Dália

Nos meus pensamentos só dá você

Marcelo Balik

O aroma de café fresco permeava a sala de reuniões, entrelaçando-se com o nervosismo que percorria meu corpo. Sentado à cabeceira da mesa, observava os representantes da rede de hipermercados apresentarem os produtos com entusiasmo contagiante. Seus sorrisos e gráficos coloridos, no entanto, não conseguiam penetrar na névoa que envolvia meus pensamentos.

O final do ano passado foi o melhor da minha vida, Dália e eu havíamos nos reencontrado após anos de saudade. A conversa fluiu como um rio caudaloso, carregando consigo lembranças e sonhos compartilhados. Na ilha, sob o luar prateado, nossos corpos se uniram em uma dança sensual, reacendendo a chama da paixão que jamais se apagará.

Enquanto os representantes discorriam sobre promoções e estratégias de marketing, meus dedos traçavam o contorno dos seios de Dália em minha memória. Seus lábios carnudos e úmidos, o perfume doce e inebriante, a textura macia de sua pele... Cada detalhe daquela tarde na ilha se estampava em minha mente com vívida intensidade.

De repente, a voz firme de minha mãe, Samen Balik, cortou meu devaneio como um raio de sol rasgando a névoa.

- Marcelo, você está conosco?

Sentia minhas bochechas corarem de constrangimento. Os olhares curiosos dos representantes se fixaram em mim.

- Sim, mãe, claro, murmurei tentando disfarçar meu embaraço.

Samen, com seus olhos verdes penetrantes que nada escapavam, lançou-me um olhar severo.

- Parece que seus pensamentos estão em outro lugar, filho, disse ela, com um tom de reprovação na voz.

Após a reunião, enquanto os representantes se retiravam da sala, minha mãe me deteve com um gesto imperioso.

- Preciso falar com você, disse ela, com a voz grave.

Sentia meu coração bater forte no peito. Sabia que ela havia percebido meu estado de distração e que, como sempre, sua percepção era aguçada.

- Marcelo, você não estava prestando atenção na reunião, disse ela, com um tom de reprimenda. Isso é inaceitável.

- Eu me desculpo, mãe, respondi, cabisbaixo. É que... eu estava pensando em Dália.

Um sorriso compreensivo surgiu nos lábios da minha mãe. Ela sabia do amor que eu sentia por Dália, um sentimento que nutria desde a juventude.

- Então você a encontrou? perguntou ela, com um brilho de esperança nos olhos.

- Sim, mãe, respondi, com a voz carregada de emoção. E foi ainda mais maravilhoso do que eu imaginava.

Samen me fitou por um instante, como se ponderasse algo em sua mente.

- Então eu acho que devo sair mais cedo hoje, disse ela, com um sorriso enigmático. Tenho algo a fazer.

Agradeci minha mãe por sua compreensão e, assim que ela se retirou, deixei o escritório com o coração leve. A perspectiva de encontrar Dália novamente me enchia de alegria e expectativa.

No caminho para casa, parei no supermercado e comprei os ingredientes para preparar um jantar turco para minha amada. Sabia que ela apreciaria a culinária do país natal de nossas famílias, um gesto que expressaria meu amor e carinho.

Enquanto cozinhava, meus pensamentos voavam para Dália. Imaginava seu rosto radiante quando me visse, seus olhos brilhando de felicidade. A cada minuto que passava, a ansiedade aumentava, intensificando a paixão que ardia em meu coração.

Finalmente, a campainha tocou. Era Dália, ainda mais linda do que eu a lembrava. Seus olhos se iluminaram quando me viu, e um sorriso radiante se formou em seus lábios.

Naquele momento, todas as distrações, preocupações e pensamentos fugazes se dissiparam. Só existia Dália, eu e a promessa de uma noite mágica, regada a amor, saudade e a deliciosa culinária turca.