Capítulo XLI - Luke

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Patrick tinha acabado de retornar com o dinheiro e um dos homens de Cris já estava de guarda no lugar, acompanhando a movimentação e nos mantendo informados, agora era nossa hora de ir até Karen. Eu estava agradecido, pois, tinham sido as horas mais difíceis da minha vida.
— Nós vamos com você! — Alejandro afirmou enquanto colocávamos as malas de dinheiro no porta mala.
— Não mesmo, você e Patrick vão ficar aqui em segurança. A última coisa que precisamos é de mais pessoas correndo risco! — foi Cris quem deu a ordem. — Alex vai ao volante porque precisamos de alguém de prontidão para nos tirar de lá, enquanto isso vocês esperam.
Ainda era difícil acreditar que Jane estaria envolvida nisso, a ideia de alguém cometendo uma loucura por minha causa não fazia sentido para mim, ainda mais uma pessoa que eu não tinha nenhuma ligação há anos e agora decidia pagar pessoas para invadir minha casa, sequestrando minha mulher e minha irmã, eu não conseguia entender.
Mas assim que Kevin invadiu a vida privada daquela mulher sobrou espaço para muitas dúvidas. Não sei como ele conseguiu, mas não demorou para ter acesso aos e-mails, mensagens e ligações dela. A lista imensa de chamadas para o número de Karen comprovou a ligação entre às duas.
— Jane não precisa do dinheiro, ela é rica. Porque diabos iria sequestrar as duas e pedir cem mil? — questionei andando para o carro.
— Isso é sobre você Luke, Karen e os outros estão nessa pelo dinheiro, mas essa mulher está fazendo tudo isso para conseguir algo de você e é o que me assusta. — Kevin falou ao meu lado, enquanto checava a própria arma mais uma vez. — Mas pelo que vejo aqui ela não tem mais tanto dinheiro assim, o marido pediu o divórcio há uma semana e como se não bastasse ela foi mandada embora do hospital três dias atrás.
— Isso tudo deve ter mexido com a cabeça dela, a levado a pensar em uma fase da vida quando ela estava no controle e quando tinha de tudo. — Cris completou a fala dele.
De verdade agora as coisas faziam mais sentido e eu ter terminado a fisioterapia pode ter mexido ainda mais com a fantasia maluca dela.
— O que mais me preocupa é que se Jane estiver lá à coisa pode ficar feia, vai deixar de ser uma simples troca de refém, por isso quero que fique com isso.
— Mas eu já tenho uma arma. — foi a minha resposta quando ele me empurrou a arma que tinha acabado de conferir.
— Não confie em apenas uma arma, tem que entrar na briga com a certeza de que vai ganhar. Além disso, não será apenas a sua vida que vai estar em jogo. — engoli em seco com as palavras dele, porque mesmo que fossem duras era a realidade, a vida de Ava, Lisa e do nosso bebê corria risco, sem falar na vida de todos que estavam nos ajudando. — Tem que estabelecer suas prioridades.
Eu não consegui evitar pensar no dia em que levaram Magie, eu podia lidar com a ideia de ser baleado novamente e até morto, mas não suportaria que nenhuma delas saísse machucada, mesmo assim respirei fundo tentando lidar com a conversa.
— Você está dizendo que pessoas podem morrer hoje, entendo que esteja querendo me preparar para o pior...
— Eu estou sendo realista! Cris e eu organizamos tudo para elas saírem ilesas, mas não tem como garantir o resto. — ele ergueu uma sobrancelha encarando o fundo dos meus olhos. — Quero que você saiba que Karen não é minha prioridade aqui, digo isso porque sei que você sempre tentou cuidar dela apesar de tudo.
— Isso foi antes Kevin, antes dela mentir para mim, tentando entrar na nossa casa atrás de dinheiro, disposta a trazer dor e sofrimento para nós outra vez. Agora a prioridade é minha família, minha mulher, meu bebê e Ava! — afirmei sem pensar duas vezes.
Karen tinha feito às escolhas dela e eu estava mais uma vez desapontado que não tivesse escolhido os filhos, mas era a realidade e não importava o quanto eu quisesse, algumas pessoas não tinham salvação.
— Ótimo, é bom saber que você finalmente está pensando na sua felicidade!
— Ok, estamos chegando. — foi Cris quem falou tocando no aparelho enfiado em sua orelha. — Os outros já estão posicionados, assim que pararmos você vem comigo e com a mala de dinheiro. Ale se mantenha afastado, mas não muito longe, quando tirarmos às duas lá de dentro quero sair daqui o mais rápido possível.
— Espera, Kevin me deu a arma e vai sair lá fora desarmado? — questionei quando não o vi fazer menção de pegar outra arma.
— Quem disse que vou desarmado? — ele deu um sorrisinho antes de agarrar a alça da maleta que não saia do seu lado. — Minha belezinha está aqui e eu vou estar longe observando tudo e garantindo que não vão ter problemas maiores.
Meu irmão abriu a porta e sumiu andando rápido em meio às pessoas que circulavam ali. O sol estava perto de se por e todo o céu estava pintado em um tom alaranjado, quase deixando aquele lugar da cidade menos feio, mas isso era só até parar para observar realmente as pessoas, magras, vagando com os olhares tristes e sem esperança, outros já vidrados como efeito de alguma droga.
Observar toda aquela miséria e tristeza, todas aquelas vidas de perto, me fizeram pensar em minha mãe. Nunca soube ao certo quando ela começou a se drogar, mas eu sabia que ela continuava naquilo para não precisar encarar a própria vida, Karen nunca foi forte o bastante para lutar contra os vícios, nem por si mesma, nem pelos filhos.
— Está na hora de ir. — Cris avisou assim que o som do meu celular invadiu o carro.
Sacudi minha cabeça, espantando todos aqueles pensamentos e me concentrando no que precisava ser feito nesse momento. Agarrei as alças das malas e desci do carro.
— Oi Karen, estamos entrando agora. — foi minha saudação a ela no celular enquanto seguia Cris para dentro do estacionamento.
— Ótimo, vamos deixá-las prontas. — antes que eu pudesse dizer qualquer coisa à ligação foi encerrada.
As pessoas a nossa volta pareciam mais atentas a nossa presença, os olhos nos seguiam, alguns chegavam perto ou esbarravam em nós dois, mesmo que Cris tivesse um olhar mortal estampado no rosto.
— Estamos no lugar certo, só temos que andar mais um pouco! — ele afirmou andando a passos mais largos, mas eu só conseguia olhar em volta pensando em como estariam as duas em um lugar como esse. — Kevin já tem a nossa visualização, agora só temos que torcer para conseguir soltá-las sem que Jane apareça.
O cheiro do lugar e sujeira só não era pior que o estado das pessoas, meu estomago se revirava e eu me sentia doente por imaginar minha mãe vivendo naquela situação, quando podia estar em casa comigo, sendo bem cuidada.
As pessoas realmente moravam ali, jovens e velhos, homens e mulheres, a maioria viciada e alguns que provavelmente não tinham outro lugar para ir.
— É ele! — avisei assim que meus olhos focaram em Ethan parado em frente a uma lona preta. — Aquele é o desgraçado do namorado da minha mãe.
Cris deu um passo para o lado me deixando ir à frente como havíamos combinado, ele estaria na minha retaguarda, mantendo os olhos focados em tudo a nossa volta.
— Olha só, ele não é mais um aleijadinho. — foi a primeira coisa que ele falou quando ficamos cara a cara. — Foi assim que conseguiu fazer um filho com aquela vaca?
— Vamos logo com isso, não vim até aqui para ter que ver essa sua cara de merda. — falei trincando os dentes e me forçando a manter a calma, mesmo que minha vontade fosse de quebrá-lo na porrada. — Onde estão minha mulher e minha irmã?
Kevin tinha dito que eu precisava manter a cabeça focada nas minhas prioridades, mas após ver tudo aquilo eu não podia sair dali e não tentar tirá-la daquela vida outra vez.
— Está pensando que é assim? Onde está a nossa grana? Não vamos deixar as duas fedelhas vivas de graça. — ele olhou em volta, como se quisesse se certificar de que ninguém ouviria. — Sua outra namoradinha nos ofereceu a mesma quantia para entregar Monalisa e o bebê em pedacinhos.
— O quê? — questionei quase sem voz, com o bolo que havia se formado em minha garganta, me impedindo de formar uma frase sequer.
— É parece que você tem um fraco por mulheres de jaleco, não é? — o desgraçado sorriu e chegou ainda mais perto de mim, parecendo se divertir com meu desespero. — Sua mãe foi pro hospital procurar você na fisioterapia, tentar uma reaproximação, mas não esperava ir encontrar nossa mina de ouro.
Cris se moveu para o lado me assustando, tudo aconteceu tão rápido, eu nem mesmo tinha notado a aproximação do homem por trás de nós, portando uma faca, mas quando me virei Cris já o tinha imobilizado apertando a faca dele mesmo contra o pescoço.
Era o mesmo homem que apareceu levando Lisa nas imagens das câmeras de segurança.
— O que estavam pensando? Prender nós dois junto aqui e pedir mais um resgate? — gritei explodindo de raiva. — Com certeza a ideia de Jane iluminou a mente de merda de vocês para pedir outro resgate, muito provavelmente para Stella dessa vez!
Ethan estava com os olhos levemente arregalados, deixando evidente que a mente de merda dele não esperava por isso, ele com certeza não esperava por nós. Ele desviou o olhar de mim para Cris rapidamente, antes de levar à mão as costas, mas fui mais rápido e puxei minha arma já atirando.
Três disparos acertaram seu peito antes que ele caísse no chão. Eu não estava preparado para aquilo, não tinha me preparado para uma morte tão rápida e sem haver sequer uma briga, mas como Kevin me disse eu ia entrar na briga para ganhar.
O comparsa de Ethan caiu no chão no instante seguinte, com a garganta cortada vertendo sangue.
— Atrás da lona! — Cris avisou, tirando minha atenção do homem desfalecendo no chão, e me deixando confuso. — Olhe atrás da lona, elas com certeza estão lá!
Pisquei meus olhos e me afastei dele, o deixando lidar com o corpo enquanto eu alcançava a lona escura. Quando puxei o plástico para o lado a primeira coisa que eu avistei foi Ava de joelhos perto da porta junto com minha mãe, às duas me olharam rapidamente e desviaram o olhar para o fundo do espaço apertado, onde Jane segurava uma arma contra a cabeça de Monalisa.
Senti o mundo a minha volta estremecer quando avistei o rosto pálido da minha mulher, os olhos arregalados me encarando com puro pavor.
— Luke... — ela me chamou, mas Jane agarrou os cabelos dela, os puxando e forçando a cabeça de Lisa para trás.
— O que veio fazer aqui? Porra não era para você estar aqui, muito menos vendo isso! — Jane gritou parecendo realmente fora de si. — Eu fui clara com sua mãe, eles precisavam sequestrar a garota e matá-la, apenas isso! Um plano simples que eles fizeram questão de estragar!
Minha mãe choramingou ao lado de Ava, levando as mãos ao peito e se fazendo de inocente, mas ela não era nenhum pouco, porque além de aceitar esse acordo absurdo, agora tentava arrancar dinheiro de nós.
— Eu não podia, não podia matar meu neto. — a voz da minha mãe soou atraindo a atenção de Jane no mesmo instante que Cris se aproximou das minhas costas. — Se fosse só essa mulher eu teria feito, estaria livrando Luke de uma vaca desalmada, mas ela está grávida, carregando meu neto!
— Não me interessa, ela poderia estar carregando a porra do mundo e ainda sim, você deveria ter feito o que eu mandei! Ainda por cima trouxe a própria filha, mais uma que eu vou ter que matar para limpar essa bagunça, tem ideia de tudo o que me causou Karen? — mas enquanto ela gritava senti a mão de Cris segurar meu braço, me fazendo recuar um passo ao invés de entrar ainda mais no espaço apertado.
— Kevin não tem visão de tiro aqui e qualquer movimento nosso pode causar o pior, tem que fazê-la sair daqui. — foi o que ele sussurrou, aproveitando a distração dela.
— Isso deveria ter acabado depois que pediram o resgate, deveriam ter matado a vadia e pronto! — aquela era minha deixa, o momento de convencê-la a sair dali.
— Jane porque está fazendo isso? Eu não entendo o porquê fez tudo isso.
Os olhos dela se focaram em mim rapidamente e um sorriso estranho brotou nos lábios falsos. Ela parecia estar fora de si e eu podia dizer isso apenas de olhar em seus olhos.
— Você não sabe? Luke eu tenho estado atrás de você dede que você começou a fazer a fisio, não menti quando disse que o queria e estava disposta a pagar por você, como já fiz antes tantas vezes.
— Mas por quê? Vamos conversar e resolver tudo só nós dois, vem comigo? — estendi minha mão na direção dela, mas sem dar nenhum passo adiante, queria que ela aceitasse minha mão e viesse comigo.
— Não! Você não entende, eu preciso tirar ela da sua vida e aí sim, você vai voltar a ser o Luke de antes. — ela puxou o cabelo de Lisa com mais força a fazendo gritar e eu quase cedi ao meu impulso de correr para ela. — Quando ela e esse bebê forem embora você vai voltar a ser quem era antes, tenho certeza. Você disse que não fazia mais isso e fez de tudo para que eu te colocasse com outro médico. Eu sei que é culpa dela querida, eu sei disso e vou resolver o problema.
Ela estava completamente fora de si, exatamente como Kevin tinha encontrado no relatório, todas as coisas que ela estava passando afetaram a cabeça dela e por algum motivo ela tinha me colocado como salvação.
— Mas isso foi antes Jane, agora Lisa e eu estamos separados. — minhas palavras pareceram surtir um efeito nela, pois os dedos começaram a soltar os fios. — Estamos morando juntos até o nascimento do bebê, mas não existe mais nada entre nós.
— Viu só, ela nunca te mereceu, não serve para você Luke. Eu sim, te conheço há anos e sei bem o que você merece e quer.
— Sim, você me conhece. Foi à primeira mulher com quem transei, você que me ensinou muito do que eu sei. Por isso eu peço, venha comigo e vamos conversar, podemos resolver tudo e entrar em um acordo como nos velhos tempos.
Abri meu melhor sorriso e sacudi minha mão estendida a frente dela, antes de dar um passo para trás. Jane soltou o cabelo de Lisa com uma lentidão que me deixou maluco, mas sem eu esperar ela deu um passo a frente, vindo na minha direção.
— Sabia que ouviria a voz da razão, ela não serve para você, nem ao menos te viu dançando desde o começo. — Jane andou devagar para fora e Cris e eu continuávamos a recuar. — Depois que você saiu da XXL nada foi o mesmo, e quando eu te encontre no hospital senti ser um sinal, que era minha hora de fazer algo para te ter de volta.
— E eu estou aqui, a deixe aí e vamos conversar, quero entender melhor o que você quer de mim.
— Eu quero tudo Luke, entre nós dois tudo sempre foi simples e intenso, nossa química é surreal. — quanto mais ela falava mais eu tentava encontrar algo que fizesse sentido, porque nada daquilo era real.
Mas os dedos dela finalmente deslizaram na palma da minha mão, me permitindo agarrá-la com firmeza e a puxar completamente para fora, dando a Kevin a visão que ele precisava.
— Tudo vai ficar bem, nós vamos resolver tudo você vai ver.
— Juntos? — eu acenei concordando e sorrindo para ela, mas bastou um gemido de dor vindo de Lisa, para que meus olhos se voltassem para o cubículo. — Eu preciso acabar com ela!
Jane virou o rosto rapidamente erguendo a mão com a arma, o gatilho foi apertado e o som seco do disparo ecoou, minha mãe correu no mesmo instante que eu puxei a mão dela, mas já era tarde de mais.
Quando eu vi Karen já estava caindo no chão com uma bala enterrada na lateral do corpo.
— Mãe! — gritei soltando Jane. — O que você fez?

Seduzindo O Paciente - Retirada 14/12Onde histórias criam vida. Descubra agora