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49. PEQUENOS PRESENTES
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Os cheiros de medo e dor se misturavam aos odores de mijo, fezes e sangue. Havia tanto sangue.

A raposa sabia, melhor do que ninguém, qual era o estado em que as costas de alguém açoitado ficaria. Mas aquilo... Atsumu nunca viu nada como aquilo.

As chicotadas de Sua Alteza foram além de cortar a pele e verter sangue. Elas arrancavam pedaços, chegavam até os ossos. Não foram poucas as vezes que ele pausou o castigo, atirou neve no estuprador e o curou. Então recomeçou o castigo, curou de novo e recomeçou. De novo, de novo e de novo. Em determinado momento, a doninha cuspiu uma grande quantidade de sangue, e junto sua língua. Ele mesmo a cortou com os dentes.

Depois de horas, o fator de curo alto dos puro-sangues parou de fazer efeito. Foi aí que Sua Alteza, sujo de sangue azul, baixou o chicote, foi até a doninha e encostou nele com o pé. O que restava do corpo desabou no chão.

— Morto — declarou o príncipe.

Maisha desabou. Ela começou a tremer e chorar, o cheiro de alívio emanando dela. E, um por um, os aldeões começaram a bater palmas.

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— Como você está?

Atsumu levantou o olhar da neve branca para Sua Alteza. Ele havia limpado o sangue do rosto, mas haviam respingos em seu cabelo e roupas. A raposa precisaria lavar o cabelo dele de novo.

— Há sangue em você.

— Desculpe, os aldeões me pegaram para conversar e... — Ele levantou um embrulho. — Temos torta de framboesa. E de banana com canela. E de morango com chocolate. Cortesia daquela senhora apegada a Maisha.

Atsumu riu levemente, enquanto seu namorado se recostava na parede ao seu lado. Eles estavam do lado de fora do salão. Ushijima estava com Maisha e Elliot.

— Como você está, meu amor? — tornou a perguntar o príncipe.

Ele levantou a mão, como se para tocar em Atsumu, mas a baixou e escondeu. A raposa podia prever o que ele estava pensando, sem precisar da ligação. Ele estendeu a mão e segurou a de seu namorado, levando-a até seu próprio rosto.

— Você pode me tocar. Eu não tenho medo de você.

Essa mão fria que lhe acariciava a bochecha agora, era a mesma mão que antes segurava um chicote. Foi a mesma mão que chicoteou alguém até a morte, como muitas vezes Atsumu fora açoitado. A mesma mão que conduziu torturas e que massacrou culpados e inocentes.

Mas também era a mesma mão que segurava gentilmente seu rosto, queixo ou nuca na hora de um beijo. Era a mesma mão que lhe acariciava os cabelos, ou atrás das orelhas, para lhe embalar em um sono calmo. Era a mesma mão que escovava todas as suas seis caudas ao menos duas vezes por dia, de manhã antes do café e de noite antes de ir dormir.

Atsumu virou o rosto e beijou a palma, em seguida aninhou seu rosto nela. Sua própria mão estava por cima desta, a mantendo no lugar.

— Você pode me beijar?

O príncipe de inclinou e uniu seus lábios gentilmente. E a raposa aprofundou o beijo.

— Eu estou bem — disse Atsumu, unindo suas testas. Sua Alteza esfregou seus narizes.

Atsumu realmente estava bem. Algum nervosismo ainda residia em seus ossos, mas não estava tremendo, suas pernas estavam firmes e conseguia respirar. Não estava com medo. Estava bem.

O Reinado do Corvo (AtsuHina)Onde histórias criam vida. Descubra agora