No Final Tudo Faz Sentido

xli. eu não sei lidar

Stella precisou de um longo minuto para processar o que de fato havia acontecido. Em choque, ela se voltou para Cacau e se deu conta da tramoia da qual havia sido vítima. Mais uma vez, Cacau tinha se aproveitado de sua natureza ingênua para colocá-la em maus lençóis com Brooklin. Com o coração batendo forte e impetuoso em seu peito, ela sentiu uma repentina náusea diante da imagem cristalina de Brooklin em sua mente.

— Meu Deus, ela deve estar pensando que eu quis beijar você — ela murmurou para si mesma, sentindo então uma onda de desespero inundá-la de repente. — Eu sou uma grande imbecil por ainda dar ouvidos ao que você diz.

— Stella, me perdoa — Cacau murchou ao se deparar com o estado de Stella. — Eu não quis...

— Não começa — Stella a interrompeu com raiva. — Eu sei muito bem o que você quis fazer. Você destruiu a sua vida e agora quer destruir a minha, é isso. Eu cansei de você, Maria Claudia. Cansei das suas desculpas patéticas, das suas artimanhas, da sua mesquinharia... Cansei. Já deu. Vê se me deixa em paz.

Sem esperar por uma resposta, Stella deu as costas para Cacau. Enquanto se afastava em direção à casa, atrás de Brooklin, ela estava decidida a enterrar de vez sua história com Cacau. Ela estava farta de todo aquele drama desnecessário. Agora, tudo o que ela queria era se explicar para Brooklin e voltar para a vida pacata e agradável que levava com ela, mas temia a provável reação explosiva dela.

Stella só conseguiu encontrá-la depois de longos quinze minutos, sentada no que parecia ser o bar da casa. O rosto de Brooklin não se iluminou ao vê-la se aproximar, tampouco se deteve sobre ela por um instante sequer, enquanto conversava com um garçom de boa aparência. Ela estava com raiva, talvez estivesse repensando o casamento naquele momento. Stella desejou bater com a cabeça no balcão que a separava de quem trabalhava na festa. Ela não se atreveu a interromper o que entendeu ser um discurso de incentivo para que ele seguisse a carreira de modelo. Sentindo-se inquieta, ela parou de prestar atenção na conversa, mantendo uma distância respeitosa de duas cadeiras de Brooklin, até ouvi-lo perguntar se ela poderia passar o número dela.

— Não — ela respondeu com um sorriso. — Não confunda as coisas, eu sou casada. Mas eu posso passar o seu contato para algumas pessoas que conheço. Pessoas honestas, que não vão te sacanear. É pegar ou largar.

Então, sem arriscar um olhar na direção de Stella, acrescentou com um tom de voz jocoso:

— Para alguém que acabou de ser apunhalada pelas costas até que estou me sentindo especialmente generosa hoje — ela pegou o celular do balcão e se voltou ao rapaz. — Qual é o seu Instagram? Espero que o seu portfólio seja bom.

Apesar de aparentar estar confuso com as falas ligeiramente desconexas dela, o garçom boa-pinta não hesitou em ditar o nome de usuário dele, contente com a atenção especial que recebia de uma mulher como Brooklin. Stella foi subitamente acometida por um incômodo no centro de seu peito, como se estivesse prestes a cair dura no chão, o que a fez deixar de lado sua postura respeitosa para resolver seu embaraço com ela.

— Bom, foi ótima a conversa, Victor, mas estou indo nessa — Brooklin bebeu o restante da água em seu copo e, ainda sem olhar para Stella, fez um gesto com a cabeça para irem embora. — Você vai embora comigo ou...

— É claro que eu vou embora com você — ela não permitiu que Brooklin terminasse a pergunta.

A tensão que se instalou nos ombros de Stella fez a noite se tornar ainda mais difícil de tolerar. Com o rosto virado para o próprio vestido de cetim, Brooklin assentiu e se colocou de pé para se afastar sem olhar para trás ao menos uma vez. Stella a acompanhou até o carro em silêncio, ensaiando em sua mente como começar a se explicar. Por onde começaria?