O som vibrante das sirenes invadiam a mente de Grace enquanto a tristeza a sufocava. Foi afastada do apartamento, mas não via nada, visões vagas se misturavam em câmera lenta.
Alex estava morto.
A imagem de Peter o esfaqueando se repetia na cabeça dela em flashes constantes. A veracidade dos fatos despencava sobre sua percepção, a clareza dos movimentos e da violência da cena retornava como um filme. O rosto pálido de Alex se estampava frente aos seus olhos.
Sentia a mão de Peter segurando firme seu braço, guiando entre sombras e vultos. Estava presa numa hipnose torturante onde tudo o que discernia era Alex morrendo.
- Grace! - ouviu alguém gritar. - Grace! Acorda! - um tapa sutil ardeu no rosto e ela piscou os olhos confusa.
Sua vista focou Peter, estavam do lado de fora do prédio. Ela foi levada por ele e não percebeu. Um cheiro acre se fez presente e a garota se viu num beco sem saída cheio de sacos de lixo. O prédio ficou pra trás junto com as rajadas de luzes vermelhas da viatura. O barulho da sirene parecia ressonar de dentro de um sonho.
Peter estava prestes a dar outro tapa suave no rosto dela para despertá-la, mas ela o afastou antes. Ele recebeu o empurrão no peito com a mesma expressão de surpresa. Os ferimentos no rosto dele pareciam piores no escuro.
- O que aconteceu?? Entrou num transe??
O ar falhou e ela lutou contra a vontade de chorar.
- Você... você matou o.... o Alex...
Ele franziu o cenho.
- Ele não me deu outra opção! Olha o que ele fez com a porra da minha cara! - respondeu revoltado apontando pra si mesmo.
- Eu não devia ter acertado o castiçal na cabeça dele... Devia ter deixado ele te espancar até a morte!
Peter forçou uma risada nervosa e seu rosto inteiro doeu. Mesmo assim, segurou o sorriso.
- Sério, Grace??
- Sério... - respondeu, com a voz baixa e inerte.
- Você perdeu o juízo... Você viu o que ele fez comigo. Não bastou me socar, ainda quebrou o vidro de pó de fada... - a voz do menino fraquejou. - Meu único meio de voltar pra casa... foi destruído.
Grace ficou calada, olhando para o outro com aversão. O demônio abriu o zíper da blusa e a arrancou. Jogou o casaco nos ombros dela.
- Melhor vestir isso. Você tá com os peitos de fora, não sei se percebeu.
Ela enfiou os braços nas mangas de maneira robótica, e Peter fechou o zíper do casaco sobre o corpo dela.
- Agora vamos logo antes que a polícia venha vasculhar os arredores. - ele apressou e deu alguns passos. - Vem, Grace!
- Não vou. - disse finalmente, com a voz dura. - Não vou com você para lugar nenhum... Eu vou me entregar.
- Que?!
- Isso mesmo que ouviu. Vou até a polícia, vou dizer que matei meu pai no hospital. Acho que a prisão é o único lugar que você não pode me alcançar, e quem sabe assim eu tenho paz.
Dito isso, Grace começou a caminhar pelo beco, de volta pra onde ficava o prédio. Com os pés descalços, de mini saia, e a blusa de Peter, mais parecia uma garota de rua, sem rumo, demonstrando-se totalmente desistente. Peter a acompanhou com o olhar, com a vontade descontrolada de puxá-la pelo cabelo.
- Volta aqui, peste! - exclamou furioso, apressando-se até ela.
Segurou-a e puxou. Grace reagiu, empurrou com um movimento brusco dos braços. Encarou fuzilante, com toda a raiva próxima de explodir. Ficou tão irada que não se importou em machucá-lo, impulsivamente o atacou numa sequência de tapas. Peter gemeu e se encolheu, protegendo a cabeça. Sentia as costelas doendo a cada vez que a menina desferia bofetadas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dark Paradise || Peter Pan • OUAT
Fiksi PenggemarDARK/TABOO ROMANCE +18 Grace é uma garota perturbada, abusada pelo pai, procurando desesperadamente alguma válvula de escape. Em seus sonhos ela encontra refúgio, conseguindo ter acesso ao estranho paraíso de Neverland, onde vive um solitário garoto...