Capítulo XXI - Monalisa

1.6K 180 24
                                    

Não tínhamos mais tocado no assunto da mãe dele desde aquele dia, eu prometi que não faria e não fiz. Mas Ava e eu nos tornamos íntimas nesses dois meses, ela confiava em mim e me contava coisas sobre sua família, sobre o passado, e foi assim que eu descobri o problema de Luke em depender das pessoas.

Eu não conseguia imaginar como deveria ser ter sido criado da forma que ele foi, da forma que todos eles foram, mas os mais novos ao menos tinham ele e Stella. Já Luke e a irmã mais velha tiveram que se virar para tentar sobreviver na vida.

Depois que Ava me contou sobre as coisas horríveis que a mãe fazia, os abandonos e todo o drama quando ela voltava pra casa com um novo namorado, eu passei a entender melhor toda a dinâmica da família. Eles eram unidos, amigos e irmãos, Luke e Stella quase pais para os outros.

Nik era tímido ao extremo, até com outras crianças, Ava era rebelde e impulsiva, brigava com todos de forma defensiva. Kevin, que conheci hoje era taciturno, durão, eu diria até que mais durão que o irmão mais velho, ele tinha uma armadura em volta de si, que nem mesmo quando fazia piadas ou brincava com a família ela se desfazia. Stella eu tive a oportunidade de ver em alguns almoços em família, um doce, educada, amável e se desculpava por qualquer coisa a todo instante, mesmo quando ela não deveria se desculpar.

E Luke eu sabia que além do muro que ele erguia entre nós dois, havia outras coisas, coisas que eu não tinha ideia do que poderia ser para ele querer esconder com tanta força. Mas ele tinha seus traumas e não me deixar entrar era mais uma prova disso.

Por isso no instante que eu ouvi a mulher chamar ele de filho eu senti meu sangue ferver e uma vontade de brigar me invadir. Eu queria brigar por todos eles que foram privados de amor e carinho de mãe, queria gritar com ela pelo Luke criança que foi negligenciado desde os cinco anos pra cuidar dos outros e de si mesmo, queria socar a cara dela por todo sofrimento que todos eles carregavam, até o pequeno Nik, que mal chegou a conhecê-la.

- Isso é jeito de receber sua mãe e o marido dela? Você não aprendeu nada todos esses anos? - a mulher teve a ousadia de questionar ele. - Mas respondendo a sua pergunta, foi o antigo carteiro, ele me deu o endereço do seu apartamento, mas quando chegamos lá vocês não estavam e então uma vizinha nos disse que você tinha se mudado.

- E você veio aqui porque? Atrás de dinheiro ou jogar outro irmão na nossa porta? - Ava gritou batendo a porta do carro com mais força do que o comum para ela. Mas quem poderia julgá-la?

Um trovão retumbou nas nuvens nos lembrando que a noite hoje prometia uma grande tempestade, todos já estavam se preparando e era melhor entrarmos com rapidez.

Conferi a cadeira de Luke mais uma vez antes de entregar as chaves na mão de Ava.

- Leva ele pra dentro, eu vou guardar o carro. - falei com ela, mas meus olhos não saíam da mãe desnaturada e do babaca abusado ao lado dela.

- É melhor voltar para o mesmo buraco de onde saiu, não queremos nada de você e não vamos te dar nada. - Luke disse apoiando as mãos na roda e Ava se aproximou da cadeira rapidamente.

Eu entrei no carro já apertando o botão da garagem e enfiando o carro lá dentro o mais rápido possível. Não queria perder nenhum segundo da conversa e queria os dois o mais longe possível daqui antes que a chuva começasse. Mas para minha falta de sorte, assim que eu cheguei na entrada da casa Luke estava olhando os dois entrarem em casa e Ava já tinha sumido.

- O que está acontecendo aqui? - eu questionei, mesmo que não tivesse nenhum direito de fazer, afinal a mãe era dele e a casa também.

- Eles vão passar a noite aqui, por conta da tempestade, mas amanhã vão embora. - Luke respondeu acenando com a cabeça na direção deles, como se relembrasse que era apenas por uma noite, mas eu duvidava disso. - Tem cobertores no armário do corredor, eu ofereci pra eles o seu quarto, espero que não se importe.

Seduzindo O Paciente - Retirada 14/12Onde histórias criam vida. Descubra agora