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Surpreendentemente, mesmo que eu tenha quase 1,90 de altura, não existe muito mais coragem reunida nesse corpinho aqui, não. Na verdade, eu nunca estive tão arrependido em toda a minha vida. Não posso mentir em relação a isso, juro. Não com algo dessa magnitude. Não com essa situação tocando minha pele, queimando minha pele.
A poeira não para de se erguer violentamente do chão a cada maldito segundo mais. Pequenos tornados se formam em minha esquerda e direita, a distância, mas eu não deveria ficar agradecido por isso. Até porque, eles parecem seguir em minha direção. Quase como se eu fosse a droga de um alvo nesse maldito lugar.
Porque eu não escolhi outra profissão? Porque inventei moda de seguir os passos do meu pai? Esse velho babaca morreu do mesmo jeitinho em que eu definitivamente morrerei hoje. Buscando pela droga de uma cidade que não existe! Nunca a encontraram e eu não serei o sortudo por isso. Acho melhor tirar o meu cavalinho da chuva o quanto antes e me ajoelhar aqui mesmo. Eu deveria esperar pela morte agora, com o sol queimando minha pele, praticamente me cozinhando vivo. Ou talvez eu acabe morrendo sufocado pela areia que voa para todos os lados nesse deserto vasto e caloroso.
Mesmo assim, algo em mim me impede de desistir, por mais que eu já tenha plena noção de que esse é o melhor agora. Então, continuo caminhando insistentemente. Minha mão direita erguida a frente de meus olhos para que eu ainda tenha uma mínima vista plena de onde estou pisando, minha mão esquerda segurando a alça de minha mala passada no entorno de meu corpo com força. Não que ajude muito, ao que sinto que minha altura e meu peso não passam da leveza de uma pena para a força da natureza aqui.
Fico sendo constantemente jogado de um lado para o outro o tempo todo, como se eu fosse a droga de um boneco de posto de gasolina. Juro, estou até mesmo me sentindo tonto com isso. Talvez o calor absurdo também não esteja ajudando muito, vamos combinar. Começo a ranger os dentes, sentindo minha garganta arder e até se fechar um pouco. Meus pulmões queimam porque o ar que levo até eles, é absurdamente quente. Estou tão molhado de suor que já me acostumei com o cheiro horrendo de queijo que estou exalando.
As pizzas abaixo de meus braços já estão marcadas no tecido barato de minhas roupas. Se eu sobreviver a essa merda absurda, juro que vou sair por aí mostrando essa roupinha ridícula que herdei do meu velho como um fodendo troféu do orgulho. Vou me gabar o tempo todo, dizendo que sobrevivi a uma tempestade violenta no deserto. Ao menos serei visto - pelo menos por alguns - como um herói. "Herói" não sei de quê, porque eu já até me perdi do meu objetivo aqui.
Não me lembro nem mesmo em qual direção devo seguir para chegar a civilização mais próxima, então apenas continuo caminhando em passos tortos em linha reta. Apenas me iludindo com a esperança de que sairei daqui vivo.
Para minha surpresa - e um azar muito maior do que eu sequer poderia imaginar, estar com a mão direita a frente dos olhos para impedir que a poeira violenta não me impeça de enxergar com clareza, não ajudou muito. Ao menos não no momento em que ergui o pé esquerdo e quando pisei, ele afundou com tudo até acobertar metade da minha canela. Abaixo o rosto e bufo sem ar, involuntariamente trazendo o pé direito junto, que também se afunda em segundos.