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"Eu deveria ter escolhido outra profissão", comento, com as sobrancelhas unidas enquanto o vento violento bagunça meus cabelos. "Porque não escolhi ser professor? Instrutor de academia? Eu sou bom em álgebra e em lutas, cara!" falo mais alto, um pouco amedrontado pelo tremor que chacoalha o carro neste momento e faz com que meu coração pule algumas batidas.
"Isso é hora, Leon?!" meu superior grita comigo ao que está ao meu lado esquerdo, tentando se segurar em qualquer área segura do interior do carro. Como se adiantasse algo, considerando que nossa viatura está prestes a despencar de uma sutil altura de trinta e dois andares.
"Porque eu vim pra essa cidade? Porque um VILÃO tinha que aparecer na minha primeira semana de trabalho? Parece coisa de filme! Eu não acredito nisso..." continuo a comentar ligeiramente risonho, mas de nervosismo e não de diversão.
Meu superior berra alto comigo no segundo seguinte, prestes a me repreender, mas a viatura na qual nos alocamos em seu interior, escorrega pela beirada de um precipício direto para a morte, assim começando a despencar. Eu sequer encontro forças para gritar com medo, apenas sinto o solavanco da gravidade em todo meu corpo. Fecho os olhos com força esperando pela morte. Vou virar panqueca lá embaixo com meu superior, na minha primeira semana de trabalho.
Sério, eu deveria ter escolhido outra profissão.
Porque escolhi ser policial sendo que moro numa cidade repleta de super-heróis? Super-heróis esses com seus devidos vilões para lutar consecutivamente. Quem eu penso que sou para erguer uma arma e disparar contra seres com força sobre-humana e poderes de filmes de ficção científica? Sou presunçoso demais, olhando bem...
No momento em que estou prestes a ver todos os meus curtos vinte e dois anos de vida bem diante meus olhos, eu ouso abri-los. Vejo uma linha esbranquiçada e numa velocidade imparável vindo em direção ao para-brisa destroçado da viatura. Noto na mesma hora que é uma teia, que arranca a vidraça agilmente e a lança longe no ar enquanto permanecemos nessa queda sem fim.
Noutro segundo muito ágil, outras duas linhas dessa mesma teia correm em direção a mim e meu superior, nos envolvendo de modo brusco e nos puxando meio desleixados para fora do veículo. Assim que saímos pelo para-brisa, sendo puxados violentamente no ar, eu torno a fechar os olhos. Ao menos o Homem-Aranha existe e realmente é amigo da vizinhança, porque consigo ver em segundos ligeiros a viatura se espatifando lá embaixo.
Ergo o rosto para a direita e mantenho meus olhos abertos com muita dificuldade por todo o vendaval que me corre, mas consigo ver como meu superior recua assim que dedica toda sua atenção ao mesmo "ser" que eu. Uma figura absurdamente grandiosa se aloca no meio de nós dois, nos segurando em cada braço como se não pesássemos nada mais que uma pena.
A figura é parecida com o Homem-Aranha, mas o traje é diferente. Todo preto e a boca dessa coisa é monstruosa. Repleta de dentes gigantescos e tão afiados quanto os de um tubarão-branco. Isso é a boca de um predador.
