𝐌𝐘 𝐎𝐍𝐋𝐘 𝐎𝐍𝐄 | 𝐀𝐑𝐑𝐀𝐒𝐂𝐀𝐄𝐓𝐀

𝙳𝙴𝚉𝙴𝚂𝚂𝙴𝚃𝙴

Arrascaeta

01.11.2019 | sexta-feira | 09h25.

Acordado desde às oito da manhã, sentado sobre a beirada de minha cama, via Isadora dormir de uma maneira tranquila e suave. Pelo menos, seus suspiros mostravam isso. Era possível escutar sons abafados vindos da mesma ao respirar, uns sons bem, mas bem gostosinhos de escutar. Parecia um ursinho hibernando.

E é nesses momentos que eu percebia o quão apaixonado estava. Os momentos no quais eu notava que não conseguia ficar longe dela. Prova disso são os três de quatro dias da semana em que ela dorme em meu apartamento, geralmente. Isadora pede com tanta manha, com tanto carinho, que chega ser impossível resistir. Aqueles olhinhos pidões, aqueles lábios formando um biquinho de bebê, as mãos juntinhas quase implorando... Junta minha grande vontade de ficar com ela, e eu me vejo na completa obrigação de ceder. Como no dia anterior, em que ela havia me dito que a instituição onde cursa estaria de greve, portanto, não haveria aula

Com a demora da estudante para se levantar, decidi me adiantar e descer, visando arrumar um pequeno café da manhã para minha princesa. Como Dora – a cozinheira – folga todos os fins de semana, preciso me virar no preparo das refeições. Quando tinha um relacionamento com Camila, não era necessário me preocupar com isso, afinal, ela já era mais “especialista” no assunto. Fazia de absolutamente tudo. Depois dela, estou tendo que dar um jeito.

Ao notar que não havia quase nada na geladeira ou nos armários, saí de casa por menos de dez minutos. Me dirigi à padaria mais próxima e comprei alguns pães – que pra minha sorte, haviam acabado de sair –, além de um bolo de chocolate que, até onde eu saiba, é o favorito de Isadora. Já em casa, ajeitei a mesa da forma mais organizada possível, na tentativa de agradar a estudante quando acordasse. E falando nela...

Vi seu jeito desengonçado descendo às escadas e ri de forma sútil. Vestia uma blusa minha, que parecia mais um vestido. Aliás, elas têm sumido aqui de casa. Isso porque a mineira leva uma pra sua casa a cada dia.

— Bom dia, lindo. — ouvi sua voz murmurar por trás de mim e logo senti seus braços rodearem minha barriga, encostando sua cabeça em minhas costas.

— Bom dia, princesa. — me viro em seu sentido e retribuo o abraço, deixando um beijo em sua testa — Está com fome? — pergunto, ela apenas balança a cabeça para cima e para baixo — Senta aí. — direciono à mesa e Isadora sorri fechado.

— Você fez tudo isso? — pergunta incrédula e eu assenti — Uau. — se mostra surpresa e senta em uma das cadeiras.

— Todo para ti. — deixo um beijo em sua bochecha e sento ao seu lado.

— Não precisava disso, gatinho. — olhou com atenção o que havia na mesa — Mas obrigada, mesmo. — agradece sorridente e eu pego sua mão esquerda, deixando um beijo — Eres un amor. — pronuncia no espanhol e joga a cabeça para um dos ombros, tímida.

—  Tú mereces. — acaricio sua mão.

— Não devia estar treinando? — pergunta enquanto pega uma das fatias de bolo que eu havia cortado.

— Hoje el entrenamiento es por la tarde. — respondo e Isadora consente — ¿No deberías estar en la universidad? — indago retoricamente e ela faz careta.

— Graças a Deus hoje não. — diz após comer um pedaço do bolo — Pelo menos tenho um dia de descanso. — agradece com as mãos para cima e eu dei risada.

Poucos minutos após terminarmos de comer, escutei cinco batidas na porta. Estranhei o fato do porteiro não ter sequer interfonado para mim antes.

— Quem será? — Isadora pergunta, confusa. Ergui os ombros.