Asla Uçar
Não consegui dormir. Eda apagou, a residência como neurocirurgião é bastante cansativo. Desço para cozinha para beber água, encontro Marcelo, Sun, Eurico e Mariano acordados.
- Não conseguiram dormir. Pergunto.
- Quem conseguiria dormir, depois dessa história. Sun diz.
- O pior disso, e saber que tem mais. Eurico fala.
Pego um copo de água e me sento na mesa.
- Durante esse tempo fiquei imaginando que eles estão felizes, vivendo em Belo Horizonte, nunca pensei que isso estava acontecendo . Mariano fala.
- Eu tenho lembranças de quando segurei minha irmã pela primeira vez, quando nasceu. Era a coisa mais linda que já tinha visto. Toda cabeluda, morena e gordinha. Nunca sofre o que ela vivência desse de pequena. Eu falo.
- Mas o que aconteceu foi um crime, eles saíram impune. Marcelo comenta.
- Ouvir minha irmã dizer que essas pessoas afirmaram que não deveria viver, me faz sofrer tanto. Eu a amo tanto, nunca me deixou sozinho, sempre esteve comigo. Quando era criança sempre tive medo de trovão, ia para meu quarto para dormir comigo, pois queria me proteger. Uma vez na escola, ela bateu no meu primo porque me empurrou, lela ficou uma fera. Minha mãe a xingou tanto. Quando retornei de Nova York no aeroporto, meus pais estavam sem acreditar no tamanho do meu cabelo, ela sorriu enquanto caminhava em minha direção para me abraçar. Começo a chorar. Todos ficam em silêncio.
- Vocês estão aqui. Lara fala. Eda e Laura também estão acordadas. Elas sentam junto com todos.
- Fico tentando imaginar, mas não sei o pensar. Laura coloca a cabeça no ombro de Enrico.
- Não sabemos porque não vivemos, a situação de todos nesta mesa é mesma, nunca aconteceu comigo ou com vocês, por isso, nós achamos superiores a Dália e a julgamos durante nove anos. Lara se levanta.
- E verdade, nunca me coloquei no lugar dela. Sempre que passava por situações de racismo, preconceito ou agressão, sempre coloquei a culpa nela, por não ter ficado calada, o porque não deveria ter respondido, mas nunca julguei quem fez, não é? Eu pergunto a Lara.
- Exatamente. Temos o maldito hábito de culpar a vítima. Nunca o agressor. Ela me responde.
- Dália sempre enfrentou tudo sozinha, porque não falava. Eu iria protege-la. Marcelo diz.
- Será, irmão? Sun indaga.
- Por quê está me perguntando isso? Marcelo retruca.
- Quantas vezes vimos, Dália na época da escola sofrer bullying? Eu me recordo de diversas, NUNCA FIZEMOS NADA, por medo de se expor e a julgamos quando reagia com agressividade. Essa é a verdade!
- É verdade. Eda concorda.
- Por isso não sabemos das dores que carrega, a dor é algo individual e intransferível. Esteve sempre sozinha neste processo. Fico triste porque poderia ter sido um suporte, mas infelizmente fiquei chateada com as decisões de uma garota de 18 anos que estava passando por perdas em sua vida, mesmo com todo esse conhecimento nunca pensei assim, depois de ouvir e refletir na história conseguir entender minha amiga. Lara Completa.
-Resumindo, também fizemos parte de ciclo. Mariano fala.
- Amor, primeira vez que diz algo coerente.
Todos riem, mas logo a tristeza resplandece em nossos rostos. Marcelo está bastante abalado, está totalmente destruído como eu.
- Acho melhor tentarmos dormir, amanhã vai ser tenso. Digo
Todos vamos dormir. Fico deitado na cama me lembrando da infância ao lado da minha florzinha, porque realmente parecia uma dália, meu pai escolheu o nome certo. Perde nove anos afogado em mágoas contra meu pai e minha irmã, sem saber que quase os perde. Choro sem minha esposa perceber.
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Dália
RomanceDália, uma flor diferenciada entre tantas flores, mas que carrega em seu coração um amor por seu vizinho e amigo Marcelo, entre desencontros, reencontros, desilusão, perdas e amizades, podemos ter certeza que AMOR irá vencer.💌💌💌💌💗💗💗