𝐌𝐘 𝐎𝐍𝐋𝐘 𝐎𝐍𝐄 | 𝐀𝐑𝐑𝐀𝐒𝐂𝐀𝐄𝐓𝐀

𝚃𝚁𝙸𝙽𝚃𝙰 𝙴 𝚂𝙴𝙸𝚂

Arrascaeta
18.03.2020 | quarta-feira.

— Amor, tá tudo bem, vai. Deixa eu ir com você. — o corpo de Isadora remexeu para cima e para baixo, praticamente implorando pra que eu deixasse a mesma sair de casa comigo — Quem melhor do que a mãe pra ajudar a escolher roupas pra filha? — agora ela cruza os braços e faz bico.

— Yo sé, princesa. Mas é peligroso pra tí salir con todo eso acontecendo. — pego em sua mão direita, deixando um beijo por cima — O mejor es tu ficar em casa, hum. — coloco uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.

— Uai amor, eu vou de máscara. E outra, não tem quase ninguém na rua. Temos que aproveitar que as lojas ainda estão abertas. — ela teima, do jeitinho dela — Olha que se você comprar roupa e decoração errada, quando cê chegar em casa, vai ver, hein. — escutei sua voz em tom de ameaça pela segunda vez em meses — Então é melhor eu deixar eu ir, pra escolher do jeitinho que é pra ser do chá de bebê dela. Isso inclui decoração, convite, doce, tudo. — agora sua reação é de revolta. Nem parece que há cinco minutos atrás estava implorando de biquinho pra ir comigo.

— Tabom, linda. Tabom. — me rendi a suas “ameaças” e cedi a seu pedido. Logo vi a face risonha dela, e seu corpo reagir com felicidade através de pulinhos — Mas coloca a máscara. E evite chegar perto dos outros, entendidos? — Isadora assentiu.

Parecia estar sendo meio duro com ela, mas é para o bem, tanto dela, quanto da bebê. Esse vírus é traiçoeiro pra cacete pelo que escutei, e se tem coisa que eu não quero é que elas sejam afetadas com isso.

Elas.

Somos três agora. Eu sendo o único homem da família. Confesso que gostei disso. Ser pai de menina é considerado um dos maiores pesadelos que existe. “Agora o pai paga pelos pecados” é a frase que mais escutei nos últimos dias. E na real, eu não tenho nada que pagar. Tô puta feliz que vou ser pai de uma princesa. E apesar de chutar ser um garoto, lá no fundo eu sabia que era uma menina. Mudei o palpite dias antes da revelação, mas ainda confuso. E eu consegui errar e acertar ao mesmo tempo. Errei no chute, mas no meu interior acertei – e minha alegria foi esbanjada por isso.

Por dentro, era o que eu queria: uma menina. Os caras sempre querem um garoto, um garoto, um garoto... Sonham por um garoto. Eu esperei pelo contrário e a felicidade veio. Tamanha satisfação se transformou em lágrimas. Coisa rara é eu chorar, papo reto. Mas a Luísa conseguiu isso. E me fez o cara mais feliz do mundo.

De fato, vou amá-la e protegê-la acima de tudo, tratar como ela merece. Meu maior desejo vai ser escutá-la dizer no futuro “eu tenho o melhor pai do mundo”. E eu vou fazer de tudo para ser. O melhor papai pra minha princesinha. E melhor marido pra minha primeira princesa.

— No solte minha mão, viu? — digo a minha noiva, que acabara de sair do carro comigo — Y ajuste tú máscara. — peço, ela obedece no mesmo instante.

— Não sou criança, tá? Sei me cuidar. — teima, eu faço careta — Cara feia pra mim é fome, senhor. — cutuca meu nariz e me puxa para frente — Vamos que temos que ver as roupas, a decoração, o convite... E muito mais. — saltitou e girou pela calçada vazia.

— Amor, esse chá de bebê no estás sendo muy cedo? Normalmente es despues dos setes meses, no? — pergunto, envolvendo meu braço direito em sua cintura, já larguinha por conta do aumento da barriga.