Desistir, para recomeçar

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22 de Agosto 2005

Estou nervosa sentada no vestiário, o treinador olha para mim e diz:

-Respira fundo, você é a sua única oponente. Vamos lá.

Caminho pelo corredor, quando escuto barulhos do ginásio. Estou nervosa,mas respiro fundo, não posso perder dessa vez. Ao entrar estou focada em mim, vejo como foi minha caminhada até aqui, chego ao tatame e vejo minha adversário, tenho sensação de déjà vu, mas preciso ficar focada, dessa vez não vou ser ansiosa. Escuto algumas pessoas chamando meu nome, mas não olho. Minha adversária Keiko Tanaka, ela é campeã estadual e nacional juvenil do ano passado, perde para ela ano passado nas quarta de finais. Estou com kimono azul e ela o branco, logo o árbitro nos chama ao centro, nos cumprimentamos e dá início a luta. Ela vem para cima e segura a gola do kimono, dessa vez preciso ser esperta, ela tenta segurar minhas pernas para,mas consigo desviar. Seguro ela pela gola de tento girá-la sobre meu ombro, mas ela se desvia, continuamos nesse segura e puxa até sair para fora, o árbitro manda voltar ao centro do tatame. Respiro fundo, iniciamos a luta novamente, ambas seguramos os braços uma da outra, quando ela tenta segurar o kimono pela gola na altura do ombro, neste exato momento seguro braços dela, virou de costa para seu corpo e aplicar "ippon"  ela caí sobre tatame, me levanto, tive a certeza que era campeã do estadual, vence a melhor. Respirei fundo e aguardei, ela se levanta e árbitro indica minha vitória. Seguro minhas mãos e solto um grito, para todos que nunca acreditaram em por ser um corpo gordo, seria capaz de vencer!

Não espero por ninguém vou direto para vestiário. Vou para chuveiro com água caindo sobre minha cabeça, me lembro que falta um mês para meu aniversário, meu pai disse que nasce 22 de setembro de 1990 inicio da primavera, me agacho, minha decisão está tomada. Essa foi minha última luta! Saio do chuveiro visto uniforme da equipe, escuto o anúncio da entrega das medalhas. Um filme passa em minha mente, desse do momento que comecei a compreender que eu era mais do que um corpo rechonchudo, que eu era mais do a cor da minha pele, e que eu mereço ser amada e respeitada por mim e não pelo meu biotipo, EU SOU MAIS QUE ISSO, EU SOU DÁLIA UÇAR. Dobro meu kimono e o amarro com faixa dando um laço. Agradeço ao judô pela pessoa que me transformei, quando aos 9 anos meu professor me disse que o judô não era uma luta,mas sim, uma arte,  essa que mudou minha forma de pensar sobre mim e sobre o mundo. Fez amigos, aprende que a vida deve ser disciplinada, aprende sobre agilidade, flexibilidade, lealdade, força, autocontrole e sobre o amor. Quatro letras, mas com uma força, quando estamos no tatame precisamos ter agilidade e precisão de DECIDIR o momento certo de atacar e não perder a oportunidade, porque a vida é cheia delas, mas a perdemos por dúvida e o medo de entregar, o AMOR É UMA DECISÃO, por amor a mim decidir encerrar minha carreira no judô.

Me ergo pego meu kimono coloco ele sobre meu peito e saio do vestiário, o treinador e a equipe vem em minha direção, mas não olho para ninguém, sigo pelo corredor firme até o tatame, o pódio está montado o locutor anuncia o terceiro lugar, em seguida o segundo lugar e por fim meu nome é chamado, Subo no lugar mais alto com orgulho de mim, me recordo de quantas vez chorei sozinha, de tudo que ouve, olhares de recusa e reprovação, quantas vezes precisei engolir minha vontade explodir e quantas vezes eu perde, então esse momento e somente MEU de mais ninguém. Não largo meu kimono, recebo minha medalha e flores de dálias amarelas, elas no México simbolizam RECOMEÇO, meus olhos se enchem de lágrimas,mas eu não vou chorar. O hino nacional toca, ao terminar chamo as demais atletas para primeiro lugar, tiramos a foto. Quando elas saem em direção aos seus treinadores, continuo contemplando o ginásio, desço, coloco meu kimono no meu lugar no pódio, caminho para centro do tatame, me abaixo e o beijo, as lágrimas caem e o medalha toca o chão, assim encerro aqui minha trajetória. Me levanto e caminho pela última vez, passo pelo meu treinador e sinto que ele sabe o que vai acontecer, vou para o vestiário. Visto minha calça jeans, meu tênis preto, minha blusa branca e minha jaqueta, soltou meus cachos, coloco meus brincos perolados, jogo minha bolsa nos ombros, quando me viro Lais está me observando, ela pergunta:

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