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Isadora
12.01.2020 | domingo

Que bagunça do caramba, velho.

É vestido pra lá, camisa pra cá. Sandália aqui, tênis lá. Acessórios de um lado, mala de outro.

Eu vou ficar completamente maluca com isso aqui.

Nunca pensei que uma mudança fosse render TANTA dor de cabeça. Tomara que isso não faça mal pro bebê.

E se a pergunta... Ou melhor, as perguntas são:

“Se mudar pra onde? Quem? Quando?”

Pra casa do Giorgian. Eu. Hoje.

Me convidou não tem nem um dia. E os argumentos dele de que já estávamos noivos e formando nossa família, foram o suficiente pra que eu dissesse sim na mesma hora.

Porra, eu tô noiva. Verdade. Maluco. Que coisa de doido.

Agora vou acordar todos os dias ao lado dele. Tomar café da manhã, almoçar e jantar todas as vezes. Aliás, nem todas, na verdade. O calendário de jogos da equipe pode dificultar um pouquinho. Mas só de poder ficar mais juntinha dele, com nossa cria, já estou feliz demais.

— Olha, eu como irmão podia muito bem mentir e dizer que estou feliz contigo indo embora daqui, deixando a casa toda só pra mim, um cômodo quase vazio pra eu montar meu espaço de gamer, parando de gritar nos meus ouvidos e deixando de dar sermão se achando a irmã mais velha. Mas porra, eu estaria mentindo pra caralho. — Rafael, pela primeira vez, deixou seu orgulho de lado e disse palavras bonitas que, incrivelmente, me confortaram — Pô, maninha. Cê tá ligada que é nós, né? Tu sabe que apesar de tudo, te amo pra caralho e tô aqui pra o que der e vier. Você sabe, né? — sua expressão estava tão triste, como não via há uns dez anos quando roubaram seu carrinho preferido.

— Eu sei, chatão. — disse o que ele mais queria ouvir — E eu vou sentir sua falta também, apesar de você ser insuportável. — essa foi a única vez que ele riu e não rebateu ao ser chamado pelo adjetivo por mim — Amo você, tá? — o abracei bem forte, e o mesmo a mim também. Senti seu carinho, coisa que não tive muita oportunidade ao longo da vida. Coisa de irmãos, sabe?

— Querida, vá com Deus. Te desejo tudo de bom, cê sabe também, né? — foi a vez da minha mãe, já estava manhosa também. Eu só concordei e também me aconcheguei em seus braços — O senhor trate de ser gentil com minha menina, hein? Ela deve ser tratada como uma princesa. — seu dedo apontou para a direção de meu noivo, que apenas concordou com cabeça — Eu amo você, minha Dora. — essas foram as palavras ditas por ela, que quase me fizeram chorar.

Era raro eu ouvir isso dela depois que eu virei adolescente. Muito raro.

Apesar sempre ter sido cuidadosa, amorosa e incrível comigo durante a minha vida toda, assim que passei dos quatorze anos ficou difícil de ouví-la dizer “eu te amo”. E eu sempre entendi isso. Mas eu sabia, que apesar dela não falar, dona Kátia me amava muito.

— Eu também amo você, mamãe. — sussurro em seu ouvido, com a voz embargada.

Tava parecendo que eu iria sair de casa por longos meses e ficaria sem vê-los. Eu basicamente vou morar há uns dez quilômetros de casa. Não é tão longe, mas também não tão perto. Posso vê-los quando eu quiser.

𝐌𝐘 𝐎𝐍𝐋𝐘 𝐎𝐍𝐄 | 𝐀𝐑𝐑𝐀𝐒𝐂𝐀𝐄𝐓𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora