O Jardim do amor

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Narrador

O sol da tarde acariciava o Jardim da Dona Esra, banhando-o em uma luz dourada que realçava as cores vibrantes das flores recém-revigoradas. Observando cada detalhe com um sorriso de satisfação, Dália sentia um misto de orgulho e nostalgia.

Após algum tempo abandonado, o jardim, outrora um símbolo do amor do Senhor Reis Balik por sua esposa, Dona Esra, havia se tornado um refúgio melancólico. As flores, antes exuberantes e cheias de vida, murcharam sob o peso da tristeza. A piscina, outrora palco de risadas e brincadeiras, estava rachada e sem vida. O tempo implacável havia lançado sua sombra sobre este lugar mágico.

Mas Dália, movida por um profundo respeito pela memória da família Balik e por suas próprias memórias de infância naquele jardim, decidiu dar vida nova a este espaço. A jovem arquiteta, que se formou com louvor, dedicou cada gota de seu talento e paixão ao projeto de revitalização.

Trabalhando lado a lado com o experiente Senhor Mário jardineiro, Dália transformou o jardim em um verdadeiro oásis de beleza e harmonia. As flores, cuidadosamente revigoradas e novas plantadas com amor, desabrocharam em cores vibrantes, tecendo um tapete florido que cobria o solo. A piscina, restaurada e revitalizada com espaço gourmet moderno e sofisticado, brilhava sob o sol, convidando a um mergulho refrescante.

No espaço gourmet organizamos um almoço para receber a família e amigos para momentos de confraternização. Uma grande mesa de madeira, coberta por um toalha branca imaculada, era adornada por um arranjo floral exuberante. Ao redor, cadeiras confortáveis convidam a longas conversas e gargalhadas.

Mas a parte central do jardim, a alma que o conectava ao passado, era a Fonte Reis uma homenagem ao patriarca da Família Balik. Construída com cerâmicas turcas de cores vibrantes, a fonte era adornada com fotos da família Balik. Sua água cristalina, jorrando em um fluxo constante, simbolizava a força dos valores e da ética que sempre uniram essa família.

Dália observava a fonte com um sorriso melancólico. Era ali, naquele mesmo lugar, que ela havia conhecido seu grande amor, Marcelo Balik. As memórias da infância, dos momentos felizes passados com sua família e com ele, inundavam sua mente como um rio de saudade.

Ao seu lado, Natália, sua amiga inseparável, colocava os últimos toques na preparação do almoço. Saladas frescas, pães artesanais e pratos deliciosos, preparados com todo o carinho, aguardavam a chegada da família Balik.

Dália, Natália e o Senhor Mário se reuniram em torno da mesa, brindando à conclusão do projeto. O Jardim da Dona Esra havia ressurgido das cinzas, mais belo e vibrante do que nunca. Era um símbolo da resiliência do amor, da família e da memória, pronto para acolher novas gerações e perpetuar a história dos Balik.

Enquanto o sol anunciava a bela tarde, tingindo raios luminoso o céu azul , Dália sentia uma profunda paz em seu coração. O Jardim da Dona Esra não era apenas um lugar físico, mas um refúgio para a alma, um santuário onde as memórias se entrelaçavam com o presente e o futuro, onde o amor e a vida sempre floresceriam.

Algumas horas depois…

Dália Uçar

Com o coração batendo forte no peito, tomei os braços frágeis de Dona Esra e a conduzi pelo novo caminho que dava acesso ao jardim. Ao pisarmos no novo piso de pedra, seus olhos se arregalaram diante da visão que se descortinava à sua frente. Flores de todas as cores e formas, cuidadosamente escolhidas e plantadas com amor, desabrochavam em um espetáculo de beleza que a emocionou profundamente.

Dona Esra se aproximou hesitante de uma das roseiras, seus dedos delicados tocando as pétalas macias com reverência. Lágrimas brotaram em seus olhos enquanto ela se lembrava do marido, Senhor Reis Balik, que havia dedicado tanto tempo e carinho à criação daquele jardim. Era como se ele estivesse ali, presente naquele momento mágico.

Continuei guiando-a pelo jardim, revelando cada detalhe da transformação que havíamos realizado. Mostrei-lhe a nova área da piscina, agora aberta e integrada ao espaço gourmet, um convite para reuniões familiares e momentos de descontração. Ela ficou maravilhada com a forma como havíamos aproveitado o espaço limitado, criando um ambiente aconchegante e funcional.

- Dália, como você conseguiu fazer tudo isso?, ela perguntou, sua voz ainda carregada de emoção.

- Com um pouco de criatividade e reaproveitamento de espaços, respondi com um sorriso. A piscina fechada delimitava muito o jardim, por isso decidi abri-la e integrá-la à área gourmet. Acredito que os espaços devem ser utilizados de forma inteligente, para que possamos aproveitar ao máximo cada cantinho.
Dona Esra assentiu, com os olhos brilhando de admiração. 

- É incrível o que você conseguiu fazer, disse ela. Este lugar está ainda mais bonito do que eu me lembrava.

Mas a maior surpresa ainda estava por vir. Conduzi-a até a fonte que havíamos construído no centro do jardim, coberta por um pano preto. A família Balik se reuniu ao nosso redor, seus rostos cheios de expectativa.

- Esta fonte é uma homenagem ao Senhor Reis Balik, expliquei, com a voz embargada pela emoção. Ele deixou um legado de amor, ética e respeito que jamais será esquecido por todos nós.

Com um gesto solene, puxei o pano, revelando a fonte em toda sua beleza. A água cristalina jorrava em um fluxo constante, como um símbolo da vida que continuava a florescer naquele lugar. Fotos do Senhor Reis Balik adornavam a base da fonte, relembrando-os dos momentos felizes que ele havia compartilhado com a família e amigos.

Um silêncio tomou conta do jardim enquanto a família Balik observava a fonte, cada um perdido em suas próprias memórias. Lágrimas brotaram em seus olhos enquanto se lembravam do patriarca que tanto os amava.

Afastei-me discretamente, respeitando o momento de profunda emoção que viviam. Observava-os à distância, com o coração transbordando de felicidade por ter proporcionado aquele momento tão especial para eles. O Jardim da Dona Esra havia renascido, não apenas como um espaço físico, mas como um símbolo de amor, memória e união familiar.

Naquele dia, tive a certeza de que o meu trabalho como arquiteta era algo muito mais do que apenas projetar e construir espaços. Era sobre criar experiências, resgatar memórias e tocar a vida das pessoas de forma profunda e significativa. E naquele momento, eu havia tocado o coração da família Balik de uma forma que jamais esqueceriam.

DáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora