Ayla: Não deveríamos ter feito isso...
Ela me solta de seus braços dando um passo para trás.
Luna: O que quer que eu faça?
Ayla: Melhor eu vir buscar o livro outra hora...
Luna: Não foi o que perguntei. Você sabe do que estou falando. Quer que eu desfaça o abraço?
Me pergunto o motivo de sempre querermos fugir uma da outra nesses momentos mesmo não temos feito nada de errado. Foi só um abraço, mas ela fica nervosa imediatamente com a minha pergunta.
Ayla: Me diga você, o que quer de mim?
O que quer que eu faça agora que nos abraçamos? Digo para não se preocupar por eu ser comprometida? Quer que eu seja a única ruim da história? Então por que foi no meu serviço naquela última noite em que te vi e ficou me olhando do lado de fora?Luna: Eu senti a sua falta. Eu queria te ver. Eu estou... eu estou...
O celular dela está vibrando durante a nossa discussão. Ela coloca a mão no cabelo jogando ele para trás.
Luna: O que quero dizer é...
O celular dela continua vibrando me atrapalhando de falar. Tá de brincadeira? É sério isso? Começo a ficar irritada e ela ri rouca após perceber que a ligação não me deixa terminar de falar. Suspiro profundamente e ela solta a risada. Aposto que está rindo de nervoso.
Me aproximo dela dando um beijo na testa. Saiu de perto para dar privacidade para ela atender.
Ayla: Era isso que queria fazer ao invés de dizer?
Luna: Não vai olhar quem está te ligando?
Ayla: Você sabe quem é... nós duas sabemos quem é. Não faz isso comigo... eu não posso, sou comprometida.
Luna: Amigas também se abraçam...
Ayla: Não como nos abraçamos, apertado e com vontade de não soltar.
Luna: Primeiramente, desculpe. Você tem razão. Fui lá naquela noite para te ver sem planejar nada e joguei tudo em você no telefone pedindo que se decidisse. Estava procurando desculpas esfarrapadas para quando você me perguntasse o que eu estava fazendo lá, eu dizer "Eu só estava passando por perto" "Tenho um amigo que trabalha aqui" "Eu estava jantando aqui perto".
Ayla: Nesse sentido, eu não sou melhor. Eu te amolei para ser minha amiga, te telefonei quando não precisava e sumia quando você me deixava confusa sobre meus sentimentos. Hoje mesmo, eu arrumei uma desculpa plausível para vir te ver tarde da noite porque eu não parava de pensar em você o dia inteiro. No fim das contas, fui a mais ridícula. Me desculpe também, por ter te abraçado.
Luna: Não há nada que eu possa fazer por você.
Ayla: Não é verdade. No fundo estou tão feliz... por ter te conhecido. Às vezes tem dias que você não sai da minha cabeça, no trabalho ou em casa. Tem dias que eu não paro de pensar em você...
O que está havendo com ela? Ouvir essas palavras saindo de sua voz sussurrante, me faz vibrar por dentro.
Ayla: Você é uma boa pessoa Luna, uma garota incrível e com um grande potencial para alcançar seus sonhos. Você é inteligente, meiga, esforçada e carinhosa. Sempre vi você transmitir isso desda primeira vez em que te vi.
Luna: Não sou. Como uma pessoa boa e incrível poderia gostar de uma mulher comprometida? Estou tendo desejos ruins quando estamos perto, quero te beijar, te abraçar, te fazer carinho, quero fazer todas as coisas com você. Eu te desejo todos os dias. Não vou esperar nada de você após o que aconteceu está noite, então só me deixe te ver. Me deixe te ver nem que seja de longe, prometo que não tentarei fazer nada e prometo que não serei pega.
Ayla: Isso não é certo. Entendo como se sente, mas...
Luna: Estou falando de você. Você não vai me pegar! Eu te disse, fui lá só para te ver. Fui lá impulsivamente porque queria te ver, mas assim que vi seu noivo senti que estava fazendo algo que não devia.
Ayla: E agora? O abraço apertado que demos você acha que era algo que devíamos ter feito? Não vai ser pega por mim e vai me observar em segredo?
Luna: Se você permitir. Se disser que não posso...
Ayla: É claro que não pode! Não posso permitir!
Luna: Tudo bem. Do seu ponto de vista, é loucura minha.
Ayla: Qual é o meu ponto de vista?
Luna: Se alguém te observa em segredo...
Ayla: Que importa? Prometeu não ser pega. Como não vou saber quando estiver lá, não importa. O problema sou eu. Está bem, me observe quando bem quiser mas o que vou fazer? Também devo pedir permissão para te espiar em segredo e pensar em você o tempo inteiro? Por que só pensa em você? Só sua satisfação importa? Não pensou em como eu me sentiria? Sempre foi egoísta assim?
Luna: Quer ver o que é ser egoísta?
Ayla: Não!
Estamos praticamente segurando as lágrimas uma diante da outra. É evidente que isto está se tornando um peso para nossas mentes e corações. Ayla, se senta em uma cadeira perto de nós e suspira fundo tentando engolir o choro, mas se torna inevitável segurar quando ela eleva as duas mãos para cobrir o rosto. Às lágrimas escorrem em questão de segundos.
Luna: É melhor pararmos por aqui. Pensei nisso quando não me deixou atravessar a rua naquela noite. Se continuarmos, vai perder muita coisa por causa das suas emoções. E vai sofrer mais ainda depois disso. Não falo isso para parecer uma pessoa boa após ter sido canalha em te abraçar. Eu estou sempre sendo egoísta. Para ser sincera... eu estava afogada em emoções que pensei que nunca mais sentiria. Fui imprudente, só pensava em coisas patéticas. Se continuar assim, vou virar uma fracassada por cometer tal adultério.
Ayla: De qualquer forma, o que devo fazer?
Luna: Não sei, e isso acaba comigo.
Ayla: Acha mesmo que vou acreditar nessa mentira?
Luna: Finja que acredita, eu imploro. Me ajude.
Ela levanta cabisbaixa sem dizer nada e vai embora. Preciso deixá-la ir sem exitar. Quase ultrapassamos mais do que o limite está noite mesmo que o abraço que tenhamos dado seja algo normal perante os olhos de quem não sabe nosso segredo.
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Redescobrindo o Amor
RomanceA bibliotecária Luna e a médica Ayla se conhecem na primavera, estação em que tudo pode acontecer mesmo que o destino de uma delas já esteja traçado. Juntas elas enfrentam reações negativas e duros questionamentos por causa de seu relacionamento. ⚠...