Nosso Jardim

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Retornamos para casa, ao chegar próximo da residência do casal de senhores de mais cedo, minha mãe reencontrou sua amigas Azra Balik e Samen Balik, ambas ficaram emocionadas ao se verem, quando Samen olhou para mim, logo se recordou do restaurante.-Você é a menina da cadeira de ontem no restaurante?

-Sim. Eu estava marcada

-Você é filha da minha grande amiga Kiraz, que mundo pequeno, então vocês estavam lá! Vamos entrar e tomar um belo chá, vou apresentar meus filhos e meus sobrinhos.

Azra Balik, assim como minha mãe se casou com homem de outra etnia, no caso coreano, eles se conheceram SP no bairro Bom Retiro, namoram e casaram, os pais delas aceitaram bem o casamento. Eles têm três filhos, o mais velho tem onze anos e se chama Sun Balik, já as gêmeas Laura e Lara têm a minha idade. Sun tem a pele clara, olhos pretos bem puxados e cabelo liso com corte tigela, Laura e Lara cabelos compridos ondulados, bem magras e seu rosto parece com de uma boneca de porcelana. Eu e irmão nos encontramos com a turma de crianças da família Balik na sala, a residência era bastante bonita e elegante, como dos meus avós um lar tipicamente turco. Muito tapetes, muita cor, lustres e cerâmica,mas tudo harmonicamente combinados e luxuosos. Os Balik eram donos de grandes redes de hipermercados e de fazenda de produção de feijão e com fabricação própria no interior de SP, eles são muitíssimo ricos.

Todos vamos para sala tomar chá e café turco com Massara de noz,tâmara e pistache, enquanto os adultos conversam, as crianças trocam olhares, de menos Omer concentrado na conversa sobre colheita de feijão, o que mais tarde seria seu ofício, meu pai tentava entender,mas na realidade não entendia era nada. Todos fomos à frente da casa brincar, Asla,Sun e Marcelo ficaram amigos de imediato, assim como eu, Eda, Laura e Lara. Formamos o "Grupão", começamos a brincar pega-pega na rua, quando vimos já tinha uma galera, nesta época crianças ainda podiam brincar livremente. De um tempos pra cá tenho sentido cólicas abdominais, minha mãe disse que porque como muitas coisas geladas, mas essas dores é diferente, entro para casa do Balik e me sento na escada, observo um portão de madeira pintado de branco na lateral que dá entrada para fundo do quintal. Curiosa, resolvo entrar e ver o que tinha, adentrei tinha um corredor com coqueiros e gramas e outro portão ao fundo no mesmo formato do primeiro. Fiquei com medo de ter um cachorro,mas abri.

-Ah! Que lindo jardim. Era pequeno, mas deslumbrante. Bem ao fundo uma piscina coberta por vidros  em formato triangular, bem na frente dessa estrutura um jardim com diversos tipos de flores. No centro muitas roseiras trepadeiras amarela, rosa, branca e vermelha envolvendo um painel de madeira com pequeno banco. Na direita um canteiro com lavanda e violetas africanas, reconheceria de longe as flores preferidas do meu pai e minha avó paterna. No canto esquerdo um canteiro em formato de L cheio de Dálias, nas cores amarela,laranja,rosa e vermelha, nesta ordem, ao lado um tapete de grama e uma pequena cama dossel embaixo de uma árvore caneleira, não era pequena e nem muito grande.

Fecho os olhos e sinto cheiro e a brisa no meu rosto, quando sou surpreendida com uma voz.

-Gostou? Era Marcelo. Quase que caio novamente,mas dessa vez me equilibro em uma das estruturas da cama dossel.

-Você quer me matar do coração?

-O povo não deixa a gente ver um trem tão bonito, assim,sossegada.

-Trem? que trem?

-Esse, bem na sua frente.

-Ata, você e mineira, vocês se referem às coisas como trem, e começa a rir.

-Não estou achando graça nenhuma. Meu rosto está com o semblante fechado.

-Desculpa, mas vocês falam de maneira diferente e bastante engraçado.

-Até parece que sou palhaço, para fazer você rir. Falo baixinho.

-O que foi que disse?

-Nada. Dou as costas, mas ele segura por um dos meus braços.

-Desculpa, pode ficar. É lindo o jardim que meu avô Reis fez para minha avó Esra. Ele se chama o " nosso jardim". Eu amo vir aqui, você gostou?

-Gostei? Eu amei, imaginar que um homem fez esse jardim para sua amada, faz meu coração derreter que nem sorvete. Fico imaginando como D. Esra deve ter sentindo ao ver essa declaração de amor materializada por meio de flores, se fosse eu iria cair igual doce de leite da colher. Nossa! Sua avó deve ser apaixonadinha por esse homem, que trem bão! Se eu fosse  dona de um jardim feito pelo meu amado, iria ficar caidinha por ele. Quando me dei conta ele estava me encarando com lindo sorriso, percebi que falei demais, mas com passar dos anos  com ele era assim , me sentia à vontade para ser EU MESMA.

-Desculpa falei demais, prazer Dália.

-Prazer, Marcelo Balik. Foi assim que nos conhecemos no nosso jardim.

-Dália! Asla! E hora de ir, minha mãe grita.

-Foi um prazer, preciso ir. Minha mãe está chamando, tchau!

-Tchau!

Assim nos despedimos, em pleno verão do mês de Janeiro no domingo 02\01\2000 eu com dez anos e ele com doze anos.                                                                                                                              

Na virada do ano  de 1999 para 2000 eu estava BH vendo fogos de artifícios pelo quintal da casa da minha Tia, morrendo de medo  como uma teoria que mundo se acabaria, mas na realidade era somente especulações acerca da falha nos sistema de computação, " O bug do milênio", mas quem não acreditou que o mundo acabaria. Fiquei olhando para céu e animação de Juliana e meus primos João e Antônio (depois descobri onde Asla estava, escondido embaixo da cama do Antônio, esperando o mundo acabar. Ele implorou para contar para ninguém, minha carta na manga) pensando como seria meu marido ou talvez meu primeiro amor, porque Juliana sempre dizia que Antônio era seu amor,mas ele era cinco mais velho e ela minha idade,como poderia gostar daquele magrelo, de 180 alt., de óculos e careca, não tinha condições, mas ela afirmava que iria se casar com ele e ter 3 filhos. Nunca tido esse pensamentos, até conhecer Marcelo Balik.

Esse encontro vai marcar-los por todo a vida.


"Há encontros na vida em que a verdade e a simplicidade são os melhores artifício do mundo." Jean de la Bruyere


Dália pompom

Dália pompom

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