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88. FAZER O BEM
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*O mesmo dia, de outros pontos de vista.

Hesitante, Bokuto ergueu a mão para bater suavemente na porta.

— Samu? Você não vai sair?

A resposta não veio imediatamente. Mas quando veio, foi cortante, acertando em cheio o coração de Bokuto.

— Não quero falar com você.

— Você não precisa. Só sai e vem comer. — Silêncio. — Por favor, Abelhinha. Você não come nada desde ontem.

— Não me chame assim.

Bokuto sentiu os olhos arderem e os fechou, inspirando fundo para conter o choro. Encostou a testa na porta e sussurrou.

— Amo você. Okay? Não esqueça disso.

Sem resposta.

Voltando a cozinha, a coruja preparou uma bandeja cheia e a deixou no chão, na frente da porta do quarto de Osamu. Deu duas batidas na porta.

— Eu vou deixar a comida aqui, tá? E já estou saindo. Você não vai precisar me ver, nem falar comigo. Só come, por favor.

Ainda sem nenhuma resposta. Mas Bokuto podia sentir que ele ainda estava lá. Depois de um minuto de espera, a coruja se afastou para o andar de baixo.

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Depois de ouvir os passos de Bokuto se distanciado, Osamu caminhou na ponta dos pés e abriu uma fresta na porta. Não vendo a coruja, a raposa arrastou a bandeja para dentro, não se dando ao trabalho de levar para sua escrivaninha, apenas atacou a comida.

Vivendo como um andarilho, mesmo com a capacidade de fazer ouro e prata, ainda haviam momentos em que a fome se fazia presente. Eles tinham que ser cautelosos. Criar ouro, vendê-lo nos lugares certos, trocar por dinheiro. Apenas pequenas quantidades de cada vez, para não atrair atenção desnecessária. Ladrões e golpistas deviam ser evitados a qualquer custo.

Às vezes simplesmente acabava o dinheiro. Às vezes eles estavam longe de tudo, onde a comida era escassa. Era algo a qual se acostumou durante seu crescimento. Mas não gostava.

Ninguém gostava de passar fome.

Na verdade, Osamu adorava comer. E, embora não soubesse muitos pratos, gostava de cozinhar.

Ele atacou aquela bandeja de comida como um animal faminto. Depois, se jogou de costas no chão, saciado. Porém, agora que sua barriga não estava roncando, seus pensamentos estavam gritando.

Ele era neto do Quarto Príncipe de Haken.

Osamu não sabia o que era mais estranho. Ser parente da realeza, ou estar apaixonado por seu tio-avô. Por que tudo não podia ser simples? Igual a quando ele era criança. Seus pais juntos e felizes, Atsumu com ele, os dois aprontando tudo que duas crianças de sete anos seriam capazes dentro de uma casa pequena.

Mas as coisas não eram mais assim. E nunca mais seriam. Seu pai estava morto. Sua mãe estava aplicando um golpe de estado. Atsumu havia sofrido tanto que não restava um resquício de quem ele era. E Osamu…

Quem Osamu havia se tornado?

Com sua audição aguçada, a raposa conseguia ouvir tudo que acontecia na casa e além. E sempre estava ouvindo. Os humanos nunca paravam de fazer barulho. Bokuto nunca parava de fazer barulho. Porém agora tudo estava quieto.

Os únicos sons que Osamu ouvia da coruja, era o bater de seu coração e seu sangue correndo nas veias. Eles soavam tristes.

Bom, mas que seja. A culpa era do próprio Bokuto por ter escondido algo tão importante de Osamu.

O Reinado do Corvo (AtsuHina)Onde histórias criam vida. Descubra agora