo isso? Não posso fazer nada nessa porra. - Se irritou como uma criança birrenta.

- Primeiro, você veio e entrou sem minha autorização. Segundo, você está me perseguindo há tempos, não aguento mais. - Desabafei praticamente. Se aproximou com um ato meio brusco.

- O que mais você quer? Abre o jogo. - Disse cerrando os dentes.

- Ok, não quero ter você perto de mim. Não quero me machucar de novo como você ia me machucar ontem. - Ele me olhou confuso.

- Eu? Te machucar? - Perguntou e soltou um sorriso sínico. Debochou de mim?

- Quer saber, vai se foder. Vai embora. - Surtei. Entrei e fechei a porta antes que ele falasse algo mais.

- Sabe que ele não fez nada né? - Francisca aparece do meu lado do nada. Dou um pulo e levo a mão ao coração.

- Quer me matar?! - Ela só cruza os braços e pergunta de novo.

- Sabe que ele não fez nada, não é? - Revirei os olhos e respondi.

- Sei, em parte. Mas ele tem que se afastar. - Olhei para fora pela janela e ele não estava mais lá. - Ele tem.

- Sabe porque você quer tanto que ele se afaste? - A olhei sem entender. - Porque você gosta dele e tudo que ele faz te derrete aos pouquinhos.

- Nem conheço ele, como posso me derreter por ele. - Ri nervosa e fui para o pé da escada. - E por favor, se ele aparecer, não o deixa entrar. 

CONTINUA..? 

VÁRIOS ENCONTROS - Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora