36. Noite em Nova Iork

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O som vibrante das sirenes invadiam a mente de Grace enquanto a tristeza a sufocava. Foi afastada do apartamento, mas não via nada, visões vagas se misturavam em câmera lenta.

Alex estava morto.

A imagem de Peter o esfaqueando se repetia na cabeça dela em flashes constantes. A veracidade dos fatos despencava sobre sua percepção, a clareza dos movimentos e da violência da cena retornava como um filme. O rosto pálido de Alex se estampava frente aos seus olhos.

Sentia a mão de Peter segurando firme seu braço, guiando entre sombras e vultos. Estava presa numa hipnose torturante onde tudo o que discernia era Alex morrendo.

- Grace! - ouviu alguém gritar. - Grace! Acorda! - um tapa sutil ardeu no rosto e ela piscou os olhos confusa.

Sua vista focou Peter, estavam do lado de fora do prédio. Ela foi levada por ele e não percebeu. Um cheiro acre se fez presente e a garota se viu num beco sem saída cheio de sacos de lixo. O prédio ficou pra trás junto com as rajadas de luzes vermelhas da viatura. O barulho da sirene parecia ressonar de dentro de um sonho.

Peter estava prestes a dar outro tapa suave no rosto dela para despertá-la, mas ela o afastou antes. Ele recebeu o empurrão no peito com a mesma expressão de surpresa. Os ferimentos no rosto dele pareciam piores no escuro.

- O que aconteceu?? Entrou num transe??

O ar falhou e ela lutou contra a vontade de chorar.

- Você... você matou o.... o Alex...

Ele franziu o cenho.

- Ele não me deu outra opção! Olha o que ele fez com a porra da minha cara! - respondeu revoltado apontando pra si mesmo.

- Eu não devia ter acertado o castiçal na cabeça dele... Devia ter deixado ele te espancar até a morte!

Peter forçou uma risada nervosa e seu rosto inteiro doeu. Mesmo assim, segurou o sorriso.

- Sério, Grace??

- Sério... - respondeu, com a voz baixa e inerte.

- Você perdeu o juízo... Você viu o que ele fez comigo. Não bastou me socar, ainda quebrou o vidro de pó de fada... - a voz do menino fraquejou. - Meu único meio de voltar pra casa... foi destruído.

Grace ficou calada, olhando para o outro com aversão. O demônio abriu o zíper da blusa e a arrancou. Jogou o casaco nos ombros dela.

- Melhor vestir isso. Você tá com os peitos de fora, não sei se percebeu.

Ela enfiou os braços nas mangas de maneira robótica, e Peter fechou o zíper do casaco sobre o corpo dela.

- Agora vamos logo antes que a polícia venha vasculhar os arredores. - ele apressou e deu alguns passos. - Vem, Grace!

- Não vou. - disse finalmente, com a voz dura. - Não vou com você para lugar nenhum... Eu vou me entregar.

- Que?!

- Isso mesmo que ouviu. Vou até a polícia, vou dizer que matei meu pai no hospital. Acho que a prisão é o único lugar que você não pode me alcançar, e quem sabe assim eu tenho paz.

Dito isso, Grace começou a caminhar pelo beco, de volta pra onde ficava o prédio. Com os pés descalços, de mini saia, e a blusa de Peter, mais parecia uma garota de rua, sem rumo, demonstrando-se totalmente desistente. Peter a acompanhou com o olhar, com a vontade descontrolada de puxá-la pelo cabelo.

- Volta aqui, peste! - exclamou furioso, apressando-se até ela.

Segurou-a e puxou. Grace reagiu, empurrou com um movimento brusco dos braços. Encarou fuzilante, com toda a raiva próxima de explodir. Ficou tão irada que não se importou em machucá-lo, impulsivamente o atacou numa sequência de tapas. Peter gemeu e se encolheu, protegendo a cabeça. Sentia as costelas doendo a cada vez que a menina desferia bofetadas.

Dark Paradise || Peter Pan • OUATOnde histórias criam vida. Descubra agora