Capítulo 38 - Gratificante

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Levo Ayla para a minha casa. Ao chegar tomamos banho, colocamos uma roupa leve, sentamos no tapete do chão da sala com uma garrafa de vinho e começamos a conversar. Ela sentada do meu lado encosta gentilmente a cabeça no meu ombro.

Ayla: Sabe o que é mais gratificante desde que te conheci? Fico feliz por poder priorizar outra pessoa além de mim. Isso e também... a coragem.

Luna: Você tem jeito de quem sempre foi corajosa.

Ayla: Eu achava que era, mas só fingia.

Luna: Por outro lado, está passando por um tormento por minha causa também.

Ayla: Você mesma disse para não usarmos uma a outra como desculpa para ir embora.

Luna: Acho que cavei minha cova. Gosto que você seja valente e corajosa. Se apoie em mim como agora, literal e emocionalmente. Quero poder estar presente para você.

Ayla: Então vou continuar me apoiando. Não volte atrás.

Luna: As palavras do seu pai hoje devem ter te magoado. Acho que a culpa foi minha.

Ayla: Não esquente com isso. Digam o que quiserem, agora temos o mesmo destino... então é errado se deixar magoar.

Luna: Tem razão.

Ayla: Viu?

Luna: Me deixe te abraçar.

Tento me ajeitar para abraçar ela que está com a cabeça encostada no meu ombro mas ela me impede de se mexer.

Ayla: Não! Deixe que eu te abraço.

Ayla, me abraça tão calorosamente que faz meu coração pulsar se alegrar com tamanho amor recebido. Ficamos por mais alguns minutos sentadas no chão da sala em silêncio quando percebemos que já está tarde, entramos no quarto para dormir. Ayla, está tão exausta que cai no sono rapidamente assim que me abraça na cama encostando a cabeça no meu ombro.

Dia seguinte

Chego no serviço e vou direto para o depósito, minha chefe está na escadinha com uma prancheta pegando livros e anotando.

Luna: Separei os que devemos devolver.

Minha chefe: Estou vendo os livros que não vendem há alguns meses. Enfim, como foi o seu feriado?

Luna: Nada de mais.

Ela desce da escadinha rindo da minha cara e coloca a prancheta no balcão vindo em minha direção.

Minha chefe: A quem está querendo enganar?

Luna: O que foi? Para que essa aproximação toda?

Minha chefe: Luna, Luna. Você nunca foi de sair tão feliz do trabalho em um dia antes do feriado, mas você ficou alegre demais com esse.

Luna: Para com isso, eu sempre fico feliz quando tem feriado... eu só me expressei um pouco mais nesse... é normal. Por que o interrogatório?

Minha chefe: Essas travadas na resposta indica que aconteceu algo. Você passou o feriado com a Ayla, né? Por isso a felicidade toda.

Luna: Não aconteceu nada. Sim, eu estava com a Ayla.

Minha chefe: Ei. Aconteceu algo a mais, não foi?

Luna: Você é inacreditável!

Minha chefe brinca não me deixando passar quando percebe que me deixou com vergonha. Ufa, consegui sair do depósito. Ainda não há movimento na biblioteca mas cada um começa o seu serviço individualmente. O dia passa voando sem percebermos com tanto trabalho. Estamos só Eu, minha chefe e a Cris.

Luna: Tem um tempinho?

Minha chefe: Para comer? Posso pedir algo caro?

Luna: Você só pensa em comer. Eu quero conversar.

O semblante da minha chefe mudou da água para o vinho quando eu disse que só quero conversar. Acabei com a animação empolgante dela, mas, preciso contar a alguém. Quero que ela seja a primeira a saber. Ela é como uma mãe sempre gentil e acolhedora desde o meu primeiro dia aqui na biblioteca. É ela quem sempre me guia para o bom caminho, minha chefe mentora.

Luna: Depois que a Cris sair.

Minha chefe fica sem entender. Eu que estava nos fundos caminho para o balcão da recepção aonde Cris está se arrumando para ir embora.

Funcionária Cris: Não vai para casa?

Luna: Vou, daqui a pouco.

Minha chefe: É melhor você ir agora, Cris. Preciso dar uma bronca na Luna.

Funcionária Cris: Eu também cometi algum erro hoje?

Minha chefe: Eu posso inventar um se você preferir ficar.

Funcionária Cris: Até mais. Boa sorte Luna!

Luna: Até amanhã.

Funcionária Cris: Tchau...

Cris, sai correndo atravessando o balcão indo embora com a feição cheia de medo. Minha chefe está com as mãos na cintura encarando toda séria. Minha vontade é de rir, entretanto, sei que ela pegou pesado com a Cris, até eu correria de medo.

Luna: Precisava deixá-la preocupada?

Minha chefe: Você é pior. Está me dando nos nervos.

Puxamos as cadeiras e sentamos de frente uma para a outra, minha chefe me olha como quem está pronta para ouvir cada minúscula palavra que sair da minha boca.

Luna: A Ayla me pediu em casamento.

Assim que a palavra "casamento" termina de ser completada na minha boca, minha chefe se levanta chocada arregalando os olhos e tampando a boca com a palma da mão.

Minha chefe: Espere aí. Ela que te pediu? Nossa... vocês estão mesmo apaixonadas, né?

Luna: Pois é. Só não sei o que fazer.

Minha chefe: Em relação ao casamento?

Luna: A nossa família.

Minha chefe: Bem... é uma situação complicada agora, principalmente em relação a família dela. O que ela disse? Para irem em frente mesmo sem o aval deles?

Luna: Claro que não!

Minha chefe: Pode ser desrespeitoso, mas não há regras contra isso quando duas pessoas se amam e querem ficar juntas. Sei o que está havendo com esse seu medo, se tentar enfrentar a situação vão te achar insolente e seu orgulho gay não permite isso. Mas tem medo da Ayla te deixar se você aceitar esperar pacientemente pela aprovação dos pais dela... que no caso acho que vai demorar acontecer. Que tal esse resumo? Acertei?

Luna: Quero conhecer os pais dela, porém, estou preocupada. Na pior das hipóteses, posso ser a responsável por causar uma rachadura irreparável entre eles.

Minha chefe: Luna, em vez de se conter para proteger alguém, não se arrependeria menos se demonstrasse até onde iria por essa pessoa?

O conselho dela me acerta como uma flecha. Agora posso ver as coisas com mais clareza para poder enfrentar o meu medo transformando ele em coragem. Quero segurar a mão da Ayla na largada para que juntas possamos atravessar a linha de chegada nem que isso nos custe abrir mão de muita coisa da nossa vida.

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