"Você é um falso."
Foi o que ele escutou ao ser empurrado para a lama. Na verdade, não foi a primeira vez e nem a última... Jessy sempre foi empurrado para a lama. Nunca realmente foi aceito como era... Na verdade nem sabia mais quem era. Sempre se transformava dependendo da pessoa que encontrava, sempre se transformava naquilo que as pessoas mais gostavam e queriam ver.
Jessy se perdeu em meio à tantas facetas que criara, o que gerava toda essa atenção negativa a sua pessoa. Portanto, seu emprego na SCP era perfeito — Não precisava ser ninguém. Havia desaparecido da sociedade, agora ele não era ninguém... Só era mais um dos cientistas anônimos que trabalhavam... E que trabalho!
O homem... Ou melhor, a pessoa que sequer sabia seu gênero mais — dentre outras coisas — levantou-se. Olhou em volta em seu quarto do dormitório da Fundação. Branco. Branco era a cor que prevalecia, o que era acentuado pelos móveis modernizados e sem vida ou personalidade... Como ele mesmo.
Pisou naquele piso de cerâmica gélido e foi em direção ao banheiro, parando na pia com as mãos apoiadas. Passou a mão por sua face e observou o espelho remendado com fitas. Ele não gostava de se olhar ao espelho, mas mesmo assim, retirou uma das fitas, puxando-a de uma vez. Revelou seus olhos que eram um azul frio e sem graça, pareciam olhos de peixe morto.
Fechou seus olhos e repentinamente uma memória vem à sua mente.
— Ah, você tem olhos de modelo. - Comentou Cris, enquanto mordiscava uma isca de frango.
— Como assim?
— Ah, sei lá. Até que é bonito... Dá um ar de mistério, te deixa interessante.
Ah, aquele tempo... Foi um dos mais longos trabalhos de Jessy — Trabalhar de investigador para roubar as pesquisas e provas da polícia sobre os Espécimes que interessavam à SCP.
De fato, foi o seu serviço mais interessante, pois seus colegas pareciam genuinamente se importar com ele. Por mais que fosse sem graça, usasse roupas sem graça e comesse comida desinteressante seus amigos ainda sim se importavam.
Falavam sobre o caso, saiam juntos nas folgas, jogavam conversa fora... Tudo isso para nada no final. Quer dizer, Jessy os apunhalou pelas costas e isso... Isso o fazia sentir culpa. Jamais havia sentido isso, sempre passava por cima dos outros sem pensar duas vezes, porque se sentia assim?!
Tapou de uma vez o reflexo de seus olhos novamente, colocando uma roupa sem graça que sequer revelava seu gênero confuso, por fim, colocando seu jaleco e já pegando sua prancheta e indo ao serviço.
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Andar pelos corredores era amedrontador. Só se encontrava salas aonde cientistas realizavam "testes" em criaturas e pessoas. Sim, podiam ser criaturas perigosas de origem duvidosa, entretanto, ainda estavam vivas. Não precisavam ter todo tipo de agressão voltada para si para ver até quando aguentavam.
Jessy sabia que isso tudo era pelo tal projeto White Square, aonde basicamente iriam extrair as habilidades dos espécimes para utilizar a seu favor. O governo ostentava dessa ideia, mas Jessy sabia o risco.
Sentia-se levemente culpado ao ver o olhar penetrante de dor, ódio e tristeza no qual as criaturas lhe observavam. Sabia que tinha feito parte na captura delas e que estavam passando por aquilo por sua causa. Tais sentimentos lhe flouresciam e causavam imensa culpa que borbulhava dentro de si, podendo explodir há qualquer momento.
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Ressentimento - Slenderman
Horror[Essa história se passa após "Meu Amigo Splendorman" e "Pétalas cor de Sangue - Offenderman"] Mesmo com tudo caindo ao seu redor, Slenderman continuava sério e jamais perdia sua compostura. Talvez seja a hora de ele começar a questionar suas própria...