72. Sonho Lúcido

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O sono abraçou Grace. Embrenhada entre os lençóis, perdeu-se num véu de sonhos enigmáticos em mundos desconhecidos. Nenhum deles seria recordado posteriormente, exceto um, o mais real de todos.

Alex se levantou, deixando a garota dormir serena e foi pro banheiro pra tomar banho. O suor secava no corpo. Encheu a tina com a água que vinha de um simples e primitivo sistema de encanamento, exposto aos cantos. Não se importou por estar gelada e não queria se dar ao trabalho de esquentar com a chama da fornalha. Entrou no barril de imersão e dedicou os minutos seguintes em se lavar. A pele das costas ardeu e ele imaginou que estivesse bastante arranhado pelas unhas da Dark One.

Ao terminar, se enxugou e vestiu. Apanhou a adaga e a guardou consigo, debaixo do cinto da calça. Imaginou que Grace fosse acordar faminta e o dia estava pra nascer em poucas horas. Deixou-a adormecida e desceu pro piso térreo, com propósito de conseguir algum café da manhã pra ela.

(...)

O aroma de incenso de mirra saturava o ar, misturando-se aos perfumes noturnos e sombrios de algo desconhecido, algo nunca antes descoberto. Era o prelúdio de um sonho. Grace se espreguiçou sobre a região aveludada que previu ser a cama do bar hospedaria. Contudo, ao abrir os olhos, não foi isso o que encontrou. Olhou ao redor, confusa. Acordou num quarto incomum.

Levantou-se num sobressalto, quase tropeçando. Olhou pra baixo por instinto, para ver onde seus pés com salto enroscaram. Se não bastasse o ambiente novo, também trajava uma roupa diferente. Era um vestido branco e dourado, feito de tule por completo. Leve, a saia se compunha em inúmeros níveis, criando um efeito rodado e cheio até o chão. Transparente e delicado, acinturava o corpo com elegância.

Os cabelos estavam presos. E então ela se deu a chance de vislumbrar o quarto. O queixo caiu. Indescritível, luxuoso, rico em minuciosos desenhos no estilo gótico entalhados em mínimos espaços. Era inteiramente de madeira-avermelhada, no mesmo conjunto de tonalidade. A decoração se aglomerava subindo para o teto, que não era tão alto. Inclusive, apesar da suntuosidade, o cômodo não era grande. A cama tinha cortinas pesadas. Um lustre gigantesco de ouro pendia com velas. Acesas, banhavam as paredes de pinturas clássicas numa iluminação combinativa com a cor quente.

Ao lado da cama, havia uma penteadeira com espelho. Olhou-se, e viu algo que não tinha notado. Uma máscara prendia no seu rosto. Era branca e se uniam ao nariz e testa, emoldurando os olhos.

Perguntou-se o porquê da máscara, o quarto, o vestido, sentindo-se pequena num lugar tão magistral. Girou ao redor de si, chegando a ficar tonta com a visão dos adornos enchendo a região. Respirou o cheiro penetrante e concluiu que só podia estar dentro de um sonho. Sorriu maravilhada quando ouviu algo, que a fez se sentir num conto de fadas, mas dessa vez um conto de fadas bom. Era uma valsa, ecoando de algum outro local. As notas dos violinos e piano vinham castos e puros num ressonar agradável.

Seguiu para a porta, que assim como toda a área, também era cravada de gravuras. Abriu e se viu num corredor. A madeira desapareceu, substituída pelo gesso pálido e liso. Como era noite, a única claridade disponível vinha das luminárias penduradas. O teto era abobadado, encurvado pra cima, semelhante ao teto arredondado das igrejas.

Grace olhava ao redor, fascinada. Caminhou devagar seguindo a música. Curiosa, deu uma olhada nas janelas. Era o alto de uma montanha. A aurora escura a impedia de ver a altura, mas aparentemente aquele palácio estava situado no topo de uma colina. As nuvens perambulavam lentas pelos céus arroxeados, cobrindo a Lua.

Continuou a caminhar. A valsa aumentava de volume, anunciando que estava perto. Virou a esquina do corredor, surgindo finalmente na fonte da canção. O coração dela parou por alguns segundos. Estava na entrada de um salão, onde acontecia um baile de máscaras. Assim como o corredor anterior, esse se assimilava ao interior de uma catedral. Ao centro, haviam várias pessoas valsando. As mulheres usavam vestidos exuberantes e coloridos, e os homens de fraque as conduziam na dança. Desconhecidos, cada um deles tinha uma máscara diferente, inúmeros figurantes naquele espetáculo. Pareciam imagens rabiscadas num quadro.

Dark Paradise || Peter Pan • OUATOnde histórias criam vida. Descubra agora