III - Temperança

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— Já voltou, Eyeless? Não esperava você tão cedo aqui. – Dizia Slenderman, enquanto limpada seu terno ensanguentado. A criatura esguia estava na forma de sua verdadeira natureza. Curvado, com os ossos de sua coluna ressaltados, suas garras imensas naturalmente brancas agora cobertas de sangue. Sua face, que geralmente era plana e sem nada, estava agora com uma grande rachadura pela metade, a qual representaria uma boca estranha, repleta de dentes tortos e afiados. Ao chão, haviam vários corpos de crianças inocentes, que acompanharam o ser para o meio da floresta e longe de suas famílias. — Peço desculpas por minha situação. Não esperava que fosse voltar tão cedo.

Eyeless apenas encara os cadáveres, salivando um pouco.

—... Não, eu não vou te dar nenhum órgão deles, a final, devo dar os cadáveres para Zalgo. – A criatura esguia limpa sua "boca" com um paninho, enquanto seu rosto voltava ao normal. — Diga-me, o que você viu e porque voltou tão rapidamente? — Eyeless estava em um transe. Era difícil para um canibal como ele simplesmente não querer um pedacinho... Pedacinho... Pedacinho...

Uma mísera gota de sangue respinga da garganta mutilada de um cadáver, se juntando à imensa poça ao chão. O vermelho escarlate escuro e espesso, isso era lindo... Mas lhe lembrava de um certo momento passado na mansão.

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Eyeless havia voltado de uma de suas missões. Slenderman havia o mandado matar alguns mauricinhos ricos que haviam o tentado invocar e, depois, simplesmente riram dele. Não, Slenderman não era rancoroso ou algo assim, mas deveria manter sua "reputação". Eyeless entra na mansão - É, ela não estava melhor do que quando havia saído, muito menos pior. Incrivelmente, o local estava silencioso. O único som era o do chuveiro, que enchia a banheira do banheiro. Se escutou um soluçar e barulhos de pequenos choros abafados. A porta estava entreaberta, então a criatura simplesmente passou por lá. A tal "Clockwork" estava lá, e parecia deveras machucada, mas isso não era da conta de Eyeless. Não demorou muito para trombar com um Proxie: Ticcy Toby. O garoto estava tendo uma crise intensa de tourette e espasmos no chão. O mesmo, mordia seu próprio braço com violência, o mastigando e quase arrancando sua pele.

Eyeless não sentia realmente empatia por essas pessoas, mas havia algo de diferente no garoto. Então, ele se agachou ao lado dele e percebeu seus olhos castanhos do jovem — Eles eram profundos... Uma mistura de emoções. Medo, raiva, falta de vida. Estavam com pequenas lágrimas quase escorrendo. Eyeless suspirou e tirou da sacola que trazia um rim. Por um momento, ele recuou e olhou para o órgão... Era seu favorito, mas ele pensou que o jovem fosse precisar mais. Então, ele segurou o pulso do garoto e retirou a mão dele de sua boca. Ela estava já marcada e com pequenas gotículas de sangue saindo.

Ambos ficaram sentados, devorando os órgãos. Isso acalmou um pouco Toby. "Hum... Há quanto tempo ele está aqui? Ele claramente é humano, mas está devorando isso como se fosse a coisa mais gostosa que comia há meses." Se questionava Eyeless. Dentre todos naquela casa, jamais se sentiu próximo de alguém, mas aquele garoto, aquele garoto...

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— Ei, Eyeless. – Slenderman estalou o dedo a frente dele, o tirando do transe. — Estou falando com você. O relatório. O que aconteceu? – Questionou a criatura maior, enquanto terminava de limpar suas mãos finas.

Ressentimento - Slenderman  Onde histórias criam vida. Descubra agora