xl. dentro da noite veloz

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Quando resolveu sair da cama por vontade própria, Stella precisou frear os passos ao alcançar a sala e se deparar com Brooklin decorando o apartamento para o Natal com a ajuda de Noah. Sem acreditar no que estava vendo, ela se aproximou devagar, nas pontas dos pés para não alertá-los de sua presença, e não pôde deixar de notar que eles trabalhavam em silêncio pacífico.

— Brooklin, quem é esse garoto e por que ele se parece tanto com o meu irmão?

Noah parou de colocar os enfeites na árvore de Natal para lançar um olhar confuso na direção dela. Brooklin repousou os olhos na figura descansada de Stella, examinando-a com atenção ao abaixar a guirlanda que ela se preparava para colocar na porta de vidro do terraço.

— Ela bateu com a cabeça? — ele se virou para questionar Brooklin, mostrando-se alarmado. — Eu sou o seu irmão.

— Eu sei, Noah. Isso se chama ironia, ou sarcasmo, não sei direito a diferença de nenhum desses dois na prática — ela revirou os olhos, mas logo franziu o cenho ao apontar o dedo para ele. — Desde quando você tem paciência para essas coisas? A última vez que falei com a mamãe ela disse que você se recusou a ajudar na decoração de casa.

Noah deu de ombros e, em seguida, virou o rosto abruptamente para a árvore de Natal. Stella semicerrou os olhos na direção dele, estranhando o repentino interesse em ajudar Brooklin a decorar o apartamento.

— É chato — ele disse, voltando a colocar os enfeites na árvore de dois metros de altura. — Eu só vim ajudar na instalação da casa inteligente, mas acabei aqui.

Confusa, ela se virou para encarar Brooklin.

— Que casa inteligente?

— É para tornar o nosso lar conectado, meu amor. As luzes acendem com comando de voz, e agora temos um detector de gás também — ela explicou com um sorriso, aproximando-se de Stella para beijá-la na têmpora. — Passei na casa dos seus pais ontem para ver se o Noah conseguia me ajudar com isso. Você disse que ele era um gênio da computação, achei que ele pudesse se interessar... Aliás, o seu pai me convidou para assistir o próximo jogo do Corinthians no estádio. Quer ir?

— Não, muita bagunça, muito barulho — ela torceu o nariz, passando os dedos pelo cabelo de Brooklin para tirar o que pensou se tratar de um pedaço de ramagem artificial, até se lembrar com um estalo mental. — Mas você torce para o São Paulo.

— Não tive coragem de mencionar esse detalhe, mas o próximo jogo é só ano que vem. Tenho tempo para pensar em alguma coisa, e não é como se eu levasse time a sério.

Stella riu. O rosto de Brooklin se iluminou com a mudança de humor de Stella.

— Cansei. Estou com fome — Noah decidiu, dando-se por satisfeito com a árvore decorada. — Brooklin, agora essa parte é com você.

Noah deixou de lado os enfeites que sobraram na caixa e então passou a estrela para que Brooklin, utilizando-se de seus um metro e oitenta e três, pudesse colocá-la no topo.

— Já comeram? Vou fazer sanduíche de peito de peru para nós três — ela disse, sorrindo para Brooklin e para o irmão. — É o favorito do Noah, e o meu também.

— Que ótima ideia, meu amor.

De repente, Stella sentiu o peso da incerteza paralisá-la. O cérebro dela não soube distinguir a natureza de suas emoções naquele momento. Há dias se sentindo desconectada de si mesma, preenchida por um vácuo profundo, ela foi golpeada pela crescente dúvida do ser ou não ser. Afinal, o riso era sincero ou ela estava rindo para não chorar? Pouco a pouco, Stella desaparecia de si mesma, confusa sobre o que era real e o que era fingimento, e ela se via cada vez mais distante — até o dia que não saberia mais como retornar.

No Final Tudo Faz SentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora