Jane só teve tempo de abrir a boca antes que uma bala se cravasse em sua testa, a levando para o chão bem ao lado da minha mãe. Não vi de onde o tiro com tanta precisão veio, mas sabia que tinha sido Kevin.
— Ai meu Deus! Não, não, não! Isso não pode estar acontecendo! — Ava se arrastou como conseguiu até estar perto da nossa mãe. — Você não pode morrer assim, tem muito o que explicar. Muita coisa para pagar!
Ela gritava parecendo estar brigando, mas a verdade estava nos olhos transbordando em lágrimas enquanto sacudia a nossa mãe e aquilo me quebrou por dentro, por mais raiva que ela pudesse sentir de Karen não desejávamos aquele fim.
— Chama uma ambulância! — gritei com Cris enquanto corri até Lisa, a peguei no colo sem pensar duas vezes, só queria tirá-la dali e poder olhá-la em outro lugar, longe de toda aquela sujeira e o cheiro pútrido. — Você está bem amor? Está machucada?
Passei minhas mãos em volta dela freneticamente, procurando por machucados enquanto arrancava as fitas de suas pernas e de seus punhos, meus olhos correram pelo corpo dela buscando qualquer indicio de que ela estava passando mal.
— Não, eu estou bem. — mas eu não dei ouvidos a ela e continuei minha inspeção. — Luke, por Deus! Eu estou bem! — Lisa agarrou meu rosto, me obrigando a olhar em seus olhos. — Agora vá ficar com sua mãe.
Desviei meu olhar para Karen que balbuciava no chão, conversando com Ava enquanto o sangue se esvaia de seu corpo, manchando aquele chão imundo. Eu não queria ir, a última coisa que eu queria ter de lidar agora era com minha mãe agonizando, mas eu não tinha a porra de uma escolha ali, ela precisava de mim.
— Já volto. — plantei um beijo na testa de Lisa e deixei que Cris a amparasse, antes de me ajoelhar ao lado da minha mãe. — Aguenta firme, a ajuda está chegando. — foi tudo o que saiu da minha boca.
Meu coração se apertou no peito ao vê-la tão frágil e pequena ali, sangrando e ficando mais pálida enquanto nos olhava de verdade pela primeira vez em anos. Aquele não era o olhar de interesse ou o olhar vidrado, era o olhar de mãe carinhosa, o mesmo que eu costumava receber antes dos meus seis anos.
— Está tudo bem... filho, vou morrer tranquila... porque salvei meu neto, minha próxima geração. — a voz falhava e eu não duvidava que logo ela estaria se sufocando no próprio sangue e não tinha nada que eu pudesse fazer.
Nem todas as coisas que tinha acontecido entre nós nos últimos meses fez com que eu me sentisse bem sobre ela estar assim. Eu tinha decidido dar a ela uma nova chance, levá-la a uma clínica e ajudá-la no que fosse preciso, mas agora ela estava ali, com sua vida se esvaindo aos poucos.
— Que porra aconteceu aqui? — ouvi a voz de Kevin atrás de mim e antes que pudéssemos responder ele já estava se ajoelhando ao nosso lado e colocando as mãos nela.
— Jane atirou nela antes que você a matasse. — foi Cris quem contou a ele.
— Eu vi a arma dela disparar, só não imaginei que tivesse conseguido acertar ninguém, Luke foi rápido em puxar a mão dela do caminho, a porra do tiro deveria ter acertado o chão! — ele rosnou, deixando toda sua raiva transparecer enquanto rasgou a blusa dela, abrindo mais o buraco que a bala tinha feito para conseguir ver melhor o ferimento nas costelas.
— Mamãe entrou no meio, ela queria proteger Lisa. — expliquei melhor o que ela tinha feito, não me importava se ela dissesse que fez aquilo apenas para salvar o neto, ela tinha salvado a mulher da minha vida também.
— Por sorte a bala atravessou e não parece ter acertado nenhum órgão. — Kevin constatou após virá-la de lado e conferir a saída da bala, então ele arrancou a própria blusa e pressionou contra o ferimento dos dois lados, lhe arrancando um grito de dor. — Vamos logo para o carro, não precisamos esperar que a ambulância chegue aqui e encontre toda essa merda.
Ouvi Cris dando ordens em seu comunicador, mas tudo se foi quando outro gemido de dor escapou da boca de nossa mãe quando Kevin a pegou no colo.
— Aguenta firme, você vai ficar bem! — afirmei mesmo que não tivesse essa certeza, eu queria acreditar que tudo ficaria bem, eu precisava acreditar nisso.
Ava caminhou com passos rápidos tentando acompanhar Kevin, enquanto Cris procurava qualquer coisa que pudesse nos incriminar, eu me aproximei de Lisa recebendo seu sorriso doce que servia de combustível para mim naquele momento, um combustível potente para me fazer continuar lutando.
— Pronto para me levar para casa? — ela perguntou de forma calma e com a voz doce, sendo capaz de aplacar um pouco o desespero em meu peito.
— Estou pronto para levá-la para o hospital e confirmar que vocês dois estão bem. — levei minha mão a barriga dela, acariciando nosso filho por um instante antes de me curvar e pegá-la no colo, pronto para sair dali. — Depois disso quero ficar sozinho com vocês, trancado em casa por longos dias.
— Acho que também preciso disso, ter meus olhos sobre você, enquanto vivemos em uma bolha só nós dois, sem nenhum problema ou preocupação. — foi a resposta de Lisa ao envolver meu pescoço com o braço, me puxando mais para perto.
Quando chegamos à rua avistamos Kevin já entrando em um carro com um dos homens do Cris, Ava o acompanhou e eles não demoraram a partir. Alex parou o carro logo em seguida, Cris rapidamente abriu a porta para que eu entrasse com Lisa no banco de trás e assim que entrou ele se sentou na frente saímos de lá.
Toquei o rosto da minha garota de forma demorada, aproveitando a segurança do carro para poder prestar ainda mais atenção a ela e a cada detalhe que eu não tinha sido capaz de notar no estacionamento.
Uma mancha roxa se destacava em sua bochecha esquerda, assim como um corte pequeno em seu lábio. Não conseguia nem imaginar o que ela tinha passado nas mãos daquele desgraçado, e então eu fui tomado pelo medo de que Ethan tivesse conseguido terminar o que começou em casa, tanto com Lisa quanto com Ava.
— O que aconteceu com vocês... — engoli em seco, sabendo poder não gostar da resposta. — O que aconteceu com vocês enquanto estavam lá?
— Não aconteceu o que está pensando, sua mãe não deixou que nenhum deles chegasse perto de nós. — ela me garantiu, mas eu passei o polegar em seu lábio, mostrando a ela que estava visível o seu machucado. — Isso não foi nada, ela só me acertou um tapa porque tentei usar vocês para amolecer o coração dela.
— Sinto muito. — balancei minha cabeça em negação, sabendo que tudo aquilo era culpa minha. — Sinto muito mesmo linda, nada disso deveria ter acontecido com você.
— Não! Nem comece com isso, não quero que se culpe por nada do que aconteceu, nada disso foi culpa sua. Aquela mulher era uma lunática que te queria a qualquer custo, não se culpe por isso. Na verdade, temos que agradecer que ela foi atrás de sua mãe, pois foi o elo de Karen com nosso filho que impediu que fossemos mortos, se fosse outra pessoa eu não quero nem pensar onde estaríamos agora.
Beijei a testa dela fechando os olhos e evitando pensar no pior, pois eu nunca me perdoaria se algo tivesse acontecido com elas. Só queria esquecer de tudo isso, apagar tudo o que aconteceu hoje, esquecer que um dia conheci Jane.
— Nunca mais vou ficar longe de você. — enfiei meu rosto na curva do pescoço dela, precisando desesperadamente sentir o cheiro dela. — Não vou tirar meus olhos de vocês nunca mais.
A mão dela cobriu a minha, que descansava em sua barriga de forma protetora, e aquilo era tudo o que eu precisava, nada mais me importava. Mas Lisa parecia ainda ter outras preocupações.
— Como vamos fazer com aqueles corpos? — ela questionou se afastando um pouco para me olhar. — Como explicar para a polícia os três mortos?
— Kevin vai resolver isso, na verdade, já deve ter dado um jeito. — Lisa franziu a testa confusa, assim como eu ainda estava. — É uma longa história e ele prometeu explicar tudo quando estivéssemos reunidos em casa, mas para resumir ele não é um engenheiro e trabalha como uma espécie de assassino para o governo.
Ela com certeza tinha mais perguntas, mas chegamos ao hospital e todas as outras coisas ficaram para depois. Só importava a saúde dela e do nosso filho.
Não demorou para que fossemos atendidos e só quando me confirmaram que os dois estavam em perfeito estado foi que respirei aliviado, como se um peso fosse tirado do meu peito.
Eu poderia levar Lisa e nosso bebê de volta para nossa casa, em paz e segurança, onde todo o resto da família nos esperava.
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Seduzindo O Paciente - Retirada 14/12
RomanceMonalisa sempre batalhou por tudo na vida, desde que perdeu os seus pais bem cedo ela cuida do irmão com a ajuda da Nona e faz de tudo para não lhe faltar nada. É por isso que ela aceita sem pensar o novo trabalho, mas não esperava que seria enferme...