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Isadora
15.03.2020 | domingo.

* 𝚝𝚛𝚎𝚜 𝚖𝚎𝚜𝚎𝚜 𝚖𝚊𝚒𝚜 𝚝𝚊𝚛𝚍𝚎

A ansiedade e o frio na barriga percorriam por meu corpo. Isso era notável de longe, só de ver meus pelinhos loiros arrepiarem.

Hoje descobrimos se nossa cria é menino ou menina. Hoje descobrimos se é Luísa ou Juan Daniel.

E a revelação vai ser de um jeito diferente – e coloca diferente nisso. Seremos só eu e ele presencialmente. Nossa família e Gio acompanhariam de longe, por chamada de vídeo pra ser mais exata.

Tem sido assim desde a descoberta da epidemia do vírus que paralisou o mundo em dois mil e vinte. A chamada “covid-19”, como uma gripe, só que mais letal. Tão letal, que as praias do Rio de Janeiro e do resto do Brasil – e também do mundo – estão vazias. As ruas? Não se vê um vulto quase. Entramos no período de isolamento no início de março – e não tem previsão para encerrar –, mas somente há três dias a doença foi decretada como uma pandemia.

Começou com uma quarentena, que segundo terceiros, seria realmente apenas quinze dias, já que era considerada somente uma “gripezinha”. Agora estamos aqui Estamos saindo somente o necessário. Aliás, eu não. Giorgian não me deixar pisar os pés fora de casa, já que, segundo a OMS, o vírus pode ser fatal para gestantes e idosos – assim como outros grupos, como obesos, estão no grupo de risco. Minha última saída foi para o Maraca, justamente dia 11 – quando foi decretada a pandemia –, no jogo contra o Barcelona SC, no qual o Flamengo venceu por 3 a 0 – o último jogo com torcida do Rubro-Negro.

E por falar em futebol, a CBF anunciou a paralisação nacional do esporte nessa tarde. Era o que todos estavam esperando. O último jogo do Flamengo foi ontem, contra a Portuguesa no campeonato carioca – já sem torcida –, acredito que o último também, pois não acho que a Confederação permitirá a continuidade, sendo que os outros campeonatos também estão paralisando. Aí é que se percebe a gravidade da situação.

É até estranho não poder ir ao Maraca mais assistir um jogo. Ou ir na sacada tomar um ar e não ver a Praia da Barra lotada. Não ver os vendedores ambulantes gritando “pra gringo é mais caro”. De repente, o Rio de Janeiro não era mais Rio de Janeiro. Não o que eu conheço.

Enquanto não há vacinas – apesar de estarem na correria para criarem uma –, permanecemos assim. O que era pra ser apenas quinze dias, se tornou imprevisível para o fim.

Não vejo meus pais desde que foi decretado a epidemia – assim como Gi, já que as universidades do país todo também paralisaram. A viagem que os pais de Gior marcaram para o Rio também foi cancelada. Por esse motivo, a revelação será em chamada de vídeo, para que possam participar desse momento especial conosco – mesmo que de longe.

Que tienes, princesa? Hum? — meu uruguaio me abraçou por trás e deu um beijo em meu ombro. Creio que sua pergunta se deve a minha face fechada frente a decoração, onde seria a revelação — Nerviosa? — supôs e, em certas parte, acertou.

— Também. — meu riso foi fraco — Mas nem tanto. Cê sabe que independente de qual sexo seja, eu vou ficar muito feliz. Nossa Lu ou Juan, vai ser muito amada. Ou amado. — eu sorri, e ali no mesmo instante, senti os lábios dele encostarem em meu pescoço.

— O que foi então? — tua voz soou preocupação.

— Ah, você sabe... Queria que nossa família estivesse aqui, nos acompanhando nesse momento lindo. Era tudo o que eu mais queria agora. — fiz um biquinho, já que estava com uma vontade enorme de chorar. Os famosos hormônios da gravidez.

𝐌𝐘 𝐎𝐍𝐋𝐘 𝐎𝐍𝐄 | 𝐀𝐑𝐑𝐀𝐒𝐂𝐀𝐄𝐓𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora