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Aurora Rodriguez
26 de março, Alemanha

Hoje finaliza o 1 mês em que estou no treinamento militar, e sendo bem sincera já foi pior. Meu corpo já se habituou às dores musculares e aos treinos intensivos, mas mesmo assim não significa que de vez em quando ainda dói, e dói pra caralho.

Novas feridas se fizeram presentes durante este último mês, mas mais uma vez eu já estou habituada a dor. E até gosto de a sentir, faz me relembrar que ainda estou viva.

Um mês se passou e cada vez estou mais perto de me formar, é isso que me importa neste momento, o meu futuro.
Um mês se passou e mais soldados desistiram, o que os torna fracos.

Um mês se passou e o sargento ainda pega no nosso pé, mas principalmente no meu pé e no da Isa, só por sermos mulheres ele pensa que vamos desistir rapidamente, mas acho que é mais fácil ele perder todos os homens do que nós as duas.
Ambas temos a mesma força de vontade para conquistar tudo o que queremos, não abdicamos do que queremos e muito menos desistimos. Talvez seja por isso que eu me dou tão bem com ela.

E duas semanas se passaram desde a última chamada de vídeo para os meus amigos. Eu ainda fala com eles por mensagem, no nosso grupo, mas por chamada eu não consigo. Eu tento ligar mas sempre acabo por não fazer. Enquanto falo com eles, tudo desaparece, mas assim que a chamada se encerra tudo vem três vezes pior, a saudade, a dor de estar a ir embora de novo e o vazio de não os ter aqui comigo. Tudo fica pior. Noites em claro a pensar neles e malditas lagrimas escorrem pelo meu rosto. Então eu parei. Me foquei no meu treinamento e realmente deixei as emoções de lado.

E depois de três semanas de treinamento de técnicas de combate, hoje finalmente vamos treinar combate corpo a corpo. O que é ótimo para mim e para a minha futura profissão.

-Ansiosos para hoje?- eu pergunto animada

-Nem tanto.- o Aaron responde e eu reviro os olhos e espero a resposta da Isa

-Mais ou menos, acho que depois de hoje as dores corporais vão pior bastante.- a Isa fala

-Com certeza vão Isa, falo por experiência própria.- eu digo e sorrio

-Isto vai te ajudar não é?- ela me pergunta e eu olho para ela confusa
-A descarregar a raiva e a mágoa.- ela completa

-Ajudaria se eu sentisse raiva e mágoa, mas como eu não sinto não vai. Mas vai ajudar bastante para a minha profissão no futuro.

-Amiga...- a Isa me para e logo em seguida o Aaron também para do meu lado

-Sabes que não precisas esconder nada de nós né?- o Aaron fala cuidadoso e calmo

-Eu sei e eu não estou a esconder nada, eu juro.- eu prometo

-Amiga... sabes que nós não somos surdos.- Isa diz e eu fico confusa
-Nos te ouvimos chorar em algumas noites...

-Isso não é nada, só descarga emocional.- eu falo e dou de ombros

-Ambos sabemos que não.- Aaron diz e toca no meu ombro
-Mas vamos respeitar, assim que estiveres pronta para falar connosco, sabes que podes.

-Eu sei...- eu digo e dou um leve sorriso para eles

Não significa que por eu não ligar para os meus amigos, que isso me faça sentir melhor, é a mesma dor de quando eu desligo a chamada. Mas o pior de tudo é falar com o Theo, o meu coração sempre dói tanto quando eu tenho que voltar para a realidade, ambos tão distantes um do outro, em continentes totalmente diferentes e com 9 horas de diferença. Não era fácil olhar no seu rosto e ver o que eu podia estar a fazer no momento do seu lado. Não era nada fácil o encarar.

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