XXVII - Passado - II

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Clockwork ficou ao chão por um tempo, tentando recobrar atenção do que havia acabado de ocorrer. Seu coração estava batendo depressa e sua visão turva, seria esses os "efeitos" de Splendorman? Algo de longa data, que instaurava aos poucos medo no coração das pessoas para que lhe obedecessem cegamente?

Clockwork bateu com o punho na parede, "Não." pensou consigo, "Não vou me subtemer a esse desgraçado e baixar a cabeça... NÃO VOU!!" Assim, com um empurrão se levantou. Estava bufando e batendo os pés com força enquanto andava, sua raiva era imensurável.

Entretanto, sua atenção foi tomada quando, em meio aos corredores esbranquiçados e agora neutros, percebeu uma pequena criaturinha lhe observando pela fresta de uma porta. Quando se virou para olhar melhor, a porta simplesmente fechou. A moça pôde ouvir pequenos pézinhos correndo pelo cômodo.

Não demorou para que Clockwork se aproximasse e abrisse a porta — O quarto era infantil, com brinquedos e decorações fofas em volta. Haviam pequenos pisca-piscas na parede, cujas luzes eram ressaltadas pelo breu que estava no quarto. Como a moça não era boba, simplesmente ascendeu a luz, revelando a pequena Sally atrás de um poof, agachada e cobrindo a cabeça com as mãos.

— ... Wow, isso é novo. Eu nunca vi um proxie criança.

— Eu não sou uma criança! – Respondeu, levantando-se depressa e fazendo um bico.

— Você não me parece um anão pra ser tão baixinha...

— Eu não tenho a idade de uma criança!

— Oh, não? Então porque está fazendo birra como uma? – Questionou a moça, provocando-a com uma voz brincalhona com um tom de deboche. Esse era um lado que dificilmente aparecia em Natallie.

Sally logo começou a chorar. As luzes do quarto começaram a piscar e os móveis a balançar um pouco.

— Merda--- Natallie correu até Sally, tampando sua boca — Tá maluca?! Cê não pode dar piti assim não, doida!!! E ainda chorando por porra nenhuma?!

A garotinha soluçava, com lágrimas saindo de seus olhinhos verdes. — Dicupa'... É que... Não era pra eu ser assim.

— Uh... — "Todos aqui vivem chorando... Bando de fracotes." Pensou Natallie, mas... Era só uma criança, no fim. Lembrou-se de quando era criança também, de suas noites assustada ouvindo seus pais brigando, chorando enquanto abraçava sua girafinha de pelúcia. — ...Qual é o problema? Parece que você tem vários amigos, mas que não fala o que acontece no seu... 'coraçãozinho' — Disse, forçando um sorriso. Céus, ela era terrível com crianças...

— Sniff... Não sei se você entenderia... – Sentou-se na cama. Seus pézinhos não alcançavam o chão e suas mãos estavam entre suas perninhas.

— Ah... Sei lá, tenta.

Sally a observou por uns instantes, então, suspirou. — Tudo bem...

•••

Eu... Eu era uma garotinha normal. Não sabia das maldades do mundo — Esse foi meu maior pecado.

Meu tiu... Ele foi quem me matou, mas antes de me matar, disse que iria me "Transformar em mulher".

— Eu... Eu entendo essa parte, garotinha. — Comentou Clockwork, sentindo-se sentida pelo que Sally havia dito. Isto lhe lembrava de seu irmão, Lucas. Logo, lhe surgiu um extremo ódio.

Ressentimento - Slenderman  Onde histórias criam vida. Descubra agora