O Reinado do Corvo (AtsuHina)

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79. CINCO
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Cinco palavras. Cinco malditas palavras foram o suficiente para fazer o mundo de Osamu desmoronar. Elas estavam ecoando em sua mente, entorpecendo seus sentidos.

"Eu fui um escravo, Osamu."

Começou com um trinco. Um pequeno trinco no seu coração.

— Mentira — a palavra escapou por seus lábios. A expressão de seu gêmeo fez seus ossos doerem. — Por favor… Me diz que é mentira.

Sem sequer respirar, Osamu assistiu a tristeza tomar conta do olhar de seu irmão. O trinco se tornou uma rachadura.

— Eu gostaria de poder dizer que é mentira. Você não tem ideia do quanto.

A rachadura aumentou, tal qual uma teia de aranha.

— Por favor, Tsumu. Você não… Isso não pode… O papai prometeu que iria manter você seguro.

— Ele não saiu do meu lado nesses vinte anos. Porém… O papai tá morto, Osamu.

Mais cinco palavras. Cinco palavras que foram como uma marreta em vidro frágil, estilhaçando o coração de Osamu.

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O coração de Atsumu quebrou ao ver Osamu ir ao chão, Bokuto não sendo rápido o suficiente para segurá-lo. O baque dos joelhos de seu irmão atingindo o chão o fez sentir vontade de se encolher.

O olhar de Osamu era o de um homem devastado. Ele abriu e fechou a boca algumas vezes, puxando breves lufadas de ar, as quais soltava momentos depois em suspiros trêmulos.

— Por favor, Tsumu.

Atsumu desejava poder mentir. Desejava poder dizer que era uma brincadeira de mau gosto. A pior de todas elas. Mas era a verdade. Era a verdade dos últimos vinte anos de sua vida. Ele queria poder esconder ela de seu gêmeo, de sua mãe. Não queria que seu pai tivesse testemunhado tudo que lhe fora feito.

Mas não era assim que funcionava.

Ele também queria ser honesto. Queria que conhecessem quem Atsumu era. Quem havia se tornado. E isso não seria possível se não contasse sobre a escravidão. Por mais relutante que estivesse, sabia que partes de sua personalidade haviam sido suprimidas e destroçadas pelos puro-sangues.

— Desculpa, Osamu. Eu queria poder dizer que é mentira.

O frio emanando do corpo de Sua Alteza, sentado ao seu lado, triplicou. Atsumu poderia dizer só por isso que ele estava irritado. Provavelmente com a raposa pedindo desculpas.

— Não, não — murmurou Osamu. — Você não tem que… Não tem que pedir desculpa. Nada é sua culpa. Nada… — Osamu levantou a cabeça para olhar seu irmão, então a abaixou de novo. Como se estivesse sentindo dor. — Nada é sua culpa.

— Eu sei que não é. Eu jamais serei culpado por tudo que me aconteceu. E não é por isso que estou pedindo desculpas. — Atsumu contemplou se realmente deveria continuar. Mas já estava ali. Seria totalmente honesto. — Eu estou pedindo desculpas porque… Eu não lembro de você.

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Mais cinco palavras. Cinco malditas palavras. Cinco palavras que dizimaram qualquer força que Osamu pudesse ter.

— Você não lembra de mim?

— Nem da mamãe. Ou do papai.

Osamu… Osamu já não sabia mais o que sentir. Como ele supostamente deveria se sentir? Descobrindo que seu irmão foi um escravo. UM MALDITO ESCRAVO. E que ele não se lembrava.