Dália

Meu bebê!

Kiraz Uçar

Estou aqui em casa aguardando o horário para ir para o escritório. Resolvo tomar um café delicioso que minha filha trouxe de Minas Gerais. Me recordo dos momentos maravilhosos que vive naquele estado. Saudades de uma pessoa específica. Francisco Mbappé porque me deixou. Nunca amei outra pessoa, prefiro ficar sozinha do que imaginar o meu coração amando outra pessoa.

- Meu deus de ébano, amor da minha vida. Será que você encontrou uma nova mulher?

Desse que Dália me disse que precisamos conversar sobre seu pai, fico pensando que talvez tenha refeito sua vida com outra pessoa. Isso iria me destruir, não sei o que seria do meu coração. Fico olhando pela janela da sala, me lembrando o quanto era feliz com meu Chiquinho, meu amor.

- Mãe, está me ouvindo? Asla grita. Saio do transe

- Meu filho e minha nora que visita maravilhosa! Ainda trouxe meu futuro genro. Aperto as bochechas de Marcelo.

- Mãe, onde está minha irmã?

- Se você veio brigar com ela, perdeu a caminhada, porque foi para Maresias, surgiu algo urgente no trabalho.

- Mãe, por acaso lhe contou que meu pai teve câncer cerebral?

- O que? Da onde tirou isso, Asla?

Neste momento meu coração fica apertado, não consigo controlar as lágrimas.

- D. Kiraz, conversei com ela hoje de manhã, disse que assim que chegaram em BH há nove anos atrás descobriram um tumor, que essa doença causou a suas separação. Marcelo diz.

- Ela me disse que precisava conversar sobre seu pai, mas acreditei que ele iria se casar novamente. Não, eu.... choro me toma.

- Calma, sogra! Liga para Dália.

- Não, vou para Maresias. Preciso conversar pessoalmente.

- Mãe, não tem condições de dirigir. Asla me segura.

- Me leva agora. Arruma um jeito de levar-me até sua irmã. Vou subir para arrumar algumas roupas.

Subo os degraus em prantos. O que realmente aconteceu com meu marido.

Retorno a sala, Asla, Eda e Marcelo conseguiram uma Van executiva com Mariano.

- Os meninos também vão com a gente, mamãe. Asla me informa.

- Sim. Só que esclarecer essa história com sua irmã, meu filho.

E assim partimos para Maresias. Durante o percurso liguei várias vezes para minha filha, mas não atendia. Quando chegamos na cidade depois de 5 horas de viagem, estava movimentando o centro de Maresias. Final de ano, véspera de virada de ano. Paramos a Van, novamente liguei para Dália, dessa vez sua amiga Carol, atendeu. Escuto som de música, ela informa o local onde estão. Ao chegar vejo minha filha na pista de dança do bar, está cantando e dançando, percebo o sofrimento expressado no seu corpo. Chegamos próximo a ela e percebo que está alcoolizada. Grito nervosa, porque nunca bebeu. Está fora de si, começa a falar coisas que não compreende, até que ela fala.

"Eu deveria ter morrido naquela noite. Seria melhor para todos. Eu não sou nada, eles tinham razão, pessoas como eu devem morrer."

Meu coração dispara, fico perdida sem entender essa frase. Asla pega no colo e saímos direto para nossa casa em Maresias. Liguei para a Senhora Ana Lúcia que cuida da residência juntamente com seu marido Paulo durante a viagem. Chegamos, deixamos Dália no seu quarto, desço e exijo que as amigas me conte o porquê dessa frase.

Carol fica resistente, mas Natália por estar envolvida relata tudo que aconteceu. Ouvir cada parte desse horror, faz passar um filme em minha mente. Vejo as cenas de quando estava grávida, ela criança, na adolescência e de como se tornou uma mulher. Fico séria, não consigo chorar. As meninas queriam ir embora, mas falo para dormirem com a gente.

Vou para o quarto de minha filha, olho e imagino bem pequena, quando ainda dormia no meus braços. Me deito e a abraço, neste momento desabei a chorar. Porque fizeram isso com meu bebê. Durmo com ela nos meus braços. Sonhei quando a ninava para dormir. Minha linda Dália. Acordo já está amanhecendo. Fico sentada, olhando o mar. Eu não vou deixar meu bebê sofrer mais. Vou esperar ela acordar. Quero saber de tudo, não vai me esconder mais nada.