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Meu sonho é pleno, divino, ouso dizer com muita felicidade diante a mulher cansada e estressada que habitualmente sou. Bom, ao menos nos últimos tempos. Desde que aquela droga de divórcio começou, o processo judicial, sabe?
Olha, na verdade, isso finalmente chegou ao fim. Pelo menos é por isso que estou dormindo tão tranquilamente agora, recuperando absolutamente todas as minhas energias. Por isso, diante um soninho tão gostoso, consigo sentir o Armageddon se aproximando. A droga do meu despertador. É uma sensação quase como naquele filme super estranho que eu nunca vi mas sempre ouvi falar muito: Premonição. Deve ser algo parecido, certo? Sentir que está prestes a acordar e voltar para a droga da realidade que é a vida adulta.
Quando meu despertador toca, eu murmuro manhosa e sonolenta, então giro na cama e alcanço meu celular, o desligando na mesma hora. Sou adulta, caramba! Posso acordar quando eu bem entender, não tem ninguém me esperando mesmo. Pra que tanta preocupação descenessária em me levantar tão cedo?
Já me formei na escola, não sou mais casada e eu só encontro com os meus amigos no final de semana, nunca em dias úteis. Então eu não tenho com o que me preocupar. Vou levantar depois das dez essa manhã, lavar meu cabelo, comer peito de frango, ovo e batata doce antes de ir para a academia e então eu volto e faço minhas unhas dos pés e das mãos. Preciso me cudar um pouquinho também. Já não bastava eu ter vivido um casamento que mais se assemelha a um pesadelo. Eu me sentia lá no chão e quase nunca estava bonita.
Já está na hora de voltar para os devidos conformes da vida da mulher adulta e atraente que sou.Enterro meu rosto no travesseiro e solto um risinho soprado de divertimento, aproveitando as boas horas que ainda tenho a mais para dormir tranquilamente. Mas... acho que estou esquecendo alguma coisa. O sentimento é presente e está apitando em tom vermelho intenso: é algo importante.
AI MERDA, EU SOU A PROFESSORA, PORRA!!!
Arranco o cobertor do meu entorno e em segundos recordes, já estou de pé outra vez. Vou para um banho a jato e passo minha escova de cabelo nos fios, então vestindo a primeira saia preta e blusa social branca que encontro em meu guarda-roupa. Meu paletó feminino ainda está manchado de molho do último macarrão com almondegas que comi, então, é, ele está fora de cogitação neste momento.
Enfio meu material de lecionar na minha pasta e sigo para o meu carro depois de pegar minhas chaves. A escola na qual venho lecionando nos últimos seis anos é particular e pra uma mulher como eu que não cresceu com os mesmos privilégios que os alunos que aqui se acomodam, é impressionando como ainda estou nesse lugar. E é incrível como eu sempre dou tudo de mim para não gerar motivos de demissão. Hoje foi apenas um deslixe. Eu nunca perco a hora. Nunca mesmo.
Estaciono no local aberto para professores e desço, ajeitando um bocado de cabelos atrás da orelha direita, assim sigo em direção a entrada de um dos grandiosos prédios que formulam essa escola particular.