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Leon, aqueles seis dias foram tremendamente dolorosos. Tanto que é difícil descrever em palavras, ainda mais nesta carta. Já que tenho esperança que você ainda irá lê-la um dia, assim como todas as outras. Então, em partes, me sinto mal. Estou registrando para deixar meu amor por você ainda mais explícito e te lembrar que eu nunca perdi as esperanças, mas tenho medo de que você se sinta mal quando ler isto. E não é o que eu quero. Nunca. Não quero que você se sinta culpado, porque realmente não é culpa sua. Se existe culpa nessa história, ela é toda minha e você já deve estar ciente disso, mesmo nos seus sonhos enquanto você dorme.
Quando sua cirurgia terminou e logo após aquele neurocirurgião nos dar a pior notícia do planeta terra, até mesmo os seus pais me permitiram ser a primeira a entrar para ver você. E, céus, Leon, você não faz ideia do que eu senti. Você estava deitado e sua feição, mesmo que tão ferida, parecia plena. Você parecia estar descansando. Parecia em paz. Haviam hematomas e cortes em seu rosto bonito, sem contar os tubos colados em sua boca já que você não conseguia respirar por conta própria. Bom, você ainda não consegue. Mesmo depois de todo esse tempo. Eu me lembro de me alocar ao lado da maca em que você foi colocado, percorrendo meus olhos por toda sua figura. Por todos os ferimentos indiscretos que esse acidente ordinário causou em você. Quando eu consegui reunir forças em meio a um choro baixinho, mas repleto de desespero, eu finalmente ergui minhas mãos e toquei você diretamente.
E, mesmo que eu tenha suplicado incontáveis vezes para você abrir os olhos e sorrir para mim, dizendo que estava bem, que estava acordado e pronto para voltar para mim, você não o fez. Você ficou lá, Leon, completamente imóvel. O único som presente, além do meu choro que não parecia querer parar em momento algum, eram os "bips" que o aparelho médico a direita de sua maca ecoavam pelo recinto, indicando que ao menos, seu coração ainda batia. E pra mim aquilo não fazia sentido nenhum, ou talvez eu apenas estivesse com tanto medo, como tenho até hoje, de te perder. Eu não queria aceitar e não aceitei. Nunca irei. Eu ainda tenho esperanças, meu amor. Eu fiquei um bom tempo lá, tanto que uma hora os meus familiares e os seus se juntaram a mim no quarto. Sua mãe chorou muito, você não faz ideia do quanto. Seu pai foi forte, aparentemente não queria chorar na sua frente, como se não quisesse que você o visse em um estado tão deplorável. Mas o ser dele exalava dor. O filho único deles estava deitado numa maca depois de uma cirurgia de horas e ainda receberam a notícia mais dolorosa para um pai e uma mãe. Que a possibilidade de você acordar era nula.
Eu tive que voltar para casa quando anoiteceu. O casamento foi cancelado e eu queimei a droga do meu vestido. Senti que se o guardasse, ele seria mais como uma maldição, nem mesmo seria apenas uma lembrança dolorosa do que era para ser o dia mais feliz de nossas vidas, amor. Então, durante os seis dias que se seguiram, eu não saí do seu lado. Tanto que no terceiro dia em que eu não apareci no meu trabalho, eu fui oficialmente demitida. Você foi recebendo cada vez mais visitas. Seus colegas do trabalho, parentes distantes de sua linhagem familiar, antigos amigos do colegial, os da faculdade e até alguns dos nossos professores dessa época que simpatizavam muito com sua incrível personalidade. E, no sexto dia, quando fizeram mais alguns exames em você e realmente declararam que você não tinha atividade cerebral alguma e que não iria acordar de modo algum, o meu mundo definitivamente caiu. O solo abaixo de meus pés rachou e eu fui afundando, cada vez mais e mais. Desde que nos conhecemos, tudo foi tão fluido e doce, que eu nunca nem sequer parei para imaginar como poderia ser uma vida sem você.