3. Árvore de Pensar

6.6K 504 577
                                    

A dormência da tentativa de suicídio se rastejava pelos músculos de Grace.

Deitada, demorou alguns minutos para abrir os olhos. Piscou várias vezes e após a vista desembaçar viu o céu noturno, estrelado com alguns cintilantes pontos que não são da nossa constelação. A grama úmida pinicava nas costas. Sentou-se, juntando suas forças.

Onde estava? Era Neverland?? Era Neverland! "Espera! Eu... eu consegui??"

Colocou-se de pé, apressada e ansiosa. Olhou ao redor. Era real, não era sonho! Mal podia acreditar! E para a sua surpresa, a anterior névoa dissipara da terra mágica. O lugar parecia mais bonito do que quando visitou em sonho, como se tivesse se curado.

- Peter Pan! - gritou eufórica.

Seu berro ressonou pela clareira ao centro da mata selvagem, cercada de árvores altas e matagal carregado de musgo. A voz ecoou pela ilha silenciosa, fazendo alguns pássaros voarem. Grace riu sozinha provando da pura felicidade, do tipo que nunca teve a chance de sentir.

Estava longe de casa, longe de seu pai horrível. Isso era motivo o bastante para o coração dar saltos de alegria. Começou a caminhar pela floresta, apreciando sua recente liberdade.

- Peter Pan! Eu consegui! Onde você tá? - chamou, esperando que fosse atendida.

Infelizmente essa animação não durou muito tempo. Logo ela se viu cansada de caminhar. Não encontrava nada além de plantas tropicais, arbustos gigantescos e árvores fantasmagóricas. As raízes se enroscavam nos pés e os pios de coruja assustavam.

- Peter... não tem graça, estou começando a cansar!

Uma risada estranha soou entre os troncos. Grace parou de andar, espantada. A risada aumentou de tom, vindo de todos os lados. Foi então que ela se deu conta que Peter se divertia com sua busca.

- Por que você tá fazendo isso? - indagou pro vazio. Não houveram respostas, apenas risadas que a deixaram irritada.

Seguiu emburrada e chegou à um penhasco que surgiu repentino. Ela parou antes de quase cair no abismo. A altura era imensa, com uma extraordinária vista do mar e da ilha. O vento agitou os cabelos escuros e esfriou na boca do estômago, acompanhado de uma adrenalina descomedida.

E então surgiu o travesso garoto que não queria crescer. O insolente gritou um intenso cacarejar de galo, que veio de sua garganta de eterna sonoridade juvenil, e pulou na frente de Grace. "Caiu" seja lá de onde for.

- Surpresa!

Grace gritou também em resposta. Pulou pra trás e caiu sentada na terra seca, por pouco não despencou pro barranco.

- Seu louco, você me assustou!

Peter riu debochado e colocou as mãos na própria cintura magra enquanto a observava se levantar sozinha.

- Não resisti a brincadeira.

- Brincadeira esquisita... - bufou, dando batidas suaves na própria calça. - Finalmente você apareceu... Eu andei muito pela floresta, me perdi, tô exausta!

- Cadê o senso de aventura? Engraçado, pensei ter ouvido você dando risadas e se divertindo! Venha comigo, vou te mostrar algo. - explicou se adiantando pra perto do penhasco, olhando pra paisagem. Acenou com a mão para que Grace se aproximasse e se sentou sobre uma rocha rente ao precipício.

Grace parou ao lado de Peter e fitou ao horizonte também.

- Vê as estrelas surgindo, o mar se movendo? Sente o cheiro de terra e frutos? Vê a luz da Lua? Há poucas horas não tinha nada. Tava tudo coberto de neblina... Algo mudou. Algo tá trazendo a magia de volta pra ilha.

Dark Paradise || Peter Pan • OUATOnde histórias criam vida. Descubra agora